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Quero Ser Mãe

03/02/2005

Fertilização in vitro

CLÁUDIA COLLUCCI
colunista da Folha Online

O governo federal anunciou que oferecerá tratamento de fertilização in vitro na rede pública de saúde. Porém, ainda não sabe quais hospitais vão oferecer o tratamento, nem quanto vai custar e muito menos qual o perfil do casal poderá ser beneficiado (idade, conmdições socioeconômicas). Tudo depende ainda de estudos técnicos que só devem ser concluídos em junho. O atendimento de fato só Deus sabe quando vai acontecer.

Mas, como sempre acontece, a mídia de forma geral não contextualiza esse tipo notícia. A informação é jogada em horário nobre e dane-se para as milhares de pessoas que estão há anos esperando uma chance de fazer um tratamento de reprodução assistida. Em dois dias, já recebi mais de 50 e-mails de leitoras aflitas à procura de informação sobre esse tal projeto do governo.

Vamos aos fatos. No Brasil, há pelo menos 2,1 milhões de casais com dificuldades de gravidez. Desses, 500 mil devem precisar de uma FIV (Fertilização In Vitro) ou de uma ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides). Se fosse atender essa demanda toda, o governo precisaria dispor de pelo menos 3,3 bilhões, dinheiro que sabemos muito bem que a pasta não tem. Então, não seria muito melhor primeiro terminar esses estudos para então anunciar algo que seja concreto e factível para não alimentar falsas ilusões?´

Não custa nada lembrar que há dois anos o governo estadual também apareceu em horário nobre anunciando o novo centro de reprodução assistida do Hospital das Clínicas de São Paulo, que custou US$ 1 milhão aos cofres públicos. A idéia era atender 2.000 pessoas do SUS ao ano. Em uma semana, 10 mil casais fizeram inscrição. Mas, até agora, apenas 150 deles foram atendidos, ou seja menos de 10% do total inicial previsto.

O problema principal esbarra na falta de remédio e insumos (todos eles importados). Também há carência de funcionários, embora o governo estadual tenha liberado algumas vagas, que foram remanejadas para outros setores: ou seja, até agora, o centro tem uma reduzida equipe de médicos e profissionais, muitos dos quais trabalhando voluntariamente.

É óbvio que a iniciativa do governo federal, desde que levada à prática, tem seus méritos. Especialmente por reconhecer a infertilidade como um problema de saúde pública. Há muito pedimos por isso. Como vocês se lembram, foi iniciativa desta coluna a elaboração de um abaixo-assinado, encaminhado há dois anos ao ministro da Saúde Humberto Costa, pedindo ao SUS que incluísse na sua política de planejamento familiar o tratamento de reprodução assistida.

Afinal, planejamento familiar se faz com métodos de contracepção e concepção. E isso não é porque o governo é bondoso. Oferecer assistência médica aos casais com dificuldade de gravidez é um direito assegurado pela Constituição Federal. Vamos esperar para ver (e para crer).

Abraços a todas e boa semana.

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    Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

    E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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