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Regra 10

06/11/2009

Como driblar um bruxo?

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

No filme "Boleiros" há uma história sobre um jogador que sofre com um problema de contusão e que custa a voltar. Todo mundo já começa a olhar torto, achando que o cara é "chinelinho". Fazem os melhores tratamentos médicos e nada resolve. Parece que não tem mais jeito, o craque está acabado. Até que uns torcedores o levam a uma espécie de pai de santo, que receita umas mandingas. Milagrosamente, ele volta a jogar.

Não duvide, essas coisas acontecem também na vida real. Não, não quero dizer que jogadores se curam ou se machucam por obra de forças ocultas - embora haja quem acredite nisso também. O que quero dizer é que não é raro que clubes e atletas profissionais recorram a recursos deste tipo.

Até mesmo quando se trata do jogador mais caro da história do futebol. Afinal, Cristiano Ronaldo custou cerca de R$ 230 milhões ao Real Madrid e até agora não conseguiu mostrar muita coisa. Fez alguns bons jogos e depois se machucou em uma partida da seleção portuguesa.

Acontece que um suposto bruxo espanhol chamado Pepe, um destes oportunistas, havia dito pouco tempo antes da contusão que iria fazer o o português se machucar. Pimba. Não deu outra.

Aí o cara ganhou holofotes, falou um monte. Disse até que vai acabar definitivamente com a carreira do jogador. Afirma ter sido contratado por uma mulher rica, uma celebridade que não é espanhola - as revistas de fofoca apontaram Paris Hilton, com que Cristiano Ronaldo teve affair, como a principal suspeita.

Por via das dúvidas, o irmão do meia-atacante, Hugo, procurou um outro bruxo para tentar anular o efeito do feitiço. Pediu o auxílio de um sujeito conhecido como Bruxo de Fafe, que o tranquilizou dizendo que o tal do Pepe não passa de um falsário.

A mãe de Cristiano Ronaldo, segundo o jornal português "Correio da Manhã", chegou a contatar diretamente o bruxo Pepe para fazer uma contraproposta, mas o "mago" foi irredutível e disse que vai mesmo continuar seu projeto de acabar com o astro.

Repito: estamos falando aqui do jogador mais caro da história do futebol. Daquele foi apresentado com toda a pompa diante de 85 mil pessoas, que lotaram o estádio Santiago Bernabéu só para vê-lo fazer umas embaixadinhas e dizer três ou quatro palavras.

Bom, talvez até por isso mesmo seja melhor não dar sopa. O português já está parado faz um mês e vai ficar pelo menos mais um sem jogar. Se tiver que passar por cirurgia, serão pelo menos três meses de recuperação.

Se fosse você que tivesse investido a obscena quantia de 80 milhões de libras em um único jogador, será que você não procuraria um bruxo só para garantir?

É melhor o Cristiano Ronaldo e o Real Madrid começarem a acreditar em bruxas, si las hay o si no las hay.

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No Brasil, é bastante comum pais de santo trabalharem para times de futebol. Pai Nilson chegou a ser contratado do Corinthians. Robério de Ogum também já prestou seus serviços a diversos clubes. Quando esteve no Corinthians, o técnico Vanderlei Luxemburgo criava galinhas no Parque São Jorge para fazer alguns "trabalhos", segundo cartolas.

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No ano passado, no Santos, os trabalhos de Robério para Luxemburgo causaram mal-estar entre os jogadores evangélicos. Em 2007, porém, Luxa teve um adversário à altura. Antes de um clássico, o corintiano Vampeta explicou como planejava vencer o Santos de Luxemburgo: "Já providenciei o sal grosso, as velas, a galinha, o alho. Quando tem clássico sei como o Vanderlei trabalha. Se depender dos orixás, o nosso será mais forte". Deu certo. O Corinthans venceu 2 a 0.

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Também em 2007, tanto o pai Nilson como Robério de Ogum fizeram esforços para evitar o rebaixamento corintiano - extraoficialmente. Pai Nilson não gostou nada da "ajuda" de Robério. Achou que o outro pai de santo estava "atravessando". No final, o time do Parque São Jorge teve mesmo que disputar a segunda divisão no ano seguinte.

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Como diz o velho e batido ditado: se macumba vencesse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado.

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Parabéns ao Seu Maury, meu pai, que faz 70 anos nesta sexta.

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Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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