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Regra 10

16/10/2009

Maradona, tatua o Dunga

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

Maradona carrega no ombro direito a imagem tatuada de Che Guevara. Na perna esquerda, leva Fidel Castro. Em comum com os líderes da revolução cubana, muito além de qualquer tipo de ideologia, o ex-jogador argentino tem a aura de mito. Por isso mesmo, ele próprio é tema de inúmeras tatuagens não só na Argentina mas também mundo afora.

Exemplo emblemático: o meia Lucho Gonzalez, que tem sido convocado regularmente pelo técnico argentino, tem na perna esquerda uma tatuagem de Maradona com a camisa da seleção nacional.

Alguém já imaginou um atleta da atual seleção brasileira --ou qualquer pessoa no gozo de perfeitas faculdades mentais-- com uma imagem do Dunga eternizada em tinta no próprio corpo?

Pois é. Acontece que Maradona é um mito. É considerado como Deus por muitos argentinos, e ele próprio parece acreditar nisso. Unanimidade nacional. Ou, pelo menos, era.

Essa passagem do ex-jogador como técnico da seleção jogou sua imagem lá para baixo. O motivo é óbvio. Ele não é e nem nunca foi técnico. Jamais deveria ter sido.

Pior: não aceita críticas. Seu time é um verdadeiro catado, mudou drasticamente a cada rodada das eliminatórias, não jogou nada, esteve na iminência de ficar fora até mesmo da repescagem para o Mundial. E Maradona ainda acha que não merecia ser malhado pela imprensa. Afinal, deve mesmo achar que é Deus.

Após a vitória em Montevidéu, mandou todos os jornalistas "chuparem". Um desabafo bem vergonhoso aos que ousaram criticá-lo. Se pudesse, ele com certeza dispararia tiros de chumbinho contra os repórteres, como fez certa vez com alguns que estavam em frente a sua casa.

Em meio a seu showzinho na coletiva de imprensa, Maradona disse que dedicava a conquista da vaga ao povo argentino, e só a eles. Ignorou, no entanto, uma pesquisa do jornal "La Nación" que mostrou que 85% do público não o quer como treinador do time nacional.

A voz do povo, neste caso, não parece ser a voz de Deus.

Logo após ter assumido a seleção, Maradona disse que queria um time bem diferente da seleção brasileira de Dunga. "Se minha equipe vai jogar como a de Dunga? Não, não jogo como Dunga. Ele dava botinadas e eu me esquivava delas", disse.

Mas o treinador argentino deveria rever sua opinião. Melhor adotar o estilo de Dunga do que não ter estilo nenhum. Fora de campo, o modo rude de tratar a imprensa já não difere muito.

Quem sabe Dunga não pode se tornar até ídolo de Maradona.

Quem sabe Maradona não será o primeiro a fazer uma tatuagem de Dunga. Deve haver espaço para uma ali na perna direita. Não era a perna boa, mas o técnico brasileiro vai entender que a outra já é de Fidel Castro.

*

Críticas ao comportamento e à capacidade de Maradona como técnico à parte, fico feliz de a Argentina ter se classificado para a Copa. Qualquer Copa sem Argentina, Brasil, Alemanha ou Itália ficaria mais chata. E torço também para que o Uruguai passe pela Costa Rica na repescagem e se classifique, apesar de o time celeste ser muito, muito ruim.

*

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Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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