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Quero Ser Mãe

05/06/2003

Espaço do leitor 1

ENDOMETRIOSE

Cláudia,

Após ler seu artigo fiquei curiosa. Você sabe de algum novo tratamento para endometriose? Faço o uso do medicamento Cerazette há mais de um ano para tratar o problema. Já passei por quatro cirurgias --a última há quase 3 anos-- e não tenho foco do retorno da doença. O que me desagrada é o uso do medicamento. Sinto um pouco de mal-estar e engordei 6 quilos. Mesmo assim estou feliz pela patologia estar sob controle. Me escreva contando mais sobre as informações que você tem.

Beijos e obrigada!

Marcia Heloisa Flores (Campo Grandre - MS)


Resposta da dra. Cláudia Gazzo:

Prezada Heloisa,

A endometriose é considerada uma doença crônica (assim com pressão alta e diabete) e, portanto, só haverá controle se a pessoa estiver sob constante acompanhamento médico.

Infelizmente, apesar de muito comum hoje em dia, pouco se sabe sobre o que causa a endometriose. Acredita-se que os diversos tipos de endometriose (peritonial, ovariana ou de septo retovaginal) tenham etiologias --causas-- diferentes, assim, teoricamente, cada endometriose deveria ser tratada de maneira particular.

O fato é que o tratamento depende do grau da endometriose (estadiamento: mínima, leve, moderada ou acentuada, segundo a classificação da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva).

Tradicionalmente, o diagnóstico definitivo de endometriose é feito por laparoscopia (procedimento cirúrgico que requer anestesia geral na grande maioria dos casos), e nesse mesmo tempo faz- se a cauterização dos focos de endometriose ou retirada da cápsula do cisto ovariano que contém endometriose, desde que o mesmo tenha menos que 3 cm de diâmetro.

Casos de endometriose de septo retovaginal são tratados de outra maneira. Há necessidade de fazer uso de um medicamento chamado análogo de GnRh por três meses e depois operar a paciente por laparoscopia.

Normalmente, os casos de endometriose mínima ou leve podem ser tratadas apenas com laparoscopia cirúrgica e os casos de endometriose moderada ou acentuada requerem, além do tratamento cirúrgico, tratamento medicamentoso, como combinações de estrogênios-progestogênios (pílulas, por exemplo), progestogênios apenas (micropílulas como o Cerazette, injeções trimestrais ou implantes), análogos de GnRh (os mais usados na década de 90) e danazol (muito usados nos anos 80). Esses agentes inibem o crescimento de implantes endometriais por supressão dos hormônios ovarianos e criação de um ambiente hipoestrogênico (pobre em estrógeno --hormônio envolvido no crescimento da endometriose).

O problema é que, todos esses tipos de tratamento prejudicam a mulher que deseja engravidar, porque inibem a ovulação. Por outro lado, quem não deseja ter filhos, metade das que têm dor, voltam a tê-la depois de interromper o tratamento.

Baseado nestas evidências, outras formas medicamentosas têm sido aventadas, não se excluindo a cirurgia, bem entendido. São elas (ainda em caráter experimental):

1) Inibidores da aromatase:

Anastrazole e letrozole são inibidores principalmente de produção estrogênica de tecidos extra-ovarianos (tecido gorduroso, por exemplo) responsáveis pela recidiva de doença endometriótica. Poderiam ser usados em casos onde a paciente tem maior chance de produzir estrogênios. Acredita- se também que a cápsula de um cisto endometriótico contenha aromatase e assim essas substâncias poderiam agir, impedindo a recidiva de endometriose ovariana, tipo mais comum de retorno da doença.

2) Raloxifeno

Raloxifeno é uma droga que age especificamente sobre os receptores estrogênicos, excluindo-se o endométrio (tapete glandular que reveste a cavidade uterina) e mamas. Poderia ser usado para impedir a recidiva de endometriose, uma vez que, como se acredita que os focos de endometriose tenham receptores de estrogênio, poderiam ser usados como um forma de tratamento.

3) Agentes imunomoduladores e antiinflamatórios

Existe uma teoria que preconiza que as células do endométrio menstrual que regurgitam (uma parte da menstruação cai no abdôme- e isso é normal) implantam-se na cavidade abdominal, pois as células da imunidade são deficientes. Há outra corrente teórica que preconiza o seguinte: a endometriose advém de uma reação inflamatória pré-existente com implantação de células endometriais originárias do fluxo menstrual retrógrado. Assim, agentes que mediassem a imunidade ou que diminuíssem a reação inflamatória poderiam servir como moduladores na cascata da patogênese da doença e impedir sua progressão.

Concluindo. Cada caso é um caso e deve ser avaliado de modo individualizado.

Abraços

Cláudia Gazzo.





ENDOMETRIOSE 2

Sra. Cláudia,

Hoje tirei o dia para pesquisar sobre endometriose e achei seu endereço. Tenho 41 anos e desde a adolescência tenho problemas de ovário. Dos 25 aos 32 anos fiz vários tratamentos para engravidar, mas não obtive sucesso com nenhum. Nunca evitei gravidez. Somente em dezembro de 2001 descobri por uma videolaparoscopia que tenho endometriose.

Fiz tratamento com Zoladex por seis meses e nem assim deixei de ter sangramento. Tenho uma das trompas aderida, sem mobilidade. Hoje tomo Gestinol --único medicamento que fez o sangramento parar--, mas me faz mal. Tenho muitas dores inclusive durante as relações sexuais.

