Colunas

Quero Ser Mãe

16/08/2001

Entenda as pesquisas com células-tronco

Desde a ovelha Dolly, em 1996, dois tipos de clonagem, antes impensáveis, tornaram-se plausíveis. A criação de clones humanos é descartada pela maioria dos cientistas por questões técnicas e éticas, mas o uso de células clonadas na reposição de tecidos e órgãos é defendida por muitos.

O cerne são as células-tronco, que podem se transformar em praticamente qualquer tecido. Embriões humanos são a fonte de células-tronco de maior possibilidade de manipulação.

A técnica de clonagem terapêutica permite o uso dessas células em estudos para o tratamento de doenças como mal de Alzheimer, de Parkinson e diabetes.

As técnicas de clonagem reprodutiva e terapêutica são muito próximas, e discussões éticas que as cercam se misturam com a forte oposição ao uso de células-tronco. Igreja Católica e grupos que defendem que embriões têm vida são os maiores opositores.

O Congresso norte-americano está discutindo dois projetos de lei. Um deles, apresentado pelo deputado republicano David Weldon, se aprovado, tornaria crime federal a clonagem de seres humanos e a produção de embriões para pesquisa. O outro, do também republicano Jim Greenwood, proíbe a clonagem com fins reprodutivos, mas permite a com finalidade terapêutica.

Muitos membros do Congresso são a favor de financiamento federal para pesquisa com células-tronco extraídas de embriões humanos descartados por clínicas de fertilidade. Muitos deputados enfatizam a diferença entre esse trabalho e a criação de embriões para uso científico.

O debate sobre clonagem vem num contexto diferente do sepultamento de uma lei anticlonagem no Senado dos EUA em 1998, pois Bush, que apóia uma lei sobre clonagem mais restritiva, e já aprovou financiamento federal para estudos com células-tronco embrionárias. Os fundos poderão ser usados somente em pesquisas com as cerca de 60 linhagens de células-tronco existentes, obtidas de embriões humanos já destruídos.

Bush proibiu, assim, o emprego des­sas verbas em estudos que levem à destruição de novos embriões. Calcula-se que haja mais de 100 mil deles congelados em clínicas de fertilidade americanas, sem que seus donos pretendam aproveitá-los numa
gestação.

Pioneiro

O pioneiro na legalização de estudos com células-tronco foi o Reino Unido. Em dezembro de 2000, o Parlamento britânico aceitou a clonagem de embriões humanos com finalidade médica.

A França adota uma postura cautelosa, ao permitir o uso dos embriões restantes de processos de fertilização, mas proíbe que eles sejam criados simplesmente com fins investigativos.

No Brasil não há lei regulamentando a pesquisa com células-tronco embrionárias, nem a clonagem. Apesar disso, a resolução do Conselho Federal de Medicina proíbe a manipulação de material genético humano - ou seja, experimentos com embriões são considerados antiéticos.

Confira também os depoimentos enviados à coluna no Espaço dos Leitores.
Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca