Colunas

Regra 10

20/04/2007

Pelos gandulas garotos

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Fabio Cannavaro, eleito melhor jogador do mundo pela Fifa e campeão mundial na Alemanha-2006, foi gandula na Copa do Mundo da Itália-1990. Outros tantos grandes ídolos do futebol brasileiro e mundial também atuaram como apanhadores de bola. Zidane, por exemplo.

Hoje, no Campeonato Paulista, nenhum dos dois teria essa oportunidade. Primeiro pela restrição a crianças neste trabalho. Segundo, porque que a Federação Paulista de Futebol determinou que estudantes universitárias de educação física passam a ser as responsáveis pelo serviço --como já aconteceu na rodada de ida das semifinais.

Nada contra as universitárias, mas tudo isso acaba com o sonho de muitos meninos. Qualquer garoto das categorias de base de qualquer clube estaria sempre disposto a ser gandula somente para ficar perto dos ídolos, para sentir o clima de um jogo de futebol profissional.

Não haveria problema nenhum que fossem crianças ou adolescentes, como sempre aconteceu na história do futebol. Para elas, isso com certeza é mais diversão que trabalho. Aliás, é só diversão.

Foi isso mesmo que levou Cannavaro a ser gandula no estádio San Paolo na semifinal do Mundial de 1990, entre Itália e Argentina. Queria ver de perto Maradona, ídolo de seu clube do coração, o Napoli.

Em entrevista recente, o meia Elano, hoje titular de Dunga na seleção brasileira, defendeu a participação dos jogadores das categorias de base na função, em vez de universitárias. Ele próprio foi gandula no estádio Brinco de Ouro da Princesa, antes de jogar pelo Guarani.

A justificativa para o uso das universitárias é a de que elas seriam "neutras" e evitariam problemas como o atraso na reposição de bolas para favorecer alguma equipe. Até agora, os time mandante contratavam os gandulas.

Para mim, parece mais lógico punir a equipe que estiver sendo favorecida. Se o problema é que o time mandante é quem contratava, então que a federação contrate, mas que sejam garotos de comunidades carentes ou algo do tipo, meninos que sonham estar ali.

Se houver punições sérias aos clubes e orientação decente aos apanhadores, tenho certeza de que os (inúmeros) problemas acabam. E jogadores campeões do mundo poderão continuar relembrando os tempos em que ainda eram gandulas.

Só para relembrar alguns casos recentes com gandulas:

No jogo São Bento x Palmeiras, um gandula de Sorocaba vestia a camisa do Corinthians por baixo. E ficava mostrando o escudo aos torcedores. Acabou expulso.

No clássico entre São Paulo e Corinthians, no Morumbi, um gandula retardou de propósito a reposição de bola para o goleiro corintiano Marcelo. Foi expulso, mas ovacionado pela torcida são-paulina.

Na Série A-2, no clássico Comercial x Botafogo, o gandula Carlos Márcio dos Reis agrediu o goleiro Marcão com uma barra de ferro. Foi suspenso por 30 dias, e o estádio do Comercial, em Ribeirão Preto, interditado até o julgamento. Nos jogos em que o clube for o mandante, os gandulas serão indicados pela federação.

No ano passado, um caso curioso. A árbitra Silvia Regina validou um gol marcado pelo gandula José Carlos Vieira, o Canhoto, 51, para o Santacruzense no empate por 1 a 1 com o Atlético Sorocaba, pela Copa FPF.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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