Conversei com o médico que me assiste e ele disse que com esse problemas mais a idade fica difícil uma gravidez e que somente com inseminação eu poderia conseguir, o que está fora de minhas possibilidades. Sendo assim resolvi remover o útero e evitar problemas futuros. Vou marcar a cirurgia para este mês. Gostaria de ter a opinião de um especialista.

Desde já agradeço a atenção e um abraço.

Ana Margarida (Três Corações-MG)


Resposta da dra. Cláudia Gazzo:

Prezada Ana Margarida,

É muito difícil responder a sua questão, uma vez que envolve a retirada de seu útero, determinando definitivamente o futuro de sua vida reprodutiva.

A endometriose pode ser classificada como mínima, leve, moderada ou acentuada. Pode ser de localização peritonial (camada que reveste os órgãos internos como um véu), ovariana ou de septo retovaginal. Sintomatologicamente causa dor, infertilidade ou ambos sinais/sintomas associados, ou nada disso (seria um achado ocasional).

O tratamento depende da extensão da endometriose (estadiamento), sua localização e o desejo da mulher de querer ou não engravidar.

Dentre as patologias que interferem com os resultados do sucesso em se obter uma gravidez, a endometriose é a causa considerada mais importante, ou mais influente.

Não sei qual o estadiamento da sua endometriose, mas o fato de ter dor durante as relações sexuais me faz pensar em endometriose de septo retovaginal ou "pélvis congelada"(cavidade pélvica totalmente comprometida pela endometriose), versões da endometriose difíceis de serem tratadas, realmente.

Infelizmente, para dar uma opinião mais precisa sobre sua decisão (retirar o útero, e veja bem, os ovários também) precisaria saber mais detalhes sobre seu caso.

Há relatos na literatura médica dizendo que houve recidiva de endometriose em mulheres já submetidas a histerectomia (retirada do útero) e oforectomia bilateral (exérese de ambos os ovários). Veja que as coisas não são tão simples assim.

De qualquer modo, estou citando casos mais raros, porém, em medicina vale o recado: as palavras "nunca" e "sempre" não existem. A medicina não é uma ciência exata como a matemática (antes fosse).

Abraços

Cláudia Gazzo.





ENDOMETRIOSE 3

Oi Claudia,

Conheci hoje a sua coluna na Folha Online e amei!

Passei por um longo processo de questionamentos e transformações até ser mãe. Hoje fico muito feliz por ter insistido e ser mãe de duas meninas apaixonantes. Com certeza, se existisse sua coluna há uns doze anos atrás teria me ajudado muito, muito, muito.

Eu tenho endometriose, ovários policísticos e quando recebi o diagnóstico já não queria mais tratamento algum, pois já tinha tido um natimorto, dois abortos e uma gravidez ectópica.

Na época, fiz acupuntura, inicialmente achando que seria só para aliviar a consciência de não querer usar tratamento medicamentoso. Fiz psicoterapia, pois já estava muito esgotada. Mudei de linha de yoga --que já praticava e ensinava-- e, com isso, fiz alinhamento do kanda. Fiquei um ano sem comer açúcar e quando já nem acreditava era mãe. Talvez com a sua coluna o processo fosse mais rápido e menos doloroso.

Hoje sou fisioterapeuta, faço mestrado e acompanho a supervisão de estágio em fisioterapia em ginecologia e obstetrícia da Universidade do Vale do Paraíba. Gostaria de saber se você desenvolve alguma pesquisa sobre o tratamento que as mulheres índias davam ou dão à infertilidade. Você tem alguma informação sobre isso?

Sua coluna é necessária!

Um abraço

Ana Tereza


Resposta de Cláudia Colucci:

Oi Ana Tereza,

Infelizmente nunca me deparei com essa questão de como os indígenas tratam do tema infertilidade. Nem sei há algo publicado. No meu primeiro livro, fiz uma extensa pesquisa histórica e encontrei muita dificuldade de encontrar dados confiáveis. Se por acaso descobrir algo, me avise.

Abraços

Cláudia Collucci





ENDOMETRIOSE 4

Cláudia,

Estou num dilema! Tenho endometriose e não tenho condições de engravidar naturalmente pois as minhas trompas estão obstruídas. Fui encaminhada para a fertilização in vitro, mas pesquisando os preços, vi que é muito caro, e que as chances de conseguir a gravidez na primeira tentativa são muito pequenas.

Moro no interior de São Paulo e gostaria de saber se aí na capital há clínicas ou hospitais em que o tratamento seja mais barato.

Obrigada desde já.

Meire

Resposta de Cláudia Collucci:

Meire,

Os únicos hospitais que fazem (pelo menos teoricamente) FIV grátis são o HC-São Paulo e o Hospital Pérola Byngton. O problema é que não há vagas em nenhum dos dois. E há uma longa fila de espera. Há casos de casais que estão há mais de cinco anos nessa fila. Enfim, as notícias não são nada animadoras. No interior de São Paulo sei que o HC de Ribeirão faz o preocedimento gratuitamente, mas o casal tem que bancar os medicamentos.

Há outras iniciativas, como no Instituto Sapientiae, em que o casal deve ter renda de até R$ 1.000. A inscrição pode ser feita pelo próprio site: www.sapientiae.org.br

Na faculdade de medicina do ABC os preços também são mais acessíveis. As informações estão na minha coluna na Folha OnLine.

Abraços

Cláudia Collucci
Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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