Regra 10
O incrível jogador que não existe
EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online
Todo mundo já ouviu falar de jogador que some em campo, mas existe também jogador que some sem nem mesmo entrar em campo. Aliás, "existe" não é o verbo mais correto a ser aplicado aqui. O melhor seria dizer, por mais contraditório que pareça, que existe jogador que não existe.
No dia 12 deste mês, o respeitado jornal britânico "The Times" publicou uma lista com os nomes de 50 jogadores considerados pelo periódico como as maiores promessas do futebol mundial. A relação era encabeçada pelo são-paulino Hernanes, apontado assim como a maior promessa dos gramados do mundo.
Até aí, tudo normal. Mas na 30ª posição aparecia um tal Masal Bugduv, de Moldova. O jogador era descrito como atacante de 16 anos, que estaria muito perto de uma transferência para o Arsenal, além de ser cobiçado por outros clubes "top".
O único detalhe é que Bugduv simplesmente não existe. Ele é fruto de um hoax, um boato virtual, uma brincadeira.
Tanto quanto a ingenuidade do jornalista do "Times", impressiona também neste caso a disposição dos inventores do atleta fictício para fazer com que ele parecesse real.
Tudo começou em blogs, passou por notícias falsas creditadas à Associated Press, por modificações em páginas da Wikipedia e acabou indo parar não só no "Times" como também no site da "Goal" e da revista "When Saturday Comes".
Ao perceber a bobagem, o "Times" simplesmente retirou o nome do jogador da lista, substituindo-o por Jay Simpson, jogador de carne e osso, inicialmente sem dar satisfação ao leitor. Alguns dias depois, publicou uma espécie de errata, com pedido de desculpas.
Vale a pena ler no site Soccer Lens a explicação em detalhes de como surgiu Masal Bugduv e de como foi descoberta a farsa.
Quem assina o texto é um tal Fredorrarci. Ele vai fundo na história. Mais do que um fato pitoresco que entra para a história do futebol, o caso mostra como é possível plantar notícias com relativa facilidade. Em especial na internet.
Só faltou descobrir o nome do criador (ou dos criadores) da lenda. Mas esse é um mistério que parece que não será resolvido.
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Masal Bugduv tem agora até uma página no Wikipedia. Mas fica bem claro ali que ele é fictício.
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A lista dos 50 do "Times" continua no ar, mas já sem o nome de Masal Bugduv.
Na nota em que admite o erro, que, diga-se, é bastante difícil de achar, o "Times" cita outros supostos casos de jogadores-fantasma para tentar diminuir a vergonha. Beleza...
No site da Goal, um asterisco no pé da reportagem fala do equívoco.
A revista "When Saturday Comes" não só admite o erro como também relembra um caso de 2003, quando publicou reportagem sobre o austríaco Ernest Gund, muito parecido com o de Masal Bugduv. Gund seria contratado pelo Leeds United e chegou a ser cogitado pelo Liverpool, segundo jornais da época. Mas também não existia. Era outro caso de hoax, inclusive com página "oficial" do jogador, no ar até hoje (tosca).
Em seu blog, o "Guardian" não perdoou o "Times" e foi bastante duro na crítica, apesar do texto bem-humorado.
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O nome Masal Bugduv é, provavelmente, uma corruptela de M'Asal Beag Dubh (Meu Pequeno Burro Preto), obra do escritor irlandês Pádraic Ó Conaire. O texto, sobre um vendedor desonesto que quer cobrar um preço exagerado por um burro preguiçoso, serviria com uma sátira das transferências no futebol. Outra dica aponta para uma provável origem irlandesa do hoax. Nas notícias falsas, é citado o jornal moldávio "Mo Thon", que também não existe. Mo Thon, em irlandês, quer dizer Meu Traseiro, numa tradução "suave".
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Além de Hernanes, Douglas Costa (Grêmio, 5º), Fábio Da Silva (Manchester United, 9º), Carlos Eduardo (Hoffenheim, 11º), Thiago Silva (Milan, 20º) e Miranda (São Paulo, 39º) eram brasileiros que estavam na lista das maiores promessas. Todos existem.
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Mudando totalmente de assunto, a TV Cultura anuncia para domingo, às 14h, o VT completo de Santos 4 x 0 Corinthians no Campeonato Brasileiro de 1972, no Morumbi. Com Pelé em campo.
Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.
