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07/01/2006 - 09h18

Visto por 3 médicos, garoto morre de diabetes

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CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

Um menino de oito anos morreu por uma diabetes agravada após passar por consultas com três pediatras diferentes em um período de 11 dias e não ter a doença diagnosticada. O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) investiga o caso.

Victor Oliveira da Silva morreu no último dia 23, antevéspera do Natal, no Hospital da Dix Amico, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo). A causa da morte foi cetoacidose diabética, uma complicação decorrente da diabetes descompensada que poderia ser evitada com o uso de insulina.

A família desconhecia que o menino tinha diabetes e os médicos não pediram o exame de glicemia (que mede a quantidade de açúcar no sangue). Segundo Iracy Santos Oliveira, mãe de Victor, o garoto apresentava muita sede, urinava em excesso e emagreceu seis quilos em dez dias --todos sintomas típicos da diabetes.

Duas das consultas, nos dias 12 e 19 de dezembro, foram feitas no pronto-socorro do Centro Médico de Osasco, da Dix Amico. A terceira, no dia 21, no Centro Médico de Cotia, também da Amico.

Os pediatras que atenderam Victor foram procurados nos centros médicos que trabalham, mas não ligaram de volta. A Amico Saúde diz que está apurando o caso.

Iracy Oliveira conta que levou o filho ao médico no dia 12 de dezembro porque ele estava com tosse --que foi controlada com o xarope indicado pelo pediatra.

Com o passar dos dias, o garoto apresentou outros problemas. "Ele estava tomando muita água, fazendo muito xixi, comendo pouco e perdendo peso."

No dia 19, Iracy levou novamente Victor ao mesmo centro de saúde. Dessa vez, a pediatra que o atendeu disse que o menino estava com a garganta inflamada e receitou um antibiótico, de oito em oito horas, durante dez dias. "O curioso é que em nenhum momento meu filho se queixou de dor de garganta", diz a mãe.

Como Victor não melhorava, Iracy o levou no dia 21 ao centro médico de Cotia. A mãe conta que, nessa altura, o filho já tinha perdido seis quilos e estava muito debilitado. "Quando o médico perguntou o que ele tinha, o Victor mesmo se adiantou e disse 'doutor, eu tenho muita sede. Estou fazendo muito xixi, estou vomitando e minha boca está seca'."

Iracy diz que, após repetir o que o filho já havia dito, acrescentou o o fato de ele estar sem apetite e emagrecendo muito. Também apresentava vômitos.

"Ele o examinou e viu também o peso e a altura do meu filho. Disse que realmente a garganta do Victor estava inflamada e que a perda de peso era em razão de uma virose e que levaria de dois a três dias para melhorar."

O médico receitou então o mesmo antibiótico que a pediatra anterior havia indicado, aumentando a dose. Acrescentou soro e remédio para cessar o vômito.

Morte

No dia seguinte, 22 de dezembro, o estado de saúde de Victor piorou. O menino se queixava de forte dor abdominal e mal parava em pé. Iracy o levou ao pronto-socorro do Hospital da Amico na Vila Mariana. "Só de olhá-lo a médica disse que era diabetes descompensada, o que, de fato, foi confirmado nos exames", conta. Victor foi internado na UTI, entrou em coma e morreu na noite do dia seguinte.

"Nada vai trazer meu filho de volta, mas quero que as autoridades tomem providências para que isso não venