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Regra 10

06/06/2008

Revolução corintiana

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Um dos discursos mais surrados dos técnicos é aquele que diz que um time pode ser ofensivo independentemente da escalação de atacantes e meias pouco afeitos à marcação. É o futebol moderno, afirmam. E assim arrumam desculpa para rechear suas equipes de volantes.

Não tenho nada contra os volantes, também conhecidos como cabeças-de-área. Eu não gosto muito é dos cabeças-de-bagre do futebol. Mas estes, por ironia, gostam muito de ser volantes.

De qualquer forma, não vejo necessidade de se escalar mais do que dois volantes em nenhuma equipe. Três já é medo disfarçado de futebol moderno, mas ainda vá lá. Quatro é um exagero tão grande como ter quatro fechaduras na porta da sala.

Pior ainda é o que vinha fazendo o técnico do Corinthians, Mano Menezes, em seu primeiros meses no comando do time. Eram quatro cabeças-de-área no meio-campo e mais alguns espalhados pelas laterais e zaga. Só faltava ele escalar um volante no gol.

E, apesar de todo esse cuidado, o time sofreu demais no Campeonato Paulista. Não conseguiu nem mesmo se classificar para as semifinais.

Veio a Copa do Brasil e Corinthians continuou sem engrenar. No primeiro confronto com um time mais forte (o Goiás, que está na Série A do Brasileiro), a equipe sucumbiu e perdeu por 3 a 1, no Serra Dourada.

Foi quando escrevi, neste mesmo espaço, que seria difícil para o Corinthians conseguir a virada porque o time era muito fraco do meio para a frente, a não ser que o técnico arriscasse um pouco mais.

De uma hora para a outra (não por causa da coluna, imagino), alguma coisa mudou na cabeça do Mano. O gaúcho, adepto notório do futebol "cisplatino" (aquele em que a canela é parte essencial do espetáculo, em especial a do adversário, como já bem disse o escritor Eduardo Bueno), resolveu fazer mudanças radicais.

O treinador abriu mão de sua legião de volantes e viu, de cara, o Corinthians vencer o Goiás por 4 a 0. De lá para cá, os cabeças-de-área cada vez mais perderam espaço. E o time já acumula uma série de nove vitórias em dez jogos.

E quem ganhou espaço foram os gols. Nestes dez jogos, o Corinthians balançou as redes 24 vezes e foi vazado apenas nove. Em nada menos que cinco jogos marcou três ou mais gols. Nos 23 jogos anteriores com Mano e os volantes, apenas três vezes a equipe havia conseguido marcar três gols em um jogo.

A análise a partir do números é sempre fria --apesar de neste caso a evolução ser muito clara. Porém basta assistir aos jogos para ver que a frieza se resume às estatísticas. Não que o Corinthians tenha se transformado em um timaço, mas, se a base de comparação for o time que caiu no ano passado, a diferença já é gritante.

Como eu disse antes, nada contra os volantes. Mas deixo aqui minha saudação aos atacantes e meias ofensivos.

*

Nesta semana o técnico da seleção francesa, Raymond Domenech, deixou de fora da convocação para a Eurocopa o lateral-direito Reveillere. Seu reserva no Lyon, Clerc, no entanto, foi incluído na lista. A explicação (não confirmada pelo treinador) é que Reveillere não fará parte do grupo por ser do signo de escorpião. Domenech é obcecado por astrologia e já tinha, supostamente, feito o mesmo na Copa-2006, quando deixou o meia Pires, que é de escorpião, de fora. O treinador, que é de aquário, se recusa a ter mais de um atleta de escorpião em seu grupo. Alega que um escorpião anula o outro. Essa é apenas uma entre as muitas estranhezas que envolvem o francês, que também já foi ator. Vale lembrar que ele nunca, em 23 anos de carreira, conquistou um título de expressão.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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