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Quero Ser Mãe

14/02/2002

Menopausa precoce

CLÁUDIA COLLUCCI
colunista da Folha Online

"Tenho 30 anos. Quando tinha 26, comecei a tentar engravidar e recebi o diagnóstico de menopausa precoce. Hoje não tenho mais menstruação."

Essa situação, relatada por uma leitora da coluna, é vivida por um universo de 1% a 8% das mulheres que sofrem de menopausa precoce. No auge da juventude, entre 25 e 35 anos, elas descobrem que, mesmo ainda menstruando, estão com os seus dias férteis contados.

O choque é enorme, principalmente porque esse assunto nem passa pela nossa cabeça antes dos 45 anos, quando, geralmente, começa a falência da atividade dos ovários.

Há uma série de razões que podem levar à antecipação da menopausa. Quem tem antecedente genético -mãe, tia ou avó com menopausa precoce- tem grandes possibilidades de receber essa herança. O problema pode estar em uma alteração cromossômica.

Algumas meninas nascem com menos folículos (estruturas presentes no ovário que desenvolvem um óvulo dentro de si). Outras "gastam" mais folículos que o normal durante o processo de seleção natural realizado pelos ovários -há um mecanismo que destrói parte dos folículos antes que a menina chegue à puberdade. Esse problema pode levar até adolescentes, de 16 ou 18 anos a entraram na menopausa.

Existe ainda uma outra causa que chega a ser responsável por um terço dos casos de menopausa precoce. As mulheres podem desenvolver uma doença auto-imune que bloqueia a atuação, no ovário, do hormônio FSH produzido pela hipófise (glândula cerebral). Esse hormônio estimula o desenvolvimento dos folículos ovarianos.

Quando há o bloqueio, os folículos não se desenvolvem, e o ovário pára de funcionar.

Essa doença normalmente está associada a outras doenças auto-imunes, como hipotireoidismo e artrite reumatóide, entre outras. Para esses casos, há perspectivas de a mulher engravidar.

Por um motivo desconhecido, o sistema imunológico da mulher passa a produzir anticorpos contra os ovários, que deixam de responder ao hormônio FSH, responsável pelo desenvolvimento dos folículos.

Segundo o médico Aguinaldo Pereira Cedenho, responsável pelo setor de medicina reprodutiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a mulher que deseja ser mãe deve fazer, o quanto antes, ainda que por precaução, os exames de dosagem hormonal.

No caso de suspeita de menopausa precoce, recomenda-se também exames de ultra-som que estudam o volume dos ovários e mostram se ainda há folículos no órgão.

Em caso positivo, o médico pode prescrever um tratamento utilizando um hormônio específico (liberador de gonadotrofinas) para tratar a doença auto-imune e fazer com que os ovários voltem a responder ao hormônio FSH.

Assim, os folículos voltam a se desenvolver. A partir daí, o médico, usando um procedimento que aspira os folículos, retira o óvulo para fertilizá-lo em laboratório. O embrião é inserido no útero da mulher para se desenvolver.

No caso das mulheres que sonham com a gestação, mas que não produzem mais óvulos, a alternativa é entrar em algum programa de doação de óvulos (a maioria das clínicas de reprodução dispõe desse serviço).

Nesse caso, pega-se o óvulo da doadora anônima, que deve reunir o maior número possível de características físicas da receptora, e faz-se a fecundação com o espermatozóide do marido (da receptora) no laboratório.

*

Em um futuro breve, dizem os pesquisadores, será possível congelar os ovários logo que seja diagnosticado um quadro de menopausa precoce. Durante o congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutuva, realizado ano passado em Orlando (EUA), o pesquisador canadense Roger Gosden relatou que conseguiu recuperar a função ovariana de uma paciente de 29 anos, que havia congelado partes do ovário antes de entrar em menopausa precoce.

A sugestão dos médicos é que, quando a técnica tiver sua eficácia em humanos comprovada, as mulheres comecem a congelar fragmentos dos ovários durante a cesaria ou quando realizarem exames incisivos, como a laparoscopia.

Entenda como ocorre a menopausa

  • A mulher nasce com 1 milhão a 2 milhões de folículos no ovário

  • Em uma seleção natural, o ovário vai destruindo grande parte deles. Quando a menina chega à puberdade, tem cerca de 400 mil folículos

  • No ciclo menstrual, apenas um dos folículos amadurece totalmente e se torna um folículo ovulatório, que vai liberar o óvulo. Este é capturado pela trompa ou absorvido pelo organismo

  • A cada menstruação, cerca de mil folículos não utilizados são eliminados

  • A mulher chega à menopausa quando não há mais folículos em seus ovários. O órgão deixa de produzir o estradiol (hormônio estrógeno produzido pelo ovário que tem função de estimular a maturação dos folículos)

    - O que muda com a idade

  • Ovário de recém-nascida (1 a 2 milhões de folículos)

  • Ovário na puberdade (cerca de 400 mil folículos)

  • Aos 40 anos de idade (algumas centenas de folículos)

  • Na menopausa (ausência de folículos)

    - Causas da menopausa precoce

    É considerada menopausa precoce aquela que ocorre antes dos 40 anos

    1- A menina nasce com um número de folículos muito pequeno por causa de alterações cromossômicas e seus óvulos acabam antes da idade prevista

    2- Os ovários eliminam um maior número de folículos a cada menstruação, diminuindo a quantidade de óvulos (as situações descritas nos itens 1 e 2 podem causar menopausa precoce até em adolescentes)

    3- Mulheres que desenvolvem doenças auto-imunes -como hipotireoidismo, artrite reumatóide, vitiligo ou lupus eritematoso- podem apresentar um mecanismo que estimula o próprio organismo feminino a produzir anticorpos contra os tecidos dos ovários, o que impede a ovulação

    4- Ooforectomia (retirada cirúrgica do ovário). Se a mulher fizer apenas esterectomia (retirada do útero), mantendo seus ovários, a menopausa pode se antecipar em um ou dois anos, o que não é considerado menopausa precoce

    5- Radioterapia ou quimioterapia podem, em alguns casos, levar à falência dos ovários

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    Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

    E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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