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COMO FOI
Parte das vítimas foi encurralada nas celas durante operação

LARISSA SQUEFF
da Folha Online
e do Banco de Dados

O massacre do Carandiru teve repercussão internacional devido à quantidade de mortos envolvidos e também pela forma como os presos foram abordados e mortos pela polícia.

As vítimas foram acuadas e muitas delas acabaram sendo mortas encurralados nas celas, sem chance de se defender. Alguns sobreviventes do massacre relataram, mais tarde, que alguns presos se jogaram em cima de cadáveres para fingir que estavam mortos e tentar sobreviver.

O comportamento das autoridades, em esconder o verdadeiro número de mortos da imprensa e das famílias das vítimas, também foi um fator que contribuiu para que o caso ganhasse ainda mais repercussão.

O processo do massacre é um dos maiores do Estado de São Paulo. São 150 volumes de processo, 85 policiais militares denunciados, 111 presos mortos e outros 86 presos feridos. No começo eram 120 réus, mas devido à demora do julgamento 35 processos prescreveram.

O julgamento do coronel da reserva Ubiratan Guimarães, que começa nesta quarta-feira, deve durar pelo menos dez dias. Se o juiz Nilson Xavier de Souza, do 2º Tribunal do Juri, do Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, entender que o coronel tinha a intenção de matar os 111 presos, Guimarães pode pegar mais de 3.000 anos de prisão.

Leia a seguir a cronologia da ação da Polícia Militar na Casa de Detenção do Carandiru:



02/10/92

14h - Começa uma briga no segundo andar do Pavilhão 9, entre os presos Antonio Luís do Nascimento (o Barba) e Luís Tavares de Azevedo (o Coelho). Um está armado com um pedaço de pau, e o outro, com um cano de metal.

14h30 - Os feridos são levados para a enfermaria, no pavilhão 4. Os agentes penitenciários trancam a grade de acesso ao segundo andar.

14h30 - Os presos que estão no segundo andar conseguem quebrar o cadeado e romper a grade. O tumulto é generalizado. Os agentes abandonam o pavilhão. Começa a rebelião. Os presos criam três focos de incêndio e queimam os arquivos. Fazem barricadas nos corredores. A Polícia Militar é chamada.

15h - O secretário de Segurança Pública, Pedro Franco de Campos, telefona para o então governador Luiz Antonio Fleury Filho, que está em Sorocaba, interior de São Paulo. Essa versão é sustentada pelo deputado estadual Elói Pietá (prefeito eleito em Guarulhos) no livro "Pavilhão 9 - O Massacre do Carandiru". O governador nega a versão. Fleury disse que só foi informado, "superficialmente", sobre o ocorrido às 18h30.

15h45 - Os juízes-corregedores, José Ismael Pedrosa, diretor do presídio, e o coronel Ubiratan Guimarães seguem para o pavilhão 9. Não há negociação com os presos. Ubiratan Guimarães toma o comando da operação.

16h20 - Ubiratan Guimarães conversa por telefone com o secretário Pedro Franco de Campos, que autoriza a invasão para "sufocar" a rebelião. "Você que está no local, avalie e faça o que tem que fazer", teria dito Campos.

16h30 - 362 policiais militares invadem o pavilhão 9. Estão armados com revólveres, metralhadoras alemãs, fuzis M-16, pistolas, punhais e um lança-bombas. Há ainda mais 13 cães.

No início, alguns presos oferecem resistência. Os policiais recebem uma "chuva" de armas improvisadas, atiradas no pátio pelos presos. Uma pequena explosão fere o coronel Ubiratan Guimarães. Assume o comando o capitão Wilton Brandão Filho.

17h - A Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) invade o primeiro e o segundo andar. Mata todos os ocupantes de 11 celas. No segundo andar, morrem 60% das vítimas do massacre. O COE (Comando de Operações Especiais da Polícia Militar) ocupa o terceiro andar. O quinto pavimento (quarto andar) fica com o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar).

17h - Saem os primeiros carros da polícia, levando PMs feridos. Os presos sobreviventes são retirados de suas celas, nus e descalços, e levados para o pátio. No caminho, atravessam corredores poloneses e são agedidos com cacetetes, facas e baionetas.

18h - Os presos sobreviventes são obrigados a carregar os cadáveres para uma sala no primeiro andar. Muitos que ainda estavam vivos neste momento, foram mortos nessa operação.

19h - Oito presos são levados para o pronto-socorro de Santana, na zona norte de São Paulo, em um carro da polícia. Dois deles saem vivos da Casa de Detenção, mas chegam mortos ao PS.

23h - Pedrosa é o primeiro civil que consegue subir aos andares superiores. Na sala do primeiro andar, são contados 88 mortos. Havia mais dois cadáveres na enfermaria do pavilhão.

24h - Somados aos oito do pronto-socorro de Santana, eram 98 mortos.


03/10/92

3h - Terminam os trabalhos da perícia. Os mortos são levados para o IML.

7h30 - Mais 13 mortos são encontrados no pavilhão 9. Já são 111 mortos. Havia ainda 108 detentos feridos. Mas essas informações, desde o dia anterior, são escondidas dos familiares dos mortos e da imprensa.

16h30 - Meia hora antes do encerramento das eleições municipais, o secretário Pedro Franco de Campos informa os números do massacre.

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 Homenagem
Artista plástico homenageou mortos no Carandiru com instalação

Pouco tempo depois do massacre do Carandiru, na zona norte de São Paulo, o artista plástico Nuno Ramos criou uma instalação em homenagem aos 111 presos mortos no dia 2 de outubro de 1992.

A instalação de Ramos foi exposta na Bienal de São Paulo de 1993. O artista colocou 111 tijolos no chão com o nome de cada um dos presos mortos. O artista fez a obra porque ficou chocado com a forma como os presos foram mortos e com a reação das pessoas diante da chacina.

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