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Quero Ser Mãe

26/10/2004

Casais inférteis de baixa renda ganham mais uma opção de tratamento

CLÁUDIA COLLUCCI
colunista da Folha Online

Aos poucos, os preços dos tratamentos da reprodução assistida vão chegando em patamares reais, tornando-se mais acessíveis aos casais com dificuldade de gravidez. Um novo serviço ("Projeto Alfa"), que já funciona há seis meses em São Paulo, começa a partir de novembro a atender casais de baixa renda. O custo do tratamento será adequado à condição de renda de cada casal. E em alguns casos (de 5% a 10%) até gratuito.

A proposta é uma análise individual de cada caso e um preço de FIV (fertilização in vitro) que pode variar de zero a R$ 4.900 (com a medicação).

Primeiro, o casal participará de uma palestra grátis onde será informado os tipos de procedimentos (da indução da ovulação à FIV) e condições do serviço. Depois, se houver interesse, será marcada uma consulta com o casal para definir o tipo de tratamento e, por último, agendada uma entrevista com a assistente social para definir o preço do tratamento propriamente dito.

Segundo Nelson Antunes Jr., um dos coordenadores do serviço, a pessoa terá que comprovar a baixa renda para conseguir o tratamento mais barato, ou gratuitamente. Não há limitação de idade. Os valores poderão ser parcelados em até cinco vezes.

Cerca de 20 médicos integram o Projeto Alfa, a maioria ligado a faculdades de medicina. Segundo Antunes, a reunião de vários especialistas em reprodução assistida em um único espaço, rateando as despesas, e a parceria com um laboratório (que fornecerá as drogas a preços inferiores aos praticados no mercado) são algumas das razões que possibilitaram o menor custo do tratamento.

"Também é importante ressaltar o compromisso social do projeto. Sabemos que há muitas pessoas necessitando do tratamento e sem condições financeira de fazê-lo", afirma Antunes Júnior. Calcula-se que 100 mil casais brasileiros necessitam de alguma técnica de fertilização in vitro, mas apenas 10 mil procedimentos esse tipo são realizados por ano. Nas clínicas particulares os preços variam de R$ 8.000 a R$ 15.000 cada tentativa.

Alegro-me cada vez que surgem iniciativas desse tipo e torço para elas cresçam. Há muito tempo que está claro que os valores praticados pela maioria das clínicas privadas estão inflados. Alguns até injustificados, a menos que estejam utilizando cateteres de ouro. Na minha avaliação, iniciativas como essa do Projeto Alfa, ou da própria Corplus, que também oferece o serviço a preços acessíveis e parcelados, é o caminho para a democratização do acesso à reprodução assistida no país.

E mais: é preciso que os casais estejam atentos também aos protocolos internacionais no que diz respeito à investigação dos fatores de infertilidade. Nenhum serviço sério vai indicando uma FIV, por exemplo, de cara sem que existam exames laboratoriais e radiológicos dando conta de que o procedimento é de fato necessário. Repito mais uma vez: é preciso primeiro tentar restaurar a fertilidade do casal. FIV e ICSI devem ser utilizadas com última alternativa, não como primeira. Temos que parar, definitivamente, de enxergar esse mundo da reprodução assistida como um parque de diversões. Há muitos profissionais sérios que endossam esse meu pensamento. Ainda bem. Abraços e boa semana a todas (os).

Projeto Alfa
Onde:
av. Angélica, 688, São Paulo, tel.: 0/xx/11/ 3826-7017

* Falta de tempo: perdoem-me pelo sumiço de quase um mês. Ando muito sobrecarregada de trabalho e com pouco tempo, inclusive, para responder às dezenas de e-mails que se acumulam na minha caixa postal. De 8 de novembro a 13 de dezembro, estarei de férias. Por isso, gostaria de sugerir a vocês que, em casos de dúvidas médicas, encaminhem suas mensagens diretamente aos médicos colaboradores da coluna:

Cláudia Gazzo - claudiagazzo@terra.com.br
Flávia Chaves - flavia.chaves@corplus.com.br se encarregará que repassar as mensagens ao dr. Artur Dzik e Gilberto Freitas
Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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