Colunas

Regra 10

10/10/2008

Solta a pegadinha

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

A memória prega diversas peças. É a rainha das pegadinhas, superando até Sergio Mallandro, Ivo Holanda ou Ruth Romcy. Confiar nela é tão perigoso quanto colocar dinheiro na bolsa hoje em dia. Por esse motivo eu achava que era um típico caso de ficção querendo se tornar realidade a lembrança de um jogo de futsal em que os dois times queriam perder e em que os goleiros chegaram a trocar de lado para evitar as tentativas de gol contra.

A vaga lembrança da tal partida me veio à cabeça após ver a vergonhosa atuação da Itália contra o Paraguai no Mundial de futsal. Para cair no grupo do Brasil, e assim evitar a seleção de Falcão numa eventual semifinal, o time europeu precisava perder por dois gols de diferença dos paraguaios. Resultado que aconteceu e revoltou o comentarista do Sportv (veja vídeo).

Mas, segundo dizia minha memória, esse outro jogo havia sido muito pior, já que os dois times queriam perder. Me lembrava apenas de que um dos times era o Barcelona e que a equipe a ser evitada era o Inter/Ulbra.

No Google, não encontrei um único registro do jogo. Mas descobri que Inter/Ulbra e Barcelona fizeram a final da Copa Intercontinental de 1996. Portanto havia aí um bom indício de que desta vez minha memória, ao contrário de diversas outras oportunidades, não tentava me aplicar uma pegadinha.

Marcos Diniz, da Federação Paulista de Futsal, me ajudou com mais algumas pistas. O time rival do Barcelona certamente era holandês, e o brasileiro Ricardo Menezes era o técnico da equipe espanhola. O técnico Danilo Martins deu outra contribuição: o brasileiro Alécio era um dos que marcou gol contra pelo Barcelona.

Mas ninguém soube dizer qual era o time holandês. Aí encontrei o Alécio. Ele esteve naquele jogo, mas disse que não fez nenhum dos gols contra. E informou que o rival do jogo polêmico era, na verdade, dos Estados Unidos. E qual era o nome do time? Isso o Alécio não soube dizer. Disse que não se lembrava, que era um nome complicado.

Acabei numa conversa coletiva via MSN com o goleiro Julinho, que jogou no New England Futsal, mas que também não soube dizer qual era o time. O Julinho, por sua vez, tentou contatos com vários outros jogadores. E o Danilo, em outro front, continuou a busca pela "equipe perdida".

Passei pela "velha guarda" toda do futsal, Morruga, Ortiz, e nada. Ninguém sabia. Somente já nesta sexta-feira, depois de publicada a primeira versão desta coluna, consegui, com a ajuda de Glen Stevenson, por e-mail, direto dos EUA, resolver o mistério.

Neste link existe uma tabela com todos os resultados daquela competição. E o Alécio estava certo. O time era norte-americano e chamava-se Di Bufala. Numa busca inicial você pode achar um monte de páginas falando sobre muzzarela, mas a equipe é real e ainda existe, conforme comprova o site oficial.

O jogo aconteceu. E o Barcelona conseguiu exatamente o que queria. Os relatos de várias das pessoas que procurei diziam que o time espanhol havia perdido por 2 a 1, mas na verdade o resultado foi 3 a 1.

De fato, o Barça segurou o 0 a 0 até perto do fim e aí começou a marcar gols contra de propósito. Quando os jogadores do Di Bufala começaram a também tentar o gol contra, tiveram menos sucesso: o goleiro do Barcelona deixou seu gol e foi defender a meta rival, impedindo a equipe americana de perder.

Uma das partidas mais vergonhosas da história do futebol, seja de campo ou de salão. Se não me falha a memória.

*

Outra bela falcatrua do futebol aconteceu nesta semana na Série C. O Duque de Caxias-RJ empatou por 2 a 2 com o Rio Branco-AC, no estádio Arena da Floresta, em Rio Branco. Mas a partida teve que ser encerrada antes do fim, aos 38min, porque o Duque de Caxias tinha três jogadores expulsos, Renatinho, Douglas Silva e Tica, e dois jogadores, Edvaldo e o goleiro Ronaldo, "se machucaram" após o gol de empate. Sem número suficiente de jogadores, o árbitro Rosinildo Galdino da Silva encerrou a partida. Fazia tempo que não acontecia um cai-cai.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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