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Papo de Esporte

21/10/2003

Artigo: Florida e Corrientes

ALEC DUARTE
Colunista da Folha Online

À primeira vista, parece uma miragem. Numa das esquinas mais movimentadas de Buenos Aires, um quadro pendurado na parede de uma lanchonete chama a atenção. Não por acaso: trata-se de Pelé, vestido com a camisa da seleção brasileira e tudo.

O senso comum insiste em propagar que os argentinos, de forma geral, desdenham tudo o que é brasileiro. Até a inquestionável supremacia do jogador que transformou nosso futebol num produto de exportação.

Não é exatamente verdade. A pintura de Pelé na Burger King do centro da capital argentina dá a resposta definitiva. Ou será que você já viu um pôster de Maradona em algum estabelecimento brasileiro? Eu vi: em dois restaurantes tipicamente argentinos de São Paulo. Pura decoração.

Claro, a Burger King é uma multinacional norte-americana, e talvez Pelé esteja ali porque os proprietários acreditem que a capital brasileira é Buenos Aires. Note, porém, que estou destacando a ausência de reprovação e desconforto entre a população local.

Desinformação e folclore cercam essa suposta aversão dos vizinhos às nossas coisas. O auge ocorreu na Copa do Mundo de 2002, quando Brasil e Inglaterra jogaram pelas quartas-de-final.

A imagem que os correspondentes internacionais passaram ao mundo na ocasião do confronto foi totalmente falsa. Instalados nos aristocráticos bairros de Recoleta e Palermo, eles relataram um forte sentimento pró-britânico.

Nada mais irreal. É como ir ao Rio de Janeiro, só conhecer a Barra da Tijuca, e concluir que se trata de uma cidade de primeiro mundo. Ou visitar a favela de Heliópolis, em São Paulo, e sair dizendo que só há barracos e desfavorecidos na caótica metrópole.

Naquele Brasil x Inglaterra, tirando dois bairros, o resto da Argentina torceu em peso pela equipe de Luiz Felipe Scolari. A lembrança da sangrenta disputa pelas Malvinas, em 1982, superou qualquer rivalidade continental. É uma pena que nunca tenhamos tomado conhecimento disso.

Recortes da realidade, como os citados, são os responsáveis por esses tristes estereótipos.

Sim, os argentinos não ficam de joelhos ante Pelé, mas simplesmente porque enxergam num compatriota qualidades semelhantes às do brasileiro mais famoso --o que, convenhamos, não é nenhum absurdo.

Ainda assim, Pelé está lá, exposto no coração da Argentina, observado por milhares de pessoas no cruzamento mais movimentado do país. Um marco na esquina da Avenida Corrientes com a calle Florida.

E no Brasil, aonde está Maradona?

Lá e cá

- Pelé participou no mês passado, pela segunda vez, de um evento eleitoral do partido Rússia Unida, que governa o país. Ao lado de Boris Gryzlov e Sergei Shoigu, expoentes da sigla, inaugurou um campo de futebol de uma creche na periferia de Moscou. Ao som do tema do filme "Rocky", ele beijou criancinhas e deu três ou quatro toques numa bola. Entrevistado, disse desconhecer os políticos. "É a primeira vez que ouço o nome Rússia Unida", declarou. Curioso, porque há dois meses ele encontrou as mesmas figuras antes de um jogo da seleção pelas eliminatórias da Eurocopa. Oficialmente, as duas viagens foram bancadas pela empresa russa que importa o Café Pelé para o país.

- Se Pelé é café, Maradona só pode ser vinho. O ex-craque argentino dá nome a um cabernet sauvignon/malbec lançado pela vinícola Raíces de Agrelo. A bebida, cujo rótulo exibe o rosto de Diego, deve custar cerca de R$ 35 no Brasil. Só 30 mil garrafas foram postas à venda pelos produtores.

- Apesar de rompido há dois anos com o técnico Wanderley Luxemburgo, Marcelinho Carioca se refere ao treinador do Cruzeiro de maneira para lá de elogiosa em seu site oficial. O texto, obviamente, foi escrito na época --e jamais atualizado. Relata a conquista do título paulista de 2001, e conta que "depois de atravessar uma terrível crise pessoal, o técnico impôs o respeito necessário", carimbando "definitivamente seu nome no histórico corintiano e em sua vitoriosa carreira". São as voltas que o mundo dá.

- O Cruzeiro inaugura, em cerca de 35 dias, uma megaloja de 400m2 que venderá seus produtos oficiais. O estabelecimento, construído ao lado da moderna sede administrativa no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte, já está em fase de acabamento. E será aberta ainda a tempo de capitalizar o inevitável título nacional que a equipe mineira conquistará nas próximas semanas.

- Técnico da seleção do Kuwait desde fevereiro, Paulo César Carpegiani terá de vir ao Brasil na semana que vem para ser interrogado na 1ª Vara Criminal de Porto Alegre. Ele é acusado de dever impostos sobre um carro Mercedes-Benz que importou do Paraguai --onde treinou a seleção nacional-- em 2001. O técnico nega a acusação e inclusive já tentou, por meio de habeas corpus, suspender o processo. O pedido foi indeferido.

- O autódromo de Monza estará fechado, entre sexta e quarta próximas, para um evento da Philip Morris. A fábrica de cigarro vai levar 100 consumidores de todo o mundo para o Malboro Red Racing, maratona de eventos relacionados ao mundo da F-1. A maior atração são os bólidos de dois lugares --os felizardos vão na "garupa" do carro, comandado por pilotos de segundo escalão. Na Rettifilio, reta de largada, a velocidade pode chegar a 300 km/h. Desta vez, o Brasil ficou de fora da promoção, mas a empresa diz que no ano que vem o país está nos planos.
SIC
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Alec Duarte foi editor executivo da Gazeta Esportiva e editor de esportes do Diário do Grande ABC.

E-mail: papodeesporte@folha.com.br

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