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18/09/2000 - 08h40

Renovação da frota reduz poluição em SP

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THOMAS TRAUMANN
da Folha de S.Paulo

A renovação da frota de carros está derrubando os índices de poluição atmosférica da Grande São Paulo. Dados da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) coletados nos últimos quatro anos mostram que, dos sete principais poluentes do ar, seis estão em queda livre.

É um paradoxo. Quanto mais carros o morador da cidade de São Paulo compra e coloca nas ruas, menos poluição chega ao ar.
Para os especialistas, esse aparente contra-senso é resultado de uma conta simples.

Desde 1997, mais de 1 milhão de carros zero quilômetro entraram em circulação na Grande São Paulo, enquanto 500 mil veículos antigos abandonaram as ruas.

Mas, como um carro dos anos 80 polui até 40 vezes mais do que um outro de fabricação recente e tecnologia mais avançada, não ocorre um aumento da concentração de poluentes na atmosfera.

Com o "boom" dos carros novos dos últimos quatro anos, o número de dias com concentração de monóxido de carbono acima dos níveis aceitáveis caiu 75%.

Para as partículas inaláveis, a queda desde 1996 foi de 68%. O único poluente cuja concentração continua crescendo é o ozônio -indiretamente relacionado com a evaporação de combustível, outra consequência de ter mais carros rodando.

O rodízio municipal de carros, que impede a circulação de 20% dos veículos nas horas de pico, não teve influência significativa nessa redução.

Por terem catalisadores e motores regulados, os carros novos que chegam às ruas representam um enorme ganho ambiental.

De acordo com a Cetesb, os veículos produzidos desde 1997 representam 18,3% da frota, mas apenas 1,2% da poluição registrada na região metropolitana.

"O paciente continua doente, mas a febre baixou. A queda da poluição é consistente, mas os índices ainda são altos", afirmou o químico Claudio Alonso, gerente de controle ambiental da Cetesb.

É uma comemoração pela metade. Embora os índices estejam melhorando, São Paulo continua sendo uma das metrópoles mais poluídas do mundo.

A poluição atmosférica é responsável pelo crescimento nas estatísticas de mortes de idosos por problemas cardiovasculares, pelas internações pediátricas por pneumonia e até pela redução da capacidade de respiração das crianças (leia textos na pág. C 3).

"Um paulistano pode escolher não fumar ou apenas comer comida com menos calorias, mas não tem como escapar da poluição", comparou o professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e da universidade norte-americana Harvard.

Um dos maiores especialistas em pesquisas sobre efeitos da poluição, Saldiva defende mais atenção dos órgãos de saúde. "Com certeza, a poluição reduz a expectativa de vida do paulistano."

Novo perfil

O "congestionamento" de carros zero quilômetro mudou o perfil da poluição em São Paulo. Nos anos 70, a maior parte da sujeira era provocada pelas chaminés industriais. A poluição era de compostos de enxofre e de monóxido de carbono.

Nos anos 80, com a obrigatoriedade dos filtros industriais, os carros passaram a ser os grandes poluidores, jogando carbono e partículas inaláveis no ar.

Hoje, o vilão é o ozônio. É o mesmo tipo de poluição atmosférica que preocupa norte-americanos e europeus.

Essa poluição de "Primeiro Mundo" coincide com o crescimento dos congestionamentos na cidade. Na semana passada, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) registrou 124 quilômetros de engarrafamentos -a terceira maior marca do ano.

A lentidão é tamanha que, nos horários de pico de congestionamento, um ônibus paulistano trafega a 12 quilômetros por hora. Para efeito de comparação: uma carroça puxada por cavalos percorre 20 quilômetros por hora.

"O problema é que a redução dos índices de poluição em São Paulo ocorreu pelo aumento do poder aquisitivo da população, que pôde trocar de carro.

Não foi uma política de Estado de investir em transporte coletivo e conscientizar a sociedade", analisou Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP.

A solução indicada por dez entre dez estudiosos é o investimento em transporte público, em especial microônibus que convençam a classe média a deixar seus carros na garagem.

"Vai se reduzir mais a poluição tirando 20 carros das ruas e colocando os seus motoristas dentro de um ônibus do que com carros novos", disse Ailton Brasiliense, diretor-executivo da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos).

Hoje ocorre o contrário. O paulistano está abandonando os ônibus. Há cinco anos, as companhias vendiam 164 milhões de passagens por mês. Neste ano, essa média caiu para 92,4 milhões

Um dos motivos é o sucateamento. A frota atual tem idade média de 6 anos e 11 meses. Em 1995, a idade média era de 5 anos e 5 meses. Uma das consequências foi que, no mesmo período, o número de lotações ("perueiros", como são chamadas em São Paulo) subiu de 5.000 para 15 mil.

"Com um sistema de transporte coletivo ruim, não há como imaginar uma solução para o trânsito e o ambiente. Não se irá convencer alguém a deixar o carro em casa se ele não tiver uma alternativa confortável", defende o professor Cândido Malta, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.


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