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Regra 10

18/12/2009

Técnicos estrangeiros no Brasil

EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online

A contratação do técnico uruguaio Jorge Fossati pelo Internacional é uma aposta bastante arriscada. Há muito tempo um treinador estrangeiro não faz sucesso no Brasil. Pior: em toda a história do futebol nacional, foram pouquíssimos os que conseguiram triunfar.

A lista de fracassos, no entanto, é bem extensa. Estão nela nomes como por exemplo os de Daniel Passarella, Elias Figueroa, Roberto Rojas, Pedro Rocha, Hugo de León, Lothar Matthäus, Dario Pereyra etc, etc, etc. Curiosamente, todos foram bons jogadores.

O próprio Inter já teve alguns estrangeiros no comando do time, mas jamais foi campeão com um técnico que não fosse brasileiro.

Fossati chega, portanto, com uma missão difícil e inédita. A principal justificativa para a aposta é de que ele pode dar à equipe uma "cara de Libertadores". Leia-se impor a melhor tradição uruguaia de força e raça, características que supostamente são essenciais na competição sul-americana.

Aí já aparece, a meu ver, o primeiro caso para se pensar. Será que a Libertadores ainda é isso, um torneio em que o futebol força é o mais importante? É, no mínimo, discutível.

De qualquer forma, essa também é a tradição gaúcha. Então, isso não chega a ser um problema.

O fato de ser estrangeiro em si também não representa um problema, apesar de a língua inevitavelmente dificultar um pouco as coisas no começo --dizem que ele fala português, então essa barreira também já estaria derrubada.

O que vai pesar para valer, acredito, será o nível de conhecimento que Fossati tem não só do Inter, mas de todo o futebol brasileiro.

Na hora de contratar um atleta, por exemplo, será que ele saberá indicar um lateral bom de bola que ele sabe que está jogando na Ponte Preta, por exemplo? Ou um atacante rápido que ele quer que joga no Ipatinga? Ou um zagueirão do Fortaleza?

Fora isso, existe toda a tradição cultural do futebol brasileiro, a maneira de lidar com os atletas e as mais diversas idiossincrasias nacionais com as quais ele terá que lidar.

Para não parecer que estou querendo secar o novo técnico colorado, vale lembrar também os casos de sucesso de estrangeiros no comando de times brasileiros.

O húngaro Nicolas Ladanyi, por exemplo, foi importantíssimo para o futebol nacional nos anos 1930, quando dirigiu o Botafogo e venceu os estaduais de 1930, 1932, 1933 e 1934.

Tempos depois, no fim dos anos 50, seu compatriota Bela Guttmann fez um pequena revolução no futebol do Brasil com um curta passagem pelo São Paulo em que introduziu inovações táticas.

Nos anos 60, o argentino Filpo Núñez comandou o timaço da Academia do Palmeiras e também tornou-se o único estrangeiro a dirigir a seleção brasileira, numa partida em que os palmeirense representaram o Brasil.

Talvez seja a hora de um estrangeiro voltar a brilhar com a prancheta por aqui.

*

Curiosidade: das 32 seleções que irão à Copa-2010, 11 têm técnicos estrangeiros. São elas Austrália (Pim Verbeek, holandês), África do Sul (Carlos Alberto Parreira), Camarões (Paul Le Guen, francês), Chile (Marcelo Bielsa, argentino), Costa do Marfim (Vahid Halilhodzic, bósnio), Gana (Milovan Rajevac, sérvio), Grécia (Otto Rehhagel, alemão), Honduras (Reinaldo Rueda, colombiano), Inglaterra (Fabio Capello, italiano), Paraguai (Gerardo Martino, argentino) e Suíça (Ottmar Hitzfield, alemão).

Eduardo Vieira da Costa foi repórter do diário "Lance" e da Folha Online, onde atualmente é editor de Esporte. Escreve a coluna Regra 10, semanalmente, às sextas-feiras, além de comentar futebol em podcast neste mesmo dia.

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