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14/01/2005
-
18h47
da Folha Online
A morte do dentista Eduardo Silva, 40, no pico Aconcágua (Argentina), foi uma fatalidade, segundo sua mulher, a jornalista Rita Bragatto, 34.
Em depoimento enviado à imprensa, Rita afirma que esta foi uma das viagens mais bonitas que fez com o marido. Segundo ela, o processo para a expedição contou com a pesquisa do cenário que o casal queria desbravar, por meio de literatura impressa e de sites especializados. Diz ainda que os dois também se prepararam fisicamente para a expedição e tiveram acompanhamento médico rigoroso.
"Durante todo o nosso processo de preparativos para esta expedição, assim como durante nossa viagem, a responsabilidade e o rigor estiveram presentes em nossas ações. Não poupamos esforços físicos ou financeiros para realizar nosso sonho."
Rita rebateu o relatório sobre o incidente feito pelo diretor de Recursos Naturais Renováveis do Ministério do Meio Ambiente de Mendoza (Argentina) e responsável pela administração do Parque Aconcágua, Leopoldo León. Nele, León afirma que houve "negligência" por parte do casal e que os brasileiros não contrataram guia por achar alto demais o valor do serviço --cerca de US$ 2.000 (R$ 5.300).
De acordo com Rita, a decisão de não contratar um guia para o Aconcágua ocorreu devido à experiência e à cautela do casal.
"Decidimos fazer a escalada sozinhos porque tínhamos a certeza do que estávamos fazendo. Somos experientes e cautelosos. E a maior prova disso é que cumprimos toda as etapas da expedição "a cada dia", como ele mesmo falou durante toda a viagem. Levamos dez dias para chegar ao cume, ou seja, o mesmo tempo que as agências demoram para subir com seus clientes. Não houve loucura. Não houve imprudência. Não houve negligência."
Viagem
O casal saiu de São Paulo rumo a Mendoza (Argentina) no dia 19 de dezembro. Antes de começar a subida do Aconcágua, os dois passaram quatro dias de aclimatação na Cordilheira Cordon Del Plata, um preparo para a escalada.
"Nossa entrada no parque ocorreu em 28 de dezembro para que o processo de aclimatação fosse realizado a tempo de atacarmos o cume entre os dias 5 e 6 de janeiro. Nosso retorno ao Brasil estava marcado para 15 de janeiro para que pudéssemos ter muito tempo para não fazer nada com atropelo", diz.
Segundo Rita, o casal realizou, diariamente, no serviço médico do parque, os exames de oxímetro (que mede a saturação de oxigênio no sangue), a medição de pulsação e da pressão arterial. "Estes exames servem para testar o processo de aclimatação de um montanhista e avaliar se está em perfeitas condições de saúde para suportar uma escalada desse nível."
"Em todas as ocasiões, os resultados apresentados tanto por mim como pelo Eduardo foram muito bons. Meu índice no oxímetro era de 92%. O do Eduardo era de 91%", afirma.
Aconcágua
De acordo com relato de Rita, o casal chegou ao cume do Aconcágua por volta das 17h30 do dia 6 de janeiro, com céu claro. Permaneceram no local por apenas 15 minutos.
Em seguida, iniciaram o procedimento de descida. Ela afirma que o pôr do sol, nesta época, ocorre por volta das 21h.
"Nosso objetivo era retornar pela Via Gran Carreo até o Nido de Condores, onde estávamos baseados. Esta é considerada a rota mais rápida para a descida", disse.
Porém, 200 metros depois de iniciada a descida, uma neblina muito forte impediu a visibilidade e baixou bruscamente a temperatura. "Por essa razão, comecei a tremer muito de frio e tive convulsões e desmaios. Minhas pernas travaram por conta desse frio excessivo, causado pela queda brusca de temperatura, e fiquei impossibilitada de caminhar".
Rita conta que o marido tentou reanimá-la, mas ela não conseguia andar. O casal foi informado pela patrulha que deveria descer um pouco mais para o resgate. "Mas, segundo Eduardo, além de ter as pernas travadas, eu desmaiava e acordava a toda hora. O fato de eu ter 1,78 de altura impedia meu marido de me conduzir sozinho para onde os guardas insistiam para que fôssemos, principalmente sem nada enxergar".
Em meio ao frio e aos desmaios, Rita afirma que o casal acordou por volta das 7h30 do dia seguinte, com muita neve no rosto. "Conversamos um pouco sobre as condições em que estávamos e ficamos felizes e gratos a Deus por termos sobrevivido àquela noite de terror".
Rita, naquela manhã, estava melhor. No entanto, Silva estava muito debilitado e não conseguia ficar em pé. "Tentei um novo contato com o posto de resgate. Infelizmente, ninguém respondeu. Eram já 12 horas sem resgate", afirma.
Foi então que dois montanhistas noruegueses encontraram o casal. "Fizeram avaliação de nossa situação e como eram em dois, decidiram que apenas eu deveria ser ajudada por ter mais chances de vida."
"Infelizmente, não tive tempo de me despedir do meu amor. Foi tudo muito rápido", diz.
Mortes
Em 1998, os alpinistas brasileiros Mozart Catão, Alexandre Oliveira e Othon Leonardos morreram depois de serem atingidos por uma avalanche no Aconcágua.
Eles integravam um grupo de cinco brasileiros que tentava escalar o pico.
