Colunas

Regra 10

24/11/2006

Rei sem majestade

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

A grande surpresa da lista dos indicados a melhores do Campeonato Brasileiro de 2006 é uma ausência. Uma surpresa esperada, se é que isso existe. Explico: a maior estrela da era dos pontos corridos no Nacional brilhou menos que o de costume na edição deste ano.

Ninguém --ou muito pouca gente-- vai contestar a ausência de Vanderlei Luxemburgo entre os indicados a melhor treinador do torneio. Apesar de praticamente já ter garantido ao Santos uma vaga na Taça Libertadores de 2007, o ex-técnico do Real Madrid não conseguiu fazer frente ao São Paulo e deve terminar a competição atrás também dos gaúchos Internacional e Grêmio.

Os indicados, com justiça, acabaram sendo Mano Menezes (Grêmio), Muricy Ramalho (São Paulo) e Renato Gaúcho (Vasco).

Mano fez um trabalho excelente no time gaúcho, com o qual conquistou no ano passado a Série B do Brasileiro. Enquanto a maior parte das equipes que sobe da segunda divisão sentem dificuldades na Série A, ele conseguiu fazer seu time, bastante modificado em relação ao do ano passado, jogar bem e manter-se entre os primeiros colocados.

Muricy também fez por merecer. Depois de ter levado o Internacional ao vice-campeonato em 2005 --e de ter levado na ocasião o prêmio de melhor técnico do Brasileiro--, repetiu o sucesso no São Paulo. Teve o grande mérito de flexibilizar o time, que vinha sendo "refém" do esquema 3-5-2. Com ele, a equipe passou a jogar também (e bem) no 4-4-2.

Por sua vez, Renato Gaúcho tem o mérito de ter dado bom padrão de jogo a um time que no papel é, no máximo, mediano. A equipe carioca, que ainda pode conquistar uma vaga na Libertadores-2007, era, até a antepenúltima rodada, a terceira que menos perdeu na competição, com nove derrotas --atrás somente de São Paulo (quatro) e Internacional (oito).

Não relacionado entre os indicados, Abel Braga também poderia fazer parte da lista. Merecia mais neste ano, quando manteve o nível bom do futebol do time, que começou com Muricy no ano passado, do que em 2005, quando foi considerado um dos três melhores por seu trabalho no Fluminense --o time carioca amarelou na reta final e, com uma seqüência de derrotas, deixou escapar a vaga na Libertadores.

Voltando a Vanderlei Luxemburgo, acho natural que ele não tenha aparecido entre os indicados deste ano. Mas ele com certeza teria levado o prêmio, se ele existisse, em 2003 e 2004.

Nas duas primeiras edições do Brasileiro sem mata-matas, Luxemburgo se consagrou como o rei dos pontos corridos. Foi campeão em 2003, com o Cruzeiro, e repetiu a dose no ano seguinte, desta vez com o Santos. Em 2005, ficou boa parte do tempo no Real Madrid e não participou do Nacional.

Mesmo sem grande destaque, não fez um trabalho ruim no Santos neste ano. Principalmente se considerarmos que o time da Baixada Santista tem um elenco realmente inferior ao do campeão São Paulo.

Além disso, no Paulista-2006, também disputado em pontos corridos, Luxemburgo levou os santistas ao troféu e provou que entende do assunto.

Não deu para ele desta vez, mas acho que ainda não é o fim de uma era. Enquanto o Brasileiro for disputado em pontos corridos, o time que tiver Luxemburgo no banco ainda larga na frente.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

FolhaShop

Digite produto
ou marca