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28/02/2005 - 09h19

Tratamento para hérnia lidera ranking da fila de espera no SUS

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FABIANE LEITE
da Folha de S.Paulo

Como é ter de viver com uma hérnia, apesar de haver cura? E com a catarata --doença que causa cegueira, mas que pode ser eliminada com uma cirurgia?

Terezinha Alves Magalhães, 75, pouco enxerga e, por isso mesmo, pouco sai de casa. "Uma vista já perdeu", conta seu genro, o sapateiro Gregório Geraldo do Nascimento, 60. "É isso que sobra para a gente", afirmava em uma fila gigantesca do mutirão da catarata, no mês passado em São Paulo.

O Ministério da Saúde faz, pela primeira vez, um levantamento das filas de cirurgias como essas, chamadas eletivas: o paciente pode esperar, não é uma emergência, mas vive pela metade, sem qualidade de vida. O objetivo é poder planejar onde e como investir para assegurar a quem está na fila acesso aos procedimentos.

Segundo um levantamento parcial, a partir de projetos referentes a 494 municípios apresentados à pasta até agora, as cirurgias de hérnia são o procedimento mais procurado, seguido de cirurgias ginecológicas, de fimose e de amígdalas.

De acordo com essa análise, 66.450 pessoas esperam ainda uma ínfima prova da agonia em busca de tratamento nos mais de 5.500 municípios brasileiros. O total não alcança as filas que silenciam, a dos pacientes que nem mais procuram os serviços de saúde ou que não conseguiram colocar o nome nas listas.

O levantamento é válido, no entanto, por ser o primeiro oficial sobre a espera. Em resumo, a fila começa a aparecer nas estatísticas oficiais --e a cobrar por solução.

Segundo o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Jorge Solla, as cidades que apresentaram a análise são as que têm sistemas mais aprimorados, com centrais que fazem uma organização das filas e do encaminhamento de pacientes. Os municípios do Rio Grande do Sul e do Paraná foram os que mais apresentaram dados até agora --mais da metade.

Por isso, diz ele, por não haver amostra regionalizada, não se pode classificar o estudo ainda como representativo para o país.

Mas, segundo Solla, os dados já mostram que a cirurgia de catarata já não é um problema tão grave, por causa do histórico de mutirões de cirurgia dos últimos anos. E mostra ainda as que, na realidade dos hospitais, já são as mais procuradas, segundo avaliação do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

Para o presidente da entidade, Roberto Saad Júnior, a crise do setor hospitalar explica parte do problema. "Não dá para dar vazão a todas as cirurgias num país em que a violência é alta. Os hospitais que sobrevivem trabalham na urgência/emergência. Mas não falta cirurgião."

O professor de saúde pública da Unicamp, Gastão Wagner de Souza Campos, diz que, além da falta de diagnóstico sobre as filas, o país não trabalha com avaliação de risco nos procedimentos eletivos --saber, por meio de orientação padronizada, quem deve ser atendido primeiro, com quais exames e de que maneira.

"O SUS ainda não conseguiu ter uma coordenação para avaliar os casos", diz Campos, que deixou a secretaria-executiva do ministério em 2004. Uma portaria do ministério de julho do ano passado destinou R$ 176,8 milhões para as cirurgias eletivas --a verba vai para quem apresentar projetos que se adequarem à portaria.

Chega a dois anos a fila para operar uma hérnia no hospital da Universidade Federal de São Paulo, por exemplo. É uma das unidades de referência da cidade.

Há cerca de 300 pacientes na fila. Nem exame o local pede aos que esperam. Só recebem a recomendação de correr ao pronto-socorro se o quadro complicar.

"O paciente vive mal, a hérnia vai crescendo, ele sente um crescimento na barriga, um caroço, pode até atrapalhar a relação sexual", diz o coordenador-geral dos ambulatórios do hospital, Gaspar de Jesus Filho.

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