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Regra 10

13/02/2009

Ataque dos Cem Gols Revival

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

O próprio Vanderlei Luxemburgo, em não-raro momento de narcisismo, evocou o hoje mítico time do Ataque dos Cem Gols, comandado por ele em 1996, para valorizar a atual equipe do Palmeiras. "As pessoas se esqueceram da minha história de montar grandes equipes", disse.

Deve-se dar a mão à palmatória. Mas que o professor Luxemburgo não seja muito duro neste castigo. Por alguns motivos a saber.

Em 1996, como agora, de fato o Palmeiras deu um grande salto de rendimento na virada de uma temporada para a outra. Mas a base da equipe de 1995 permaneceu. O que aconteceu foi mais como a adição de um tempero novo a uma receita antiga.

Sete jogadores titulares do ano anterior foram mantidos para a equipe que faria história no Paulistão-96: Velloso, Cafu, Cléber, Amaral, Flávio Conceição, Rivaldo e Müller. A pitada que faltava para fazer o time dar gosto veio com as entradas de Sandro, Júnior, Djalminha e Luizão. Em especial estes dois últimos.

No final de dois turnos, ou 30 jogos, o Palmeiras fez nada menos do que 102 gols, 70 deles com seu quarteto de frente, afinadíssimo. Luizão balançou as redes 22 vezes, Rivaldo, 18, Muller, 15, e Djalminha, 15. Para completar, Velloso foi vazado apenas 19 vezes. O que deixou o time com o impressionante saldo de 83 gols.

Foram 83 pontos conquistados em 27 vitórias e dois empates. Houve apenas uma derrota. Um gol do atacante Sílvio decretou um revés palmeirense por 1 a 0 para o Guarani e impediu a campanha invicta.

O time que chegou mais perto na campanha foi o São Paulo, com 55 pontos nos dois turnos. Nada menos do que 28 a menos. Uma lavada.

Por tudo isso, fica difícil e até injusto querer fazer uma comparação com o time atual. Apesar de Luxemburgo e seu ego já requererem os louros pelo sucesso, é melhor esperar para ver no que vai dar.

Porém, mesmo que este time não venha a ter o mesmo brilho da equipe de 1996, ele já pode ser considerado como o melhor dos últimos anos. Oito vitórias em oito jogos na temporada não é pouco. Principalmente com a equipe jogando bem, como é o caso.

E, desta vez, Luxemburgo tem o mérito de ter feito revolução maior na equipe em relação ao ano anterior. Agora, em vez de sete atletas mantidos, são sete peças novas encaixadas pelo treinador.

Maurício, Danilo, Armero, Edmilson, Claiton Xavier, Willians e Keirrison não estavam no Palmeiras de 2008. Ficaram apenas o goleiro (Marcos ou Bruno), e mais Capixaba, Pierre e Diego Souza. Ou seja, de fato um time novo.

Só não se pode dizer que vem por aí um novo Ataque dos Cem Gols por um motivo prático. Mesmo se for campeão, o Palmeiras fará no máximo 23 jogos, o que torna virtualmente impossível atingir a marca centenária. Mas quem sabe não é este o Ataque dos 70 Gols? Se a média atual for mantida, dá pra chegar perto disso.

E aí o professor pode mais uma vez aplicar a palmatória que minha mão estará estendida.

*

Uma outra semelhança, esta indesejada, do time atual com o de 1996 pode assombrar Luxemburgo e os torcedores. Aquela equipe durou apenas seis meses. E, como a maior parte dos jogadores atuais, entre eles Keirrison, Willians e Claiton Xavier, pertence a grupos de empresários, tudo indica que o Palmeiras deve virar uma feira livre no próximo mercado de transferências europeu. A alegria, portanto, pode durar pouco.

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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