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Regra 10

09/01/2009

Pelé disse: Love, love, love

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Qualquer declaração de Pelé, principalmente quando acontece no exterior, vira notícia no mundo todo. Mesmo que seja pura bobagem, modalidade discursiva em que o "sublime crioulo", como era chamado por Nelson Rodrigues, também é craque.

Mas nem só de bolas fora é feito o desempenho de Pelé diante dos microfones. Em meio a um elogio ao meia Kaká, que o ex-camisa 10 da seleção disse considerar como melhor do que Cristiano Ronaldo, uma frase chamou a atenção.

"Sem o amor das crianças, o futebol morrerá", disse o Rei.

Acreditando que não existe aí nenhum tipo de demagogia, a frase é linda. Tão bonita quanto aquela proferida em 1º de outubro de 1977, quando diante de um estádio lotado em Nova York ele se despediu definitivamente do Cosmos e do futebol com um discurso sucinto: "Love, love, love".

Nada mais precisava ser dito. As palavras, repetidas pela multidão, emocionaram de John Lennon a Muhammad Ali. E viraram até música, em composição de Caetano Veloso.

Voltando às crianças, o que Pelé estava querendo dizer é que o jogador de futebol precisa ter identificação com um clube para que as crianças possam torcer para as equipes. Como ele teve com o Santos, e como ele julga que Kaká tem com o Milan.

Eis a frase completa, para dar o contexto: "Não existem muitos hoje como Kaká e eu. Eu realmente não gosto de ver jogadores mudando constantemente de clube e sempre beijando a camisa. Assim, as crianças não sabem se torcem por um clube ou um jogador, e temos de lembrar uma coisa: sem o amor das crianças, o futebol morrerá."

Se não existe demagogia, porém, está claro que um pouco de inocência há de haver. Infelizmente não é tão fácil hoje um jogador manter-se em um único clube por muito tempo --principalmente se não for um supercraque como Kaká.

Mas, na essência, Pelé está muito certo. Desta vez.

De vez em quando, a separação entre Pelé e Edison, criada por ele próprio, desaparece. O Edison, responsável pelas "furadas" normais dos seres humanos, inexistentes em Pelé, também tem seus dias sublimes.

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Quanto ao Pelé cabe pouca discussão, apesar de ser difícil para quem não o viu jogar ter a dimensão exata de o que ele representou, como é meu caso. Mas está aí o filme "Pelé Eterno" para não deixar os mais velhos mentirem. E todos os VTs. A TV Cultura chegou a passar tempos atrás todos os jogos do Brasil na Copa de 1970 na íntegra. Bem que podiam passar de novo periodicamente...

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Sobre Edison existem inúmeras criticas possíveis, desde polêmicas em sua atuação com empresário a escândalos pessoais. Basta lembrar que ele foi obrigado na Justiça a assumir a contragosto a paternidade de uma filha. E que sua empresa sumiu com recursos do Unicef destinados a um evento beneficente.

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Voltando à história do Cosmos, existe um filme que parece ser muito interessante sobre a história do time. O nome em inglês é Once in a Lifetime : The Extraordinary Story of the New York Cosmos. Uma frase dita no trailer sobre as turnês da equipe resume mais ou menos o que era a coisa: "Era como viajar com os Rolling Stones".

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Ouça a música Love, love, love, de Caetano Veloso, que faz referência à frase dita por Pelé em sua despedida.

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E veja algumas jogadas de Pelé pelo Cosmos aqui e aqui.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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