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26/02/2005 - 10h04

Detenção de líder da Rocinha opõe elite e polícia no Rio

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RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo, no Rio de Janeiro

A prisão do presidente da principal associação de moradores da Rocinha --considerada a maior favela do Rio, com cerca de 57 mil habitantes, segundo o Censo 2000-- colocou em lados opostos a polícia e parte da elite carioca.

William de Oliveira, 33, foi preso na última quarta acusado de associação com o narcotráfico. A ex-presidente da UPMR (União Pró-Melhoramentos da Rocinha) Maria Luiza Carlos, 36, detida pela mesma acusação, disse à polícia que Oliveira comprava rádios e celulares para os traficantes e repassava propinas a policiais.

A Polícia Civil diz ter apreendido documentos que comprovariam a acusação e interceptado ligações telefônicas entre traficantes feitas por celulares comprados em nome da associação.

Oliveira é interlocutor de ONGs e políticos que atuam na Rocinha. Seu advogado, Alexandre Dumans, professor da Universidade Candido Mendes e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi convidado a defendê-lo --o que diz fazer de graça-- pelo advogado e empresário Jorge Hilário Gouvêa Vieira, um dos fundadores da ONG de microcrédito Viva Cred, que atua na Rocinha.

"Para mim, seria uma surpresa e uma decepção gigantesca" se Oliveira fosse culpado, disse Gouvêa Vieira. Para ele, a atuação da associação de moradores melhorou depois que o líder comunitário foi eleito, em 2004.

A mulher do advogado, a vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), também participa de uma ONG com atividades na favela. A empresária Flora Gil, mulher do ministro da Cultura, Gilberto Gil, é madrinha "de consideração" de uma filha de Oliveira.

Repúdio

Empresários, intelectuais e integrantes de movimentos sociais cariocas divulgaram na sexta-feira uma carta condenando a prisão temporária de Oliveira, já que ele tem "endereço e trabalho certos". Diz ainda o texto que "conclusões precipitadas na opinião pública fazem mal a ele, às lideranças comunitárias em geral, à Rocinha e ao Rio".

Assinam o texto, entre outros, o economista André Urani, do IETS (Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade), a ex-jogadora de vôlei Isabel Barroso Salgado e o antropólogo Rubem César Fernandes, da ONG Viva Rio, com projetos na Rocinha.

Fernandes diz que Oliveira teve papel importante nas negociações com o governo do Estado que se seguiram ao conflito entre traficantes pelo controle dos pontos de venda de droga na Rocinha, no ano passado. Além de criticar abusos policiais durante a repressão ao conflito, Oliveira "mostrou a cara", disse o antropólogo, pedindo maior e permanente presença policial na favela. "Certamente não é um pau-mandado do tráfico. Se fosse, não ia ficar pedindo polícia", disse.

No texto que assinou, o argumento é parecido: "Acompanhamos de perto a crise vivida pela comunidade no último ano e podemos dizer que William tem sido uma liderança importante. (...) Com coragem e discernimento incomuns, defende publicamente não apenas investimentos sociais, como medidas de segurança que possam estabilizar a situação de forma duradoura."

Polícia

O chefe de Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins, disse que Oliveira fazia "imagem de bom moço", mas as investigações provaram que não passava de fachada. Para Lins, as pessoas que o apóiam não têm conhecimento do teor das investigações. "Não o apóiem porque ele tem envolvimento com o narcotráfico."

Lins também declarou ter gravações telefônicas em que Oliveira recomenda a um conhecido que esconda uma arma no morro do Vidigal, vizinho da Rocinha.

O advogado do acusado afirma que o único fato apresentado pela polícia que liga seu cliente ao tráfico é o depoimento de Maria Luiza, uma "inimiga figadal" de Oliveira.

Ainda na sexta-feira, uma acareação entre Oliveira e Maria Luiza, mas ela não acrescentou nada às investigações.

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