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Quero Ser Mãe

15/04/2004

Espaço do leitor

Leiam esse emocionante relato da nossa querida leitora Rosa, que depois de mais de oito anos de luta tentando engravidar, deu à luz ao Nuno prematuramente, na 32ª semana de gestação. Além de lindo, o relato da Rosa nos serve de alerta para importância do ultra-som após a 28ª semana de gestação.

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Bom, como todas sabem, meu tão sonhado filho Nuno Gabriel nasceu dia 01/03/2004 com 32 semanas e 36cm. Teve a benção de Deus e um apgard 9/10, o que o ajudou muito, apesar de ter nascido com 1,305kg e ter chegado aos 1,100kg dois dias após o nascimento. Mas não precisou em momento algum de oxigênio.

Quando a gente se casa, ou está apaixonada, a coisa que mais sonhamos é ter um filho, e o tempo passa e achamos que vai ver é estresse, ou na hora que tiver que vir ele virá.

E essa hora demora, demora. Para nós, demorou exatos 8 anos, 6 meses e 28 dias (não sei quantos segundos)... Depois de tantos médicos e clínicas, nosso tão sonhado beta-positivo aconteceu, e depois de ouvir o coração do bebê com 8 semanas, com 14 semanas descobrir que era um menino, escolher o nome Nuno Gabriel, depois de descartar zilhões de nomes e com 28 semanas descobrir que aquela gravidez tão tranqüila e saudável estava começando a dar indícios de um prematuro que não estava ganhando peso suficiente na barriga da mãe... comecei então a fazer ultra-som de semana em semana, e quando estávamos de 31 semanas me desesperei por ver que ele estava perdendo peso. Tive apoio da ultrassonagrafista e do meu médico, dr. Ricardo Barini, e no dia 01/03/2004, eu já com 32 semana, a ultrassonografista Maria Regina ligou para meu médico e disse o que eu não queria ouvir: o bebê precisa nascer hoje, está em sofrimento fetal, minha placenta, apesar de estar boa, não mandava mais nutrientes para ele, e o fluxo sangüíneo que, com 28 semanas deu sinais ótimos, com 32 estava péssimo.

O motivo? Talvez minha anemia (sou talassêmica), talvez ter tomado buscopan pelo veneno da dipirona que ele tem na fórmula). Nunca saberei ao certo, minha pressão é baixa, mas neste dia estava um pouco alta.

Quando ouvi o médico no celular a me dizer, vai direto pra maternidade estou indo pra lá, meu mundo caiu... Eu chorei muito, me senti culpada, arrasada, queria achar em que ponto errei, queria achar um culpado.

Fomos então, eu, meu marido, minha sogra e meu cunhado para a maternidade, na ilusão que tudo daria certo e eu sairia com meu bebê nos braços, levei a mala dele cheia de roupinhas e fraldas P (que ele nem pode usar pois são GG para ele).
Chegando na maternidade, passei por uma perícia com anestesista e clínico geral para saber como eu estava, aparentemente eu estava serena pois minha confiança no dr. Ricardo Barini era maior que o medo que algo desse errado.

Meu marido ligou para a Necc (www.cordaodavida.com.br) e chamou a enfermeira Érika para ir coletar o liquido do cordão umbilical de nosso bebê.

Estava tudo preparado, e eu já na mesa de parto, a tal anestesia rack que todos falam que é um horror, eu nem senti, e o parto que, apesar de emergencial, foi tão tranqüilo que tive até direito a beijar meu filho e escutar seu choro ao nascer. Eu vi que ele era pequeno (36 cm), mas ainda tinha a ilusão de que era só ele fazer uns exames e tchau maternidade...

No dia seguinte eu acordei, e, com ajuda das enfermeiras tomei meu banho e fui na UTI alto risco Neonatal, sala 7, ver o bebê 610 (na UTI eles são todos números), quando vi meu bebê tão pequeno e magrinho naquela foto dupla pela bilirrubina alta, e ele se alimentava com soros e DPP via umbigo (cateter). Fiquei muito abalada, chorei demais e então soube que ele tinha que fazer uma troca de sangue para baixar sua bilirrubina.

