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11/05/2005 - 09h54

Campo Belo vira novo reduto de bordéis

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CONSTANÇA TATSCH
da Folha de S.Paulo

Bairro familiar de classe média alta na zona sul de São Paulo, o Campo Belo virou nos últimos meses reduto de casas de prostituição. Hoje, só no trecho considerado mais crítico pela polícia, ao menos 35 casas térreas e sobrados estão tomados por garotas que cobram na maioria dos casos R$ 20 por programa.

Os moradores reclamam de transtornos --como brigas entre clientes, bebedeiras e homens urinando na porta de suas casas-- e da própria desvalorização dos seus imóveis.

De acordo com o Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do Campo Belo, os bordéis começaram a surgir discretamente há dois anos, mas foi a partir da metade de 2004 que o número cresceu intensamente. "Este é o pior momento", diz a presidente do Conseg do Campo Belo, Ana Lúcia Machado Bennaton.

"De um ano para cá, a coisa piorou muito. Foi de repente e mudou a dinâmica do bairro", diz uma moradora da região.

Em uma esquina, meses atrás havia um buffet infantil. A casa foi vendida e ali se instalou um prostíbulo. Na entrada, hoje ficam um segurança, mulheres de minissaia e a faixa: "Aceitamos todos os cartões de crédito".

Em apenas uma rua, a Otávio Tarquínio de Sousa, sete bordéis funcionam atualmente. Um único quarteirão chega a abrigar quatro casas. "A Otávio Tarquínio de Sousa é um calo no meu sapato. A gente já tentou de tudo", diz o delegado Aldo Galiano Junior, titular da Seccional Sul.

Vizinhos das casas de prostituição reclamam também de barulho e de carros parados diante das garagens. "Do meu apartamento escuto os gemidos. Sei que é coisa de profissional porque é muito alto", diz uma moradora. Segundo a presidente do Conseg, um apartamento na Otávio Tarquínio semelhante a outro na mesma região chega a valer 30% menos.

Nem todos reclamam da presença desses estabelecimentos. "Para mim todo mundo tem o direito de trabalhar. Elas são discretas, não me incomodam", diz Fábio, vizinho de um prostíbulo.

Apesar de ser um bairro de classe média alta, o Campo Belo não tem só prostíbulos de luxo. A maior parte das casas é bastante simples. Nos sobrados, um programa de meia hora custa R$ 20; o de uma hora, R$ 40. Na região da "cracolândia", no centro, custa R$ 10 o de uma hora. "É esse esquema lava-rápido, mas é lucrativo", diz o delegado. Muitas moças ganham até R$ 3.000 por mês.

A clientela é diversificada. O fluxo é intenso e tanto jovens de boné quanto executivos freqüentam as casas. Para urbanistas, a região foi escolhida pela localização estratégica: perto de grandes avenidas e do aeroporto de Congonhas.

Migração

Para a consultora da Rede Brasileira de Prostitutas Nina Laurindo, ações contra a presença de garotas de programa na avenida Indianópolis, na zona sul, podem explicar o boom de casas de prostituição no Campo Belo.

"A Indianópolis é, tradicionalmente, uma região de batalha. Mas há quatro anos houve várias ações de remoção e, se você tem repressão, sempre surgem as casas. Se não pode ficar na rua, alguém ganha com isso", afirmou.

Segundo ela, são principalmente as jovens que são aceitas nas casas. Nesses locais, além dos programas, elas têm a função de fazer os clientes consumirem muito.

Os donos de boates resistem à proposta da rede de legalizar as casas por meio de um projeto de lei que tramita no Congresso. "Inicialmente eles foram a favor da proposta, mas quando viram que teriam de garantir os direitos trabalhistas, recuaram", afirma.

Combate

A maior parte dessas casas não possui alvará de funcionamento. Quando tem, é sob a fachada de "clínicas de massagem" ou "american bar". A polícia diz que está combatendo os prostíbulos. São 35 inquéritos abertos.

"Vejo aí uma questão moral e de criminalidade. Tem cliente que passa a ser olheiro para assalto, tráfico de drogas. A prostituição é a porta de entrada do crime organizado", diz o delegado. As casas seguem funcionando porque, segundo ele, o processo é lento. A saída seria fechá-las por motivos administrativos, como falta de alvará. A Subprefeitura de Santo Amaro, responsável pela área, diz ter ações fiscais para quase todas as casas --identificadas por prospectos e reclamações de vizinhos.

Segundo o major e comandante interino do 12º Batalhão de Polícia Militar, Waldir Rapello Dutra, uma operação realizada no final do ano passado fechou pelo menos dez casas, mas quase todas voltaram a funcionar. Novas operações, afirma o major, serão realizadas em breve.

Um prostíbulo encontrado pela reportagem fica a apenas 150 metros da delegacia. Moradores do bairro ouvidos pela Folha não acreditam que a polícia tenha interesse em fechar as casas. Um deles garante que vê policiais à paisana freqüentarem um bordel perto da sua casa.

A polícia nega facilitação. "Hoje não há interesse da polícia em proteger esse tipo de atividade. Isso gera uma criminalidade maior. O que tem é dificuldade legal", disse o delegado.

Colaborou Fabiane Leite, da Reportagem Local

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