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Regra 10

23/03/2007

Seu Madruga e Necaxa

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

O Necaxa, que venceu o São Paulo na quarta-feira, pela Libertadores, é um time bastante pitoresco, a começar por ser a equipe pela qual torcem os personagens Chaves e Seu Madruga, do famoso humorístico mexicano.

Roberto Bolaños, criador e intérprete do menino órfão mais famoso da América Latina, chegou a jogar na equipe, pela qual tem inegável simpatia --apesar de ser citado como torcedor ilustre do América.

O falecido ator Ramón Valdez, que fazia o Seu Madruga, porém, sempre foi Necaxa. Inclusive um dos bordões do personagem de Valdez, em espanhol, é "Yo le voy al Necaxa".

A tradução é difícil, mas Seu Madruga usava a expressão para discordar do que alguma pessoa dizia ou para se colocar como diferente, alternativo, já que a torcida do clube, muito grande na época do amadorismo, definhou com inúmeras crises e mudanças de nome na era do profissionalismo.

A falta de torcedores levou recentemente o Necaxa a uma atitude insólita, pelo menos para quem está acostumado às tradições do futebol brasileiro.

Jogando muitas vezes em um estádio Azteca com uns poucos gatos pingados nas arquibancadas, em 2003 os donos do clube decidiram simplesmente transferir a sede da Cidade do México para Aguascalientes, a cerca 500 km de distância.

É difícil encontrar uma comparação, mas seria algo como se o Corinthians se mudasse de mala e cuia para Palmas (TO), ou se o Palmeiras desistisse de São Paulo e fosse para Campo Grande (MS) --apesar de o Necaxa estar mais para uma espécie de Portuguesa, em que pesem os títulos nacionais de 94/95, 95/96 e 98 (Inverno).

A história do time é toda conturbada e passa inclusive por nada menos que duas falências. Na segunda delas, em 1971, o time foi vendido a empresários espanhóis, que mudaram o nome da equipe para Toros del Atlético Español.

O clube só voltou a ser Necaxa, ou Rayos de Necaxa, como é conhecido popularmente devido a sua ligação com o sindicato dos eletricistas, 11 anos depois, em 1982. Esse "desaparecimento", aliado à falta de títulos, contribuiu, e muito, para o declínio da popularidade do tradicional clube, nascido em 1923.

Ainda assim, causa extrema estranheza a troca de cidade. Até o apelido de Rayos virou Hidrorayos por causa do nome da nova sede, Aguascalientes.

Acho que existem coisas que só acontecem no México. Assim como no Botafogo, segundo diz o chavão. Não, botafoguenses, não se preocupem, o clube não vai trocar o Rio de Janeiro por Cuiabá. Pelo menos por enquanto.

Falando em Seu Madruga, existe um episódio em que ele declara ser corintiano para se livrar das cobranças de Seu Barriga. Os dois fazem uma dança bizarra. Vale a pena conferir no Youtube.

O Necaxa é aquele mesmo que jogou o Mundial de Clubes da Fifa de 2000, antes de sua mudança de cidade. Empatou com o Manchester United, venceu o South Melbourne e perdeu para o Vasco na primeira fase. Foi para a disputa de terceiro e quarto com o Real Madrid e acabou vencendo nos pênaltis.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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