Sai daquela UTI arrasada e desorientada, queria entrar na máquina do tempo e voltar no tempo e ter feito algo para ele não ter que passar por isso, perguntei ao medico se não tinha como colocar ele na minha barriga e ligar uns fios em mim... chorei de desespero e culpa.

O peso dele caiu de 1,305 kg ao nascer para 1,100kg, e eu confiante que ele sairia dessa, mas triste por me sentir a culpada, comecei a orar, pedir para Jesus libertá-lo dos monitores, das agulhas, da foto luz, da incubadora...

No dia 05/03, tive alta hospitalar e na recepção vi mais de 20 mulheres com seus bebês enormes mamando. Chorei novamente, não por inveja delas, mas por saber que meu anjinho ainda demoraria para atravessar aquela porta.

A partir dia 06/03, eu comecei a fazer plantão três vezes ao dia, manhã, tarde e noite com meu marido na neonatal. Fui ao banco de leite, aprendi a fazer a tal ordenha que me machucou toda e não saía nada. Tomei oxitocina e plasil e comprei uma bomba de sucção. Comecei a estocar o precioso liquido para meu anjinho.

No dia 09/03, a notícia que ele poderia começar a ingerir 1ml de leite e que tinha ganho 25 gramas. Assim foi. A cada ml aumentado e cada grama que ganhava eu comemorava. Comecei a comemorar cada semana de vida com bolo e salgados para a equipe da neonatal. Comecei a conhecer pessoas que como eu estavam com seus anjinhos ali presos a monitores e medicamentos.

Conversando com os médicos descobri que quando o bebê prematuro atinge 1,500kg você pode pedir para ele subir para a pediatria (desde que esteja bem estável e que você tenha disponibilidade para estar com ele por 24 horas).

Eu pedi para o dr. Barini me indicar uma pediatra especialista em prematuros e conheci a Dra. Maria Otilia Bianchi (médica dele e da Neonatal da Unicamp). Ela preferiu esperar até ele ter 1.600kg. No dia 18/03 ele teve alta da UTI alto Risco e foi para UTI médio risco, sala 1 (a que eu e alguns pais chamávamos de UTI LIGHT). Ali ficou até dia 25/03, quando subimos para o quarto da pediatria. Ele num bercinho e eu ali babando nele.

Aprendi a trocar fraldas, a ver a temperatura da água com o cotovelo, a dar meu peito de 3 em 3 horas. Entrei no ritmo dele e até conseguia dormir nos intervalos. Em uma semana, no dia 31/03/2004, ele já estava com 1,800kg e a médica deu alta hospitalar para ele acabar de engordar em casa.

Está proibido visitas até ele ter 3,5kg, mas o que importa? O que importa agora é saber que enquanto teclo aqui ele está dormindo tranqüilo no carrinho ao meu lado, o que importa é saber que apesar de ele ter chegado por motivo de força maior tão às pressas, ele é um vencedor. Ganhou nota 9 nos primeiros 5 segundos e nota 10 logo em seguida. Hoje mama 20 minutos em cada peito e ainda tem direito a um chorinho de pré-nan para ficar bem saciado e dormir bastante.

Hoje posso dizer que estou realizada, como mãe tenho muito ainda a aprender, mas como ser humano eu aprendi muita coisa nesses 25 dias de UTI. A mais importante é que a força do amor é maior que qualquer coisa para curar um bebê. Meu filho sabe que é amado e desejado e que temos orgulho dele, por isso ele é tranqüilo, bonzinho e está a cada dia progredindo mais e mais.

Rosana Alves (Rosa)

04/04/2004: mãe do Nuno Gabriel, há 4 dias em casa e ganhando peso, mamando muito e dormindo como um anjinho toda noite.

15/04/2004: se quiserem conhecê-lo, olhem no blog dele (nunogabriel.zip.net).
Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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