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Quero Ser Mãe

14/08/2003

Verdades e mentiras sobre varicocele

CLÁUDIA COLLUCCI
colunista da Folha Online

Cada vez que me aprofundo nesse mundo da reprodução assistida, fico mais indignada com a falta de ética e de profissionalismo de muitos médicos. Seja por meio de depoimentos de pacientes, seja através de comentários dos próprios colegas de profissão, tenho colecionado histórias estarrecedoras.

Hoje vou contar uma relacionada à infertilidade masculina. Como muitos já sabem, a principal causa é a varicocele --varizes nos testículos que impedem a passagem dos espermatozóides--, que afeta 15% da população masculina.

Muitos médicos defendem que a cirurgia de correção (a melhor é a microcirurgia, feita com auxílio do microscópio) deve ser realizada o quanto antes, se possível antes de homem pensar em ser pai, porque quanto mais o tempo passa, mais fica prejudicada a qualidade dos espermatozóides.

O problema é que, por assintomática na maioria das vezes e pela falta de hábito dos homens de consultar um urologista, a varicocele passa despercebida e, geralmente, só é diagnosticada quando há dificuldade de gravidez e o casal inicia a investigação da infertilidade.

Aí começa a novela: muitos médicos estão indicando a ICSI como a única alternativa desse homem vir a ser pai. Isso, em muitos casos, é uma tremenda enganação. Em 66% dos casos, a cirurgia pode melhorar a qualidade seminal. Com isso, se o único problema de infertilidade era a varicocele, há grandes possibilidades de o homem engravidar a mulher naturalmente em até um ano após a cirurgia.

Quando não há gravidez natural, a melhoria do sêmen pode levar à mudança do tratamento. Se antes, em razão da má qualidade seminal, a gravidez só era possível por meio da ICSI, agora ela por ser conseguida através de uma inseminação, muito mais barata.

A ICSI é uma técnica de reprodução assistida indicada para casos de infertilidade masculina grave. Os médicos buscam os melhores espermatozóides no saco escrotal e com apenas um é possível fertilizar o óvulo no laboratório e depois transferir o embrião ao útero da mulher.

Outra coisa espantosa: muitos homens nem sequer têm os testículos examinados e apenas com o resultado de um espermograma já recebem indicação de ICSI.

Dois casos me chamaram a atenção: um homem com câncer nos testículos e outro com sérios problemas genéticos que passaram por consultas em clínicas de reprodução assistida, cujos médicos responsáveis não perceberam os seus reais problemas de fertilidade.

O mais triste é que casos semelhantes a esses são muito mais frequentes do que a gente imagina. Portanto, um conselho: antes de fazer qualquer procedimento de reprodução assistida, consulte pelo menos dois profissionais. Desconfiem do médico que não esgotar todas as possibilidades de investigação do problema. No caso do homem, além do exame físico, é importante que sejam feitos pelo menos dois espermogramas.

No caso da mulher, todos os fatores envolvidos na fertilidade --hormonal, cervical, tubário,peritonial e uterino-- têm de ser investigados.

Outra coisa: não confiem cegamente em profissionais midiáticos, ou seja, que não saem da televisão e das revistas. Isso não significa necessariamente competência. Isso não significa necessariamente que ele seja o melhor.

Em medicina, não existe o melhor. Existem sim profissionais mais bem preparados, que estão sempre atualizados, que têm uma clínica bem equipada, por exemplo. Mas, sobretudo, é preciso que sejam éticos e humanos. E que não tenham nos olhos apenas dois cifrões. É isso. Abraços a todos e boa semana.

Inseminação na Unifesp

O Programa de Inseminação Artificial Intrauterina da Unifesp/Escola Paulista de Medicina reabriu inscrições e realizará duas reuniões com casais no final de agosto.

O programa oferece o chamado "tratamento de baixa complexidade", destinado a mulheres inférteis, que não precisam de uma terapia muito sofisticada para engravidar, por exemplo, mulheres que apresentam certas características biológicas que impedem a ovulação, mas que podem ser tratadas apenas com baixas doses de hormônio.

As pacientes precisam arcar com os custos dos medicamentos. O tratamento, porém, é mais indicado para mulheres com menos de 35 anos e com pouco tempo de infertilidade (menos de três anos). O cadastramento pode ser feito pelo telefone 0/xx/11/3897-1345. Elas serão atendidas por ordem de inscrição.

Leia coluna sobre infertilidade e gravidez tardia, de Joel Rennó, Coordenador Geral do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

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Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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