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Regra 10

18/09/2009

Ídolo brasileiro no Boca Juniors

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Se de fato vier a jogar pelo Corinthians, Riquelme será o décimo argentino a vestir a camisa alvinegra nos 99 anos de história do clube. Não é muita coisa, principalmente se compararmos com a quantidade de brasileiros que já atuaram pelo Boca Juniors, por exemplo. Até hoje, 24 atletas nascidos por aqui envergaram o uniforme azul e ouro.

O clube do Parque São Jorge chegou a ser chamado de Timón recentemente devido à presença de vários argentinos, mas até menos de uma década atrás apenas dois hermanos haviam passado pelo time, o goleiro Buttice (1974) e o meia Veira (1976). Ávalos foi o terceiro, no ano 2000.

A partir de 2005, outros seis argentinos foram contratados: Sebá, Mascherano, Carlitos Tevez, Herrera, Escudero e Defederico.

A história dos brasileiros no Boca Juniors começou muito mais cedo e é muito mais rica. O primeiro a chegar ao clube de Buenos Aires foi Martín Silveira, há quase 80 anos, em 1933.

Antes mesmo de o futebol brasileiro explodir para o mundo, diversos atletas nacionais fizeram sucesso pelo time bostero. Alguns deles craques como Domingos da Guia, zagueiro lendário, pai do ídolo palmeirense Ademir da Guia, nos anos 30, e Heleno de Freitas, o galã boêmio, nos anos 40.

Outros jogadores consagrados no Brasil tiveram passagens pelo clube portenho, inclusive atletas de seleção brasileira. Nos anos 60 foi uma verdadeira avalanche de brasileiros. Acreditava-se na Argentina que os campeões mundiais de 1958 e 1962 pudessem dar vida ao então modorrento futebol praticado por lá.

Nesta época, jogaram no time xeneize brasileiros como Orlando, Dino Sani, Del Vecchio e Almir Pernambuquinho.

O último brasileiro a passar por lá foi o lateral Baiano, chamado por eles de Bombom, sem muito brilho, em 2005, após Iarley ter feito relativo sucesso entre 2003 e 2004.

Mas o maior ídolo brasileiro no Boca Juniors foi um jogador que ficou mais famoso por lá do que por aqui. Foi muito mais ídolo para os boquenses do que Carlitos Tevez foi para os corintianos, sem dúvida.

Paulo Valentim, que no Brasil jogou por Atlético-MG e Botafogo, foi chamado para jogar o Sul-Americano de 1959 pela seleção brasileira em Buenos Aires. Impressionou os argentinos e acabou contratado pelo Boca.

A partir daí, iniciou uma trajetória de quatro anos pela equipe argentina, pela qual fez 115 partidas e 71 gols, conquistando dois títulos nacionais, em 1962 e 1964. Foi artilheiro do time em três das quatro temporadas que jogou.

Mas o feito que faz com que ele seja lembrado até hoje pela torcida do time mais popular do país vizinho é outro. Paulo Valentim continua sendo o maior artilheiro do Boca no superclássico contra o River Plate em todos os tempos. Foram dez gols marcados em sete jogos oficiais contra os arquirrivais. Fora os três tentos feitos em amistosos. Nem Maradona, nem Palermo e nem ninguém supera o brasileiro.

Apesar do sucesso no clube, Paulo Valentim não voltou a figurar na seleção brasileira. No fim de carreira, ainda chegou a jogar no São Paulo e no Atlante, do México, sem grande expressão.

Voltou a Buenos Aires para trabalhar como treinador de categorias de base. Morreu na capital argentina, aos 50 anos, em 1984, vítima de problemas cardíacos e hepáticos muito provavelmente causados por sua intensa vida boêmia.

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O maior feito de Valentim no futebol brasileiro aconteceu na final do Carioca de 1957. O atacante fez cinco gols, um deles de bicicleta, na vitória por 6 a 2 do Botafogo sobre o Fluminense, resultado que pôs fim ao jejum de títulos do time de general Severiano, que já durava desde 1948. Ele jogou 206 partidas pelo time carioca e marcou 135 gols. Pelo Atlético-MG, foi campeão estadual em 1954, 55 e 56.

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Curiosidade: Paulo Valentim foi casado com Hilda, que inspirou a criação do romance Hilda Furacão e da minissérie homônima na TV Globo.

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A origem do termo bosteros para definir a torcida do Boca tem origem na bosta dos cavalos que era usada como matéria prima em uma fábrica de ladrilhos que ocupava o lugar onde hoje está o estádio la Bombonera.

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O termo xeneize, que se refere ao time e aos torcedores, tem origem na concentração de imigrantes italianos genoveses que se concentrava na região de La Boca na época de fundação do clube. A palavra é uma deformação de "zeneïze", do dialeto que se fala na Liguria, cuja capital é Gênova, e significa simplesmente "genovês".

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Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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