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Regra 10

02/12/2005

Carlitos Tevez ou "El Tanque" Santiago Silva?

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

O Campeonato Brasileiro verá neste domingo aumentar sua lista de estrangeiros campeões, seja com os argentinos do Corinthians (Carlitos Tevez, Mascherano e Sebá Dominguez) ou seja com o colombiano Renteria e o paraguaio Gavilán, do Internacional.

Até hoje, 20 gringos já levantaram o caneco no Nacional, a maior parte deles grandes craques dos vizinhos sul-americanos. Tudo indica que Tevez pode ir além e terminar a temporada também como melhor jogador do torneio. Ainda dá tempo até de alcançar a artilharia, apesar de faltar apenas uma rodada. Ele tem 19 gols, contra 21 de Róbson.

O Apache, como é conhecido na Argentina, conquistou a torcida e convenceu a imprensa e até os adversários de seu valor em menos de um ano jogando no Brasil. Fez valer os US$ 22 milhões investidos pela MSI.

Mas nem sempre os clubes brasileiros acertam na hora de trazer jogadores do exterior. Ao contrário. O histórico de grandes fiascos e imenso.

Um bom exemplo foi o do meia chileno Sierra, no São Paulo. O jogador chegou com muita pompa. Foi apresentado no Morumbi de helicóptero. Marcou apenas três gols antes de ir embora. O atacante venezuelano Rondón, no ano passado, também não deixou saudades na torcida.

Um dos clubes que mais contou com jogadores folclóricos --para não dizer coisa pior-- na história foi o Santos. Só de japoneses, teve por exemplo o Kazu, que chegou a fazer relativo sucesso, e figuras como Maezono, que assim como Kazu jogou na seleção japonesa, e Sugawara. Ver a torcida gritando Maezono era hilário, mas no quesito nome vai ser difícil alguém superar o Sugawara.

O Santos também protagonizou um engano histórico ao contratar o atacante paraguaio Baez, mas que não era o Richard Baez, da seleção de seu país. Para piorar, o time da Baixada já conseguiu trazer um norte-americano e um sul-africano de qualidade duvidosa, o zagueiro Desmond Armstrong e o obscuro Kennedy, respectivamente.

Nos últimos tempos, a torcida teve calafrios com os goleiros Tápia (Chile) e Henao (Colômbia), que perderam seus lugares para Mauro e Saulo.

E quem se lembra do sul-africano Frank Williams, do Corinthians? Na época, rolou inclusive aquela piadinha de que ele havia se apresentado no Parque São Jorge em cadeira de rodas --em alusão ao dono da equipe Williams de F-1. Outro que fez a Fiel sofrer foi "El Tanque" Santiago Silva.

No Palmeiras, um exemplo emblemático foi o do italiano Marco Osio, que marcou um mísero gol em 20 jogos. Ele acabou na terceira divisão de seu país, em clubes como Saronno, Pistoiese e Faenza. Recentemente, o time do Parque Antarctica contratou o atacante colombiano Carlos Castro, que treinou, treinou, treinou e foi dispensado antes mesmo de jogar.

O número de estrangeiros que fez feio por aqui não para por aí. Tivemos de ver jogadores como o norte-americano Cobi Jones (Vasco), o iugoslavo Vladi Petkovic (Botafogo), o português Domínguez (Vasco), o venezuelano Maldonado (Fluminense), o argentino Prieto (Atlético-MG) e dezenas, quiçá centenas, de outros pernas-de-pau --isso sem contar casos mais antigos.

Tevez, realmente, faz parte de outra estirpe. Independentemente de o Corinthians conquistar o título neste domingo e de ele ser ou não artilheiro, o argentino vai registrar seu nome em outro grupo de forasteiros. Aquele que tem Figueroa, Hugo de León, Rincón, Pedro Rocha, Quiñonez, Arce, Romerito, Gamarra...

O presidente Lula, que é corintiano, não dá uma dentro nem quando o assunto é futebol. Vejam o que ele disse ainda no final do ano passado, quando o Corinthians anunciou Tevez: "Acho que ele não vai dar certo".

Atual melhor jogador do mundo, segundo eleição da Fifa, Ronaldinho teve uma das melhores semanas de sua vida ao receber o prêmio Bola de Ouro de melhor jogador do continente europeu e ser novamente indicado para melhor do mundo, ao lado de Eto'o e Lampard. Confira algumas jogadas do craque neste vídeo, em que ele é comparado a Maradona.

Imaginem o estado de indignação a que chegou o marfinense Marc Zoro, do Messina, para tentar paralisar o jogo de seu time contra a Inter de Milão, pelo Campeonato Italiano, devido a cânticos racistas. O brasileiro Adriano e o nigeriano Martins, também negros, conseguiram convencê-lo a voltar para o jogo, mas a atitude de Zoro surtiu efeito e a própria federação italiana determinou ações contra o racismo. A Uefa também já estuda medidas mais rigorosas. Ato de indignação ainda mais inusitado foi visto no Brasil, quando Romildo Corrêa, quarto árbitro de Santos x Botafogo, resolveu abandonar a carreira no meio da paralisando de fato o jogo. Ele teve seu nome citado no caso de fraude de arbitragem, mas nada foi provado.

Sem perceber, a revista inglesa de futebol "Four Four Two" chamou os são-paulino de bambi como se fosse um apelido oficial do time, segundo e-mail que rola na internet. Não dá pra saber da veracidade da coisa. Confira aqui e tire suas conclusões.

Parece que não tem jeito. Sempre haverá um descontente com o Campeonato Brasileiro deste ano. Os que são contra as anulações dos 11 jogos chamam a competição de Zveitão-2005. Se não houvesse jogos anulados, outros descontentes provavelmente veriam o torneio como o Edilsão-2005. E por aí vai.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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