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Quero Ser Mãe

17/12/2003

O uso inadvertido do Clomid

CLÁUDIA COLLUCCI
Colunista da Folha Online

Neste ano, um fato tem me preocupado bastante: o uso inadvertido de indutores de ovulação, especialmente o Clomid. Todas as semanas, são várias as mensagens que recebo de leitoras relatando com a maior naturalidade: "não estava ovulando, ou não estava conseguindo engravidar, então comecei a tomar Clomid".

Gente, isso é temerário. Esse medicamento tem indicação específica. Ele só deve ser indicado pelo médico e tão somente pelo médico quando, após realizado todos os exames, o problema for falta de ovulação. De nada adianta tomar o remédio se o problema for trompa obstruída ou má qualidade de esperma do marido, por exemplo.

Além disso, o uso indiscriminado desse produto pode levar a problemas graves, como hiperestímulo ovariano e trombose. Também pode agravar problemas endocrinológicos, como hipotiroidismo. Sem contar com os riscos aumentados de câncer de ovário no futuro.

Outra coisa que precisa ficar bem entendida. Cada pessoa é uma pessoa e responde de forma diferente aos medicamentos. Não é porque a sua amiga engravidou tomando tal remédio é que vai acontecer o mesmo com você. Pense nisso!

A polêmica sobre os embriões humanos

Nesta semana, um assunto polêmico foi abordado pelos cadernos de ciência. O relator do projeto de lei sobre biossegurança, deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP) propôs o fim da proibição que existe para pesquisas com células-tronco embrionárias para finalidade terapêutica (a produção de embriões com intenção reprodutiva, a clonagem propriamente dita de seres humanos, continua proibida).

Células-tronco, como já falamos, guardam o potencial para assumir as funções de células diferenciadas em qualquer tecido do corpo. São uma espécie de curinga fisiológico, presente principalmente em embriões (variedade que parece ser a mais potente) e na medula óssea, caso no qual são chamadas de células-tronco adultas.

No Brasil, não há legislação específica sobre clonagem de seres humanos e pesquisas com células-tronco humanas. Tramita no Senado projeto sobre o tema. Mas há na atual Lei de Biossegurança, votada em 1995, um artigo que proíbe tanto a clonagem como as pesquisas com células-tronco.

Na semana passada, a Assembléia Geral da ONU decidiu continuar discutindo o assunto por mais um ano, antes de tomar uma decisão. Há claramente uma divisão. De um lado os Estados Unidos, que propõem proibir tanto a clonagem para reprodução quanto a terapêutica. Outros países, como o Reino Unido, querem proibir a primeira e autorizar a segunda.

Para cientistas brasileiros, a alteração no projeto de lei é um avanço no combate a várias doenças, em especial as de origem genética, com o uso das células-tronco embrionárias. Uma idéia seria usar os embriões excedentes das clínicas de reprodução.

Pelo o que vi na imprensa, o único que está pedindo cautela nessa história é o bioeticista e padre Leo Pessini. Para ele, "o embrião não é uma coisa e não pode ser tratado como coisa".

Concordo com Pessini. Passamos por um momento em que os valores humanos estão cada dia "mais fora de moda". Tudo vale em nome da ciência e da tecnologia. Eu, sinceramente, não me sentiria confortável tendo meus embriões usados em pesquisa porque entendo que eles são, sim, uma vida em potencial. Basta vermos a quantidade de bebês frutos de embriões congelados. Por outro lado, entendo também o quanto a pesquisa com células-troncos pode ser útil à humanidade.

É um grande dilema e também um tipo de debate que todos nós deveríamos participar. Especialmente quem está se submetendo à FIV (Fertilização In Vitro) e que terá chances de produzir embriões excedentes. Há casais, por exemplo, que já tiveram seus bebês sonhados (gêmeos ou trigêmeos) e ainda possuem 15, 20 embriões congelados. O que fazer nessas situações, é o que mais se perguntam. Alguns, antes de terem seus bebês, até assinam termos de compromisso autorizando o uso dos embriões em pesquisas científicas. Mas, depois do nascimento dos seus pequenos, mudam radicalmente de opinião. Por isso, creio que antes de submeter ao FIV todos devem estar conscientes desse outro lado. E, definitivamente, ele não é um mar de rosas.

Espaço do leitor

O espaço do leitor será publicado na próxima semana.
Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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