Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/08/2005 - 09h09

Idosa brasileira lidera o "ranking da barriga"

Publicidade

ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio

O jornalista Larry Rohter --correspondente do "The New York Times" e autor de reportagem sobre obesidade no Brasil que criou polêmica na imprensa do país-- estava certo. Ou quase certo.

Uma pesquisa comparou índices de obesidade entre idosos brasileiros (da cidade de São Paulo) com outros cinco países da América Latina e mostrou que, com o México, o país tem a maior taxa de obesidade abdominal.

Na faixa etária de 60 a 69 anos, o índice de obesidade das brasileiras chega a ser maior do que o das americanas da mesma faixa.

Mas isso só ocorre nesse grupo. Entre todos os idosos (homens e mulheres acima de 60 anos), a proporção de obesos no Brasil é inferior à verificada nos Estados Unidos e é a quinta menor dos seis países pesquisados.

Os dados são do projeto Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento) na América Latina e Caribe, da Organização Pan-Americana de Saúde e foram analisados pela pesquisadora brasileira Flávia Cristina Drumond Andrade, do departamento de sociologia da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

O estudo de Andrade foi apresentado na 25ª conferência da União Internacional para o Estudo Científico de População, no mês passado, na França.

Os resultados do Brasil foram coletados na cidade de São Paulo pela Faculdade de Saúde Pública da USP e comparados com os das capitais do México (Cidade do México), Chile (Santiago), Cuba (Havana), Uruguai (Montevidéu) e Barbados (Bridgetown). A metodologia permite a comparação também com os Estados Unidos.

Segundo a pesquisa, a proporção de paulistanos obesos (avaliada por meio do índice de massa corporal, calculado pelo peso dividido pela altura ao quadrado) é de 20,6% da população. Entre mulheres, essa taxa sobe para 28,3%, enquanto entre homens cai para 9,5%. Entre os seis países, essas taxas só são maiores do que a de cubanos de Havana. Nos EUA, a proporção é de 30,2% para homens e 33,4% para mulheres.

Entretanto, na faixa etária de 60 a 69 anos, as paulistanas apresentaram uma proporção de obesos de 31,8%, maior do que a porcentagem de 29,8% encontrada para a mesma faixa etária entre mulheres norte-americanas.

Perigo na cintura

No Brasil, um dos índices mais preocupantes é o de obesidade abdominal, medida por meio de uma relação entre a largura da cintura e a do quadril.

Esse índice ajuda a medir a propensão a doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Entre os seis países pesquisados, a taxa média do Brasil entre idosos foi a maior, junto com a do México.

Calcular o índice é importante porque o paciente pode não apresentar quadro acentuado de obesidade medida pelo índice de massa corporal, mas, se tiver obesidade concentrada na região abdominal, é possível que esteja em um grupo de maior risco.

"Brasileiros e mexicanos apresentaram os maiores índices, o que pode indicar que os riscos de desenvolver diabetes e doenças cardiovasculares entre idosos são maiores", diz Andrade.

O médico Amélio Godoy, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, afirma que há um componente genético forte na propensão a adquirir esse tipo de gordura.

Tanto que os índices considerados adequados ou perigosos variam de acordo com as etnias. Um europeu tem menos propensão a acumular esse tipo de gordura do que um latino-americano.

"Esses níveis de obesidade também sugerem que é necessário mudar estilo de vida e hábitos alimentares. Em muitos casos, no entanto, é preciso ter ajuda profissional", diz Andrade. Para ela, há várias razões para a obesidade entre os latino-americanos. As principais seriam os hábitos alimentares e o sedentarismo.

"Comprar fruta é caro e ela é mais perecível. É mais barato comer arroz, macarrão ou biscoito, que podem ficar estocados. De forma geral, o que se percebe é que os países latino-americanos estão passando por uma transição nutricional, deixando de lado uma dieta mais rica em grãos e fibras para outra com carboidratos refinados, gordura saturada e açúcar", diagnostica Andrade.

Exercício na praia

Segundo Godoy, um fator que leva mulheres idosas a adquirirem mais gordura abdominal é que, a partir da menopausa, o corpo sente falta do estrogênio (hormônio produzido nos ovários). Isso altera a distribuição de gorduras pelo corpo e facilita o acúmulo na barriga.

Por conta da necessidade de melhorar os hábitos alimentares e de diminuir o sedentarismo, foram criados vários programas voltados para os idosos.

Um deles é o Sesc na Praia, programa organizado pelo Sesc do Rio de Janeiro na praia de Copacabana (zona sul da cidade), bairro com maior proporção de idosos na cidade.

Maria de Oliveira Silva, 60, é uma das assíduas. "Sempre fui magrinha, mas engordei de uns tempos para cá. Mas minhas gordurinhas não me impedem de continuar ativa", conta.

Edna Fernandes, 68, é uma das maiores incentivadoras das colegas: "Tem muito brotinho que não tem o corpo que eu tenho".

Medida

A relação da medida da cintura com a do quadril é cada vez mais adotada por médicos para avaliar o risco de doenças cardiovasculares ou a propensão para hipertensão e diabetes.

Esse tipo de gordura é apontado como causa de um conjunto de problemas conhecido como "síndrome metabólica".

O médico Amélio Godoy explica que nem sempre a causa do problema vem de dentro. Existem fatores externos que também fazem com que a pessoa ganhe peso na barriga e crie, como é popularmente conhecida, uma "barriga de cerveja".

Entre esses fatores estão a má alimentação e o consumo de álcool. Outras características, que ainda estão sendo melhor pesquisadas, também podem aumentar esse risco, como o estresse ou o fumo.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre obesidade
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página