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Quero Ser Mãe

12/02/2004

Homens azoospérmicos podem ser pais

CLÁUDIA COLLUCCI
colunista da Folha Online

Uma boa notícia aos homens azoospérmicos (que possuem ausência de espermatozóides no sêmen): um novo tipo de análise do esperma mostra que é possível encontrar espermatozóides viáveis mesmo em homens tidos como inférteis.

Pesquisa realizada pela equipe de Reprodução Humana do Hospital São Paulo mostra que 37% dos homens considerados azoospérmicos não-obstrutivos, na verdade, não o são. Eles têm algumas células reprodutoras no sêmen, que permitem conseguir a paternidade por meio da FIV (fertilização in vitro).

Segundo o urologista Agnaldo Cedenho, que orientou a pesquisa, o protocolo defendido pelo trabalho estabelece a análise de até três amostras de sêmen dos pacientes com o mínimo de dois mililitros, utilizando-se o processo de centrifugação (que elimina a parte líquida do material coletado) e o de coloração (processo que revela com mais segurança a presença da célula sexual masculina) nos casos em que for verificada a ausência de espermatozóides numa primeira avaliação.

"Uma única análise rotineira não é suficiente para firmar esse tipo de diagnóstico, pois a identificação das células é um processo demorado e exige muita experiência do profissional que executa o exame", afirma Odival Timm Jr., urologista e autor do trabalho, à revista da Unifesp. A pesquisa acompanhou 27 pacientes com diagnóstico de azoospermia não-obstrutiva. Para Cedenho, futuramente essa prática estará incorporada no dia a dia dos médicos e dos laboratórios.

Outra descoberta promissora do estudo foi que em 64% dos pacientes que não apresentaram espermatozóides --mesmo depois de analisada a terceira amostra de sêmen-- têm espermátides (células jovens, precursoras dos espermatozóides), que também podem ser utilizadas nos procedimentos de fertilização in vitro. Os resultados, de acordo com Cedenho, têm sido satisfatórios, apesar de não atingirem a mesma porcentagem de sucesso obtida com as células adultas.

A azoospermia pode ter causas congênitas ou ser adquirida na fase adulta por fatores ambientais (radioterapia, quimioterapia e exposição a algumas substâncias tóxicas, como pesticidas) ou cirúrgico (vasectomia), atingindo cerca de 1% da população masculina ou cerca de 10% a 15% dos homens inférteis.

A notícia é muito boa, mas é grande o calcanhar de Aquiles da FIV, que continua sendo caríssima. Cada tentativa de gravidez por meio dessa técnica fica em torno de R$ 12 mil. As chances de sucesso por tentativa são de 40%. Para Cedenho, é pouco provável que o procedimento se torne mais acessível em curto prazo, pois todo o material utilizado é importado e apenas três laboratórios detêm a produção mundial dos medicamentos indicados durante esse período.

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Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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