Colunas

Regra 10

28/08/2009

Confundir, e não explicar

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

"Tornar o simples
complicado é lugar comum.
Fazer o complicado simples,
impressionantemente simples,
isso é criatividade."
Charles Mingus, compositor de jazz americano

O apresentador de TV Chacrinha tinha um bordão que dizia: "Eu vim para confundir, não para explicar". Tudo a ver com a natureza anárquica de seus programas, em que distribuía abacaxis e bacalhaus para a plateia.

A exemplo do Velho Guerreiro, o regulamento da Série D veio para confundir. Mas ao contrário do que pretendia (e conseguia) o lendário comunicador, a confusão criada na quarta divisão do Campeonato Brasileiro nada tem de pitoresca --tem, e muito, de dantesca.

Para tentar explicar o que, a rigor, é inexplicável:

A terceira fase da competição começa no sábado com dez confrontos de mata-mata. Mata-mata, porém, não é um termo que pode ser utilizado com precisão neste caso, já que, pelo regulamento, avançarão à quarta fase os vencedores dos confrontos e os três melhores perdedores. Ou seja, é praticamente um mata-vive, provavelmente o primeiro da história.

Para piorar essa situação, o artigo que descreve como serão definidos os três melhores perdedores não é claro. Não dá para entender se serão os três que tiverem melhor desempenho neste "mata-vive" ou se serão os três que tiverem melhor desempenho somando todas as fases.

Confiram a íntegra do item "c" do artigo "10" do regulamento e vejam se fica claro: "os dez clubes classificados na 2ª fase, divididos em cinco grupos de dois clubes cada, jogam entre si em ida e volta dentro de cada grupo, classificando-se os clubes vencedores de cada grupo e mais os três clubes melhores classificados como segundos dentre os disputantes da 3ª fase".

Então o diretor de competições da CBF esclareceu que os melhores perdedores serão definidos pela somatória de toda a competição.

Aí é que a coisa deixou de ser apenas esdrúxula para se tornar caso de justiça. Isso porque, com estes critérios, duas equipes, Chapecoense-SC e Macaé-RJ, já entram no "mata-vive" classificadas para a quarta fase, já que suas campanhas até aqui garantem no mínimo vagas como melhores perdedoras.

E, se elas já estão classificadas, qual seria o motivo para jogar com seriedade contra seus rivais, respectivamente Londrina-PR e Tupi-MG? Mesmo considerando que não haja nenhum tipo de marmelada, como simplesmente vender o jogo, é óbvio que a motivação destas equipes não será a mesma que teriam se estivessem jogando pela classificação.

Ainda tem mais. São Raimundo-PA e Cristal-AP fazem outro confronto. Ambos também estão quase classificados pelo índice técnico. Se cada um ganhar um jogo, a pontuação obtida vai classificar os dois --um pelo índice técnico e o outro na eventual disputa de pênaltis do próprio confronto.

Assim, largam em "franca desvantagem" Alecrim-RN e Sergipe-SE, que fazem um confronto, e Araguaia-MT e Uberaba-MG, que fazem outro.

Tudo isso graças exclusivamente ao gênio que criou o regulamento. E olha que não é fácil criar um monstro desses. É a antítese da citação de Charles Mingus na epígrafe da coluna.

E já que voltei ao início, peço licença ao Chacrinha para fazer a pergunta: Esse sujeito vai pro trono ou não vai?

*

Falando em Série D, é impressionante e triste o fato de o Santa Cruz não ter passado nem mesmo da primeira fase. Um time que em 2006 estava na Série A. Acho que não existe nenhum tipo de explicação lógica para isso. Mesmo eliminado precocemente, o Santa teve média de público de 38.246 nos jogos que fez no Arruda. A média é melhor que a de todos os clubes da Série A, exceto o Atlético-MG, que está muito pouco acima (38.777).

*

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Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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