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11/09/2005 - 09h02

Helicóptero vai ter de voar mais alto em SP

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ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

Morador da Vila Romana (zona oeste de SP) desde que nasceu, Alexandre Consoleto, 30, estava acostumado com a tranqüilidade de sua rua residencial, onde não circulam ônibus nem caminhão. O barulho que vem do céu hoje, causado por mais de 60 helicópteros que passam pelo bairro diariamente, "é pior do que qualquer tráfego terrestre", afirma ele.

Iênides Benfati, 60, que vive no Pacaembu há mais de 30 anos, já convivia com alguns sobrevôos esporádicos na região do Hospital das Clínicas. "Em caso de emergência, é compreensível", diz. Mas a área se tornou um tipo de rotatória de helicópteros e, atualmente, "não dá para falar ao telefone nem ver TV direito", conta.

Consoleto e Benfati são vítimas de uma série de mudanças nas rotas do tráfego aéreo paulista formalizadas em junho de 2004, quando bairros residenciais de regiões nobres, como Lapa, Pompéia e Perdizes, viraram alvo de trajetos oficiais dos helicópteros.

Mas, por conta da pressão dos moradores desde então, há alterações programadas para vigorar a partir do mês que vem, com a promessa de minimizar ruídos.

Elas foram definidas pela associação que reúne os pilotos e a cúpula do SRPV-SP (Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo), órgão ligado ao Comando da Aeronáutica. Na vizinhança afetada, uns as vêem com bons olhos; outros, com ceticismo.

Está prevista a elevação da altura pela qual passam os helicópteros em quatro das seis rotas de uma área de 102 km2 delimitada por estádio do Morumbi, avenida Paulista, ponte do Jaguaré e aeroporto de Congonhas.
Essas aeronaves deverão sobrevoar, em média, de 30 metros a 60 metros acima dos parâmetros vigentes --ao menos teoricamente, elas já são obrigadas a ficar, no mínimo, a 150 metros do chão.

As altitudes não poderão ser maiores para não colidir com os espaços de circulação dos aviões.

A maior elevação da altitude se dará em rotas que atravessam os bairros próximos ao Morumbi, ao Butantã, à Lapa e a Perdizes, mas também haverá mudanças no entorno da marginal Pinheiros.

Os pilotos definiram ainda alterações de procedimento para se aproximar de ao menos duas áreas: a da avenida Paulista e a do Morumbi. Os helicópteros precisam acessá-las por portões virtuais aéreos, que vão crescer --na Paulista, passarão de dois a seis.

O efeito prático deve ser a distribuição do incômodo. Lugares que atualmente estão no portão de acesso das aeronaves, como as proximidades do viaduto Paraíso e do estádio do Parque Antártica, terão menor movimento no céu. Mas outros que não são importunados poderão sentir mudanças.

Para Carlos Artoni, presidente da Associação dos Pilotos de Helicóptero do Estado de São Paulo, a pulverização dos vôos será benéfica porque as fontes de ruído não ficarão mais tão concentradas.

Artoni afirma ainda que está sendo cogitada a extinção de uma das seis rotas desse quadrilátero, que sai da ponte do Jaguaré em direção ao Parque Antártica, passando pela Lapa, além da limitação de vôos noturnos na região da avenida Brigadeiro Faria Lima.

O barulho dentro dos imóveis causado pela aproximação de helicópteros chega a atingir 95 dB (decibéis). Um liquidificador ligado fica próximo de 85 dB.

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que, com a maior altitude, esses índices devem reduzir. Mas não há garantia de que fiquem abaixo do limite das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e da lei de zoneamento --pelas quais ninguém poderia produzir ruído diurno superior a 70 dB.

"O barulho que vem de cima não encontra obstáculos, chega direito no ouvido. O terrestre é diluído por algumas barreiras", afirma Cândido Malta Campos Filho, urbanista ligado ao movimento Defenda São Paulo.
O problema é agravado pela expansão crescente da frota e do número de helipontos, além da falta de leis municipais para controlar a questão. Quase metade da frota nacional, de 983 unidades, fica na capital --a cidade fica atrás só de Nova York e, talvez, de Tóquio.
 

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