Colunas

Regra 10

25/11/2005

Vôo 2266 leva arqui-rivais para a Segundona

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Os jogadores partiram de Porto Alegre no vôo 2266 da Varig. Iriam cruzar o país até Belém, a 3.854 km de distância, não sem antes passarem por cansativas escalas em São Paulo e Brasília. A longa viagem, porém, não desanimava ninguém. O Remo voltava ao Pará, na última segunda-feira, em incontrolável euforia. Após vencer o Novo Hamburgo por 2 a 1, na última rodada do quadrangular final da Série C, levava na bagagem o primeiro título nacional da história do clube.

Na segunda parada, em Brasília, a festa dentro do avião já era mais contida, dado o enfado causado pela viagem. Mas aí a comemoração ganhou um toque especial, que misturava ao mesmo tempo alguma compaixão e um certo sadismo.

Vindo do Rio de Janeiro, outro vôo trazia a bordo os atletas do eterno arqui-rival do Remo, o Paysandu. A comissão do Papão teve que fazer uma conexão e acabou pegando na capital federal o mesmo vôo 2266 da Varig, com destino a Belém.

A diferença: o time havia acabado de perder por 4 a 0 para o Vasco, resultado que praticamente selou o rebaixamento do clube para a Série B --precisa de duas vitórias em duas rodadas, além de torcer contra Atlético-MG, Coritiba e Figueirense.

O encontro entre as duas delegações foi cordial. Os jogadores do Remo evitaram provocações diretas, já que o abatimento dos comandados de Carlos Alberto Torres era evidente. Mas a festa azulina, é claro, ganhou ritmo novamente.

Os dois times deverão voltar a fazer clássico pelo Nacional no ano que vem, na Segundona. Jogar a Série B em 2006, por motivos óbvios, terá sabor diferente para os dois clubes.

Para o Remo, a conquista da Série C, sob o comando de Roberval Davino, teve valor equivalente a ter vencido a Série A. Para a torcida, até mais. Talvez melhor que uma Copa do Mundo.

Isso porque 2005 marca o centenário do Clube do Remo. E porque a temporada foi de grande sofrimento. Mesmo com um time fraco (cerca de 50 jogadores foram contratados na temporada) e com as constantes trocas de técnico (quatro passaram pelo banco do Leão), a torcida lotou o Mangueirão em todas as partidas.

A média de torcedores do time no estádio foi superior a 30 mil, a maior entre todas as equipes nas três séries do Campeonato Brasileiro. A festa pelo título varou a madrugada no domingo e parou as principais vias da capital paraense.

Na segunda-feira e no resto da semana, mais festa. Os jogadores desfilaram em carro do Corpo de Bombeiros e levaram cerca de 30 mil fãs às ruas. Não faltaram homenagens de todo tipo, inclusive na Assembléia Legislativa.

Para o Paysandu, confirmado o rebaixamento, fica a sensação de frustração, de não poder mais zombar do adversário --apesar da ligeira vantagem nas conquistas do Paraense, com 41 contra 40. A sensação deve ser a mesma sentida na saída do aeroporto de Belém. Enquanto os azulinos subiam no caminhão de bombeiros, os bicolores saíam pelos fundos, adiando mais um pouco o inevitável contato com a torcida rival.

Torcida que gritava no saguão o mesmo coro que vinha cantando ao longo da temporada no Mangueirão: "Arerê, vamos nos encontrar na Série B".

Quando escrevi a coluna da semana passada, o Romário tinha três gols de diferença para o artilheiro, Róbson. Agora tem apenas um, 20 gols contra 21, e ainda restam duas rodadas. Repito: aos 39 anos, ele pode ser o mais velho artilheiro do Brasileiro na história e talvez o mais velho artilheiro de um campeonato de ponta no mundo em todos os tempos. Segue frase de Renato Gaúcho, técnico do Vasco: "Infelizmente, quem comanda a seleção não vai convocá-lo. Mas levá-lo para a reserva não dá".

Nos dias em que ficou afastado do Santos, forçando a saída para o Real Madrid, Robinho jamais poderia imaginar o futuro turbulento que teria em seu início no novo clube. Com certeza ele sonhava com algo diferente. Veja este vídeo divulgado no site da CBF e preste atenção na empolgação do atacante ao comentar sua ida para a equipe espanhola. Aliás, o vídeo já vale só pela habilidade de Robinho, Roberto Carlos e Ronaldinho.

Está rolando na internet uma brincadeira em que o Campeonato Brasileiro é vendido no site Mercado Livre. Obviamente, é uma farsa. Mas não deixa de ser interessante.

Os torcedores são-paulinos do site TricolorMania arrumaram uma maneira diferente de protestar contra supostas injustiças no Campeonato Brasileiro-2005. Organizaram um abaixo-assinado para que o goleiro Rogério Ceni atue na linha por algum tempo no último jogo do time no Brasileiro, contra o Atlético-PR, no Morumbi.

Melou o negócio do São Bernardo Futebol Clube com o atacante Müller. O tetracampeão iria jogar a Série A-3 do Campeonato Paulista pelo clube do ABC, recém-promovido. Mas eles não chegaram a um acordo. Müller vai se dedicar apenas a participações nos programas esportivos da TV da Gente, projeto do apresentador Netinho --o primeiro canal brasileiro dirigido por e para negros. E terá que se contentar em ter atuado "apenas" por Corinthians, Santos, São Paulo, Palmeiras, Portuguesa e São Caetano, entre os times da Grande São Paulo.

O Manchester United acaba de acertar com Rivaldo. Pena que não é o pentacampeão. O clube contratou um moçambicano de 15 anos que impressionou o auxiliar de Alex Ferguson, Carlos Queiroz. O nome verdadeiro do rapaz é Daude Massude, mas ele preferiu adotar como apelido o nome do brasileiro.

O português Abel Xavier, 32, do Middlesbrough, foi suspenso na quarta-feira pela Uefa por 18 meses após ser pego em um exame antidoping. Você se lembra do Abel? Ele é aquele que cometeu o pênalti (bastante duvidoso) que resultou na eliminação portuguesa pela França nas semifinais da Eurocopa-2000. Zidane cobrou e, como a partida estava na prorrogação com morte súbita, o jogo acabou. Ainda não lembrou? Então confira o penteado do atleta, nascido em Moçambique, nesta foto.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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