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Regra 10

25/01/2008

Democrata vota em democrata

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Corintiano vota em corintiano. Com esse slogan, José Izar, ex-advogado do clube do Parque São Jorge, conseguiu se eleger vereador na cidade de São Paulo em 1996. Los Democratas votam em... democratas!

Depois de perder as duas últimas eleições presidenciais nos EUA para os republicanos, o partido Democrata resolveu também apelar ao futebol. Não o futebol americano, mas o soccer mesmo, jogado com os pés, que não faz muito sucesso por lá.

Ou melhor, não fazia sucesso. Com o crescimento cada vez mais acentuado da comunidade hispânica, a bola redonda ganhou espaço no país.

Para amealhar preciosos votos entre estes cidadãos norte-americanos de origem latina, o partido do ex-presidente Bill Clinton resolveu patrocinar um time de futebol de uma liga local de Las Vegas, batizado de Los Democratas --assim mesmo, em espanhol.

Antes de cada partida da equipe, o partido Democrata do Estado de Nevada aproveita para registrar eleitores latinos, em mesas montadas ao lado do campo.

É a versão ianque da fórmula que deu certo no Brasil. E na Argentina, na Espanha, na Itália e praticamente no mundo todo.

Futebol e política caminham lado a lado praticamente desde a criação do esporte. A bola ajuda não apenas a eleger, mas também a legitimar governos.

Não por menos, Mussolini mandou um recado claro em um telegrama para a seleção da Itália antes da final da Copa do Mundo de 1938: vencer ou morrer. E a Azzurra bateu a Hungria por 4 a 2, ajudando e muito o marketing do ditador.

O governo militar brasileiro foi outro que se aproveitou do futebol para ganhar o povo, especialmente na Copa de 1970 --existem até casos de gente que torceu contra o Brasil por causa da ditadura. A Argentina fez igual em 1978.

Os casos são inúmeros, chegando inclusive à cara-de-pau do José Izar, que segundo consta, nem era corintiano de verdade --torcia para o São Paulo.

De forma que os democratas não precisam nem mesmo apresentar políticas que beneficiem as comunidades latinas para ganharem eleitores. Basta o futebol. Resta saber se Los Democratas jogam para Hillary Clinton ou Barack Obama.

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Vale lembrar que, depois de eleito, José Izar foi denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha e acusado de chefiar esquema de arrecadação de propina entre camelôs e comerciantes em situação irregular. E, mesmo assim, escapou de cassação. Depois ainda votou contra a instauração da CPI da Máfia dos Fiscais.

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Além de política, muitas vezes o futebol se mistura com religião. É o que acontece, ou acontecia muito, na Escócia, em que as torcidas de Rangers (protestante) e Celtic (católico) travam batalhas violentas.

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Se a moda dos Democratas chegar ao Brasil, poderemos ter jogos de futebol entre o time do PT e o do PSDB, por exemplo. Ou do PSTU contra o DEM. Ia sair faísca.

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Aos 41 anos, o lendário goleiro René Higuita continua na ativa. No passado, jogou pelo Guaros de Lara, da Venezuela. Agora, acertou com o Rionegro, da segunda divisão da Colômbia. Para quem não sabe, Higuita participou há alguns anos do reality show "Cambio Extremo" (Extreme Makeover), em que as pessoas são submetidas a diversas cirurgias plásticas. Vale a pena sempre rever a defesa do escorpião, em pleno estádio de Wembley.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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