Leia mais
Leia a íntegra do depoimento de Rita Bragatto sobre expedição ao Aconcágua
Leia trecho do depoimento de Rita Bragatto sobre o resgate no Aconcágua
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o monte Aconcágua
Em carta, viúva afirma que morte de brasileiro no Aconcágua foi fatalidade
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A morte do dentista Eduardo Silva, 40, no pico Aconcágua (Argentina), foi uma fatalidade, segundo sua mulher, a jornalista Rita Bragatto, 34.
Em depoimento enviado à imprensa, Rita afirma que esta foi uma das viagens mais bonitas que fez com o marido. Segundo ela, o processo para a expedição contou com a pesquisa do cenário que o casal queria desbravar, por meio de literatura impressa e de sites especializados. Diz ainda que os dois também se prepararam fisicamente para a expedição e tiveram acompanhamento médico rigoroso.
"Durante todo o nosso processo de preparativos para esta expedição, assim como durante nossa viagem, a responsabilidade e o rigor estiveram presentes em nossas ações. Não poupamos esforços físicos ou financeiros para realizar nosso sonho."
Rita rebateu o relatório sobre o incidente feito pelo diretor de Recursos Naturais Renováveis do Ministério do Meio Ambiente de Mendoza (Argentina) e responsável pela administração do Parque Aconcágua, Leopoldo León. Nele, León afirma que houve "negligência" por parte do casal e que os brasileiros não contrataram guia por achar alto demais o valor do serviço --cerca de US$ 2.000 (R$ 5.300).
Arquivo pessoal |
Rita e Silva, que escalaram o pico Aconcágua |
"Decidimos fazer a escalada sozinhos porque tínhamos a certeza do que estávamos fazendo. Somos experientes e cautelosos. E a maior prova disso é que cumprimos toda as etapas da expedição "a cada dia", como ele mesmo falou durante toda a viagem. Levamos dez dias para chegar ao cume, ou seja, o mesmo tempo que as agências demoram para subir com seus clientes. Não houve loucura. Não houve imprudência. Não houve negligência."
Viagem
O casal saiu de São Paulo rumo a Mendoza (Argentina) no dia 19 de dezembro. Antes de começar a subida do Aconcágua, os dois passaram quatro dias de aclimatação na Cordilheira Cordon Del Plata, um preparo para a escalada.
"Nossa entrada no parque ocorreu em 28 de dezembro para que o processo de aclimatação fosse realizado a tempo de atacarmos o cume entre os dias 5 e 6 de janeiro. Nosso retorno ao Brasil estava marcado para 15 de janeiro para que pudéssemos ter muito tempo para não fazer nada com atropelo", diz.
Segundo Rita, o casal realizou, diariamente, no serviço médico do parque, os exames de oxímetro (que mede a saturação de oxigênio no sangue), a medição de pulsação e da pressão arterial. "Estes exames servem para testar o processo de aclimatação de um montanhista e avaliar se está em perfeitas condições de saúde para suportar uma escalada desse nível."
"Em todas as ocasiões, os resultados apresentados tanto por mim como pelo Eduardo foram muito bons. Meu índice no oxímetro era de 92%. O do Eduardo era de 91%", afirma.
Aconcágua
De acordo com relato de Rita, o casal chegou ao cume do Aconcágua por volta das 17h30 do dia 6 de janeiro, com céu claro. Permaneceram no local por apenas 15 minutos.
Em seguida, iniciaram o procedimento de descida. Ela afirma que o pôr do sol, nesta época, ocorre por volta das 21h.
"Nosso objetivo era retornar pela Via Gran Carreo até o Nido de Condores, onde estávamos baseados. Esta é considerada a rota mais rápida para a descida", disse.
Porém, 200 metros depois de iniciada a descida, uma neblina muito forte impediu a visibilidade e baixou bruscamente a temperatura. "Por essa razão, comecei a tremer muito de frio e tive convulsões e desmaios. Minhas pernas travaram por conta desse frio excessivo, causado pela queda brusca de temperatura, e fiquei impossibilitada de caminhar".
Rita conta que o marido tentou reanimá-la, mas ela não conseguia andar. O casal foi informado pela patrulha que deveria descer um pouco mais para o resgate. "Mas, segundo Eduardo, além de ter as pernas travadas, eu desmaiava e acordava a toda hora. O fato de eu ter 1,78 de altura impedia meu marido de me conduzir sozinho para onde os guardas insistiam para que fôssemos, principalmente sem nada enxergar".
Em meio ao frio e aos desmaios, Rita afirma que o casal acordou por volta das 7h30 do dia seguinte, com muita neve no rosto. "Conversamos um pouco sobre as condições em que estávamos e ficamos felizes e gratos a Deus por termos sobrevivido àquela noite de terror".
Rita, naquela manhã, estava melhor. No entanto, Silva estava muito debilitado e não conseguia ficar em pé. "Tentei um novo contato com o posto de resgate. Infelizmente, ninguém respondeu. Eram já 12 horas sem resgate", afirma.
Foi então que dois montanhistas noruegueses encontraram o casal. "Fizeram avaliação de nossa situação e como eram em dois, decidiram que apenas eu deveria ser ajudada por ter mais chances de vida."
"Infelizmente, não tive tempo de me despedir do meu amor. Foi tudo muito rápido", diz.
Mortes
Em 1998, os alpinistas brasileiros Mozart Catão, Alexandre Oliveira e Othon Leonardos morreram depois de serem atingidos por uma avalanche no Aconcágua.
Eles integravam um grupo de cinco brasileiros que tentava escalar o pico.
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