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Regra 10

07/03/2008

Porcos, cachorros e baratas

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Uma emoção que nunca vou poder experimentar é a de festejar um gol em uma partida profissional de futebol. Por motivos óbvios. Mas, se comemorar um tento em uma pelada de fim de semana já é fantástico, imagino o que não é fazer o mesmo sob pressão e diante de um estádio lotado de gente que foi ali e pagou justamente para ver isso.

Tudo bem, confesso que nem nos fins de semana eu tenho tido esse prazer. Há muito tempo não jogo uma mísera partidinha do tipo dois gols ou dez minutos. Porém ainda me lembro da sensação de explosão de alegria ao balançar as redes.

É por isso que defendo a liberdade para os jogadores profissionais na hora de comemorar. Mas a tendência é que cada vez mais haja proibições.

A Fifa não permite hoje, por exemplo, que um jogador tire a camisa na hora de festejar. É proibido até mesmo erguê-la sobre a cabeça. Em ambos os casos deve haver punição com cartão amarelo.

Não consigo enxergar o mal que tirar a camisa nessa hora possa causar. A justificativa pode ser a de que o patrocinador não apareceria, mas isso não me convence. O logo aparece durante o jogo todo. Sem contar que alguns times nem têm patrocinador na camisa.

E não são apenas as proibições oficiais que intimidam os festejos. Muitas vezes a falsa ética e o excesso de preocupação com o que é politicamente correto também atrapalham.

O meia palmeirense Valdivia, por exemplo, foi duramente criticado por comemorar o gol da vitória sobre o Corinthians fazendo gesto de choro. Não vi nada demais.

Na Inglaterra, Tim Cahill, do Everton, teve que pedir desculpas depois de festejar um gol contra o Portsmouth cruzando as mãos, como se estivessem algemadas. O gesto era uma homenagem um tanto estranha ao irmão, que foi preso na Austrália. Pode ser algo de mau gosto, mas também não vejo motivo para desculpas.

Atacantes que comemoram simulando pistolas, metralhadoras ou coisas do tipo, numa alusão ao apelido de "matador" dado aos artilheiros, são sempre reprimidos hoje em dia. Pura hipocrisia.

O que o futebol precisa hoje é de um novo Viola, jogador que inventou dezenas de coreografias para comemorar seus gols.

Tudo tem que valer. Respeitando sempre o bom senso, é claro.

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Entre as comemorações mais divertidas de Viola estão aquela em que ele atendeu um telefone público atrás do gol e uma outra em que ele simulou um arco e flecha contra o Guarani. A do porco ficou mais famosa, mas não por isso é mais legal. Tempos depois, Paulo Nunes deu seqüência com suas máscaras (de porco, Tiazinha, Feiticeira, Mister M...).

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Comemorações estranhas e divertidas acontecem no mundo todo. Vão desde imitações de animais como baratas e cachorros a saltos esquisitos, poses duvidosas, simulações de touradas, de boxe, de golfe e até de sexo. Algumas são muito engraçadas, como o argentino Cavenaghi comemorar com um bandeirinha ou o argentino Frontini abraçar um PM na confusão. Vágner Love é outro festejou com a lei --pegou o quepe do policial russo. Sem contar as inúmeras danças, como a robótica de Peter Crouch e a Cumbia de Carlitos Tevez. Alguns passam do limite, como Robbie Fowler, que cheirou a linha de fundo simulando uma carreira de cocaína.

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Clique aqui para ver algumas comemorações interessantes pelo mundo afora.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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