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Quero Ser Mãe

28/02/2002

O poder das agulhinhas

CLÁUDIA COLLUCCI
colunista da Folha Online

Tenho pesquisado nos últimos dias sobre algumas alternativas "naturais" de combate à infertilidade e, novamente, deparei-me com a acupuntura. Há um mês, falamos aqui de uma pesquisa feita pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) que revelou um surpreendente aumento da produção espermática de homens inférteis com o uso das agulhinhas. (Aliás, aproveito a oportunidade para tranquilizar alguns leitores que enviaram e-mails querendo saber aonde é que as tais agulhas são colocadas, todos morrendo de medo que fosse "lá". Relaxem: tanto no caso dos homens quanto das mulheres são estimulados alguns pontos abaixo do umbigo, que estimulam órgãos ligados ao aparelho genital).

Agora, a mesma equipe da Unifesp, chefiada pelo médico Aguinaldo Pereira Cedenho, pretende estender a pesquisa para estudar os resultados da acupuntura nas mulheres com irregularidades menstruais, falta de ovulação e que tenham dificuldades de implantação do embrião no útero.

Os resultados dessa nova pesquisa devem atestar o que muitos acupunturistas têm observado no dia-a-dia da profissão. A prática traz ótimos resultados para a saúde reprodutiva feminina, mas depende de um tratamento "globalizado". Também não adianta ter pressa. Os resultados dependem de como o seu corpo reage a esses estímulos.

Conversei com uma mulher, por exemplo, que estava prestes a fazer uma cirurgia para retirar um mioma no útero. O tumor era tão grande que ela corria o risco de ter o órgão extirpado. Em seis meses de tratamento com acupuntura, o tumor está diminuindo de tamanho. Está lá na ultrassonografia. Não é conversa fiada.

Segundo a medicina chinesa, a fertilidade do homem, por exemplo, está ligada diretamente ao bom funcionamento do baço. Já nas mulheres, o ponto-chave é o fígado. Seguindo princípios bem parecidos aos da homeopatia, a acupuntura procura harmonizar a pessoa como um todo e não simplesmente o órgão doente. A técnica manipula a energia vital do corpo, o qi (pronuncia-se 'qui'), balanceando as forças opostas -yin e yang. Quando o yin e o yang estão em harmonia, o qi flui harmonicamente por 'caminhos' chamados meridianos, e você se sente saudável. Quando o qi é bloqueado, você adoece. Inserir agulhas em determinados pontos de um meridiano desbloqueia o qi e restaura o equilíbrio do corpo.

Cientistas ocidentais explicam o fenômeno de forma diferente. Para eles, colocar agulhas em certos pontos do corpo estimula o sistema nervoso a liberar substâncias similares à morfina, que bloqueiam sinais de dor. A acupuntura ainda pode disparar a liberação de neurotransmissores, que influenciam o sistema circulatório e a defesa imunológica do organismo.

Mas, tudo depende da cabeça de cada um. Não estou fazendo aqui uma apologia à acupuntura. Apenas respeito muito essa prática milenar, que, quando realizada pelas mãos de profissionais competentes, indiscutivelmente é uma medicina de resultados.

*

Uma boa notícia para quem está procurando serviços gratuitos de reprodução assistida: o setor de reprodução da Unifesp funciona na rua Botucatu, 725, Vila Clementino. Informações pelo telefone 0/xx/11/5576-4488. O serviço trata de mulheres com problemas de infertilidade até os 35 anos.

Clique aqui para ler os últimos e-mails. A seção traz hoje um relato emocionado de uma vítima da endometriose.

Clique aqui para ler a coluna das psicólogas Malu Feitosa e a Sâmara Russo.

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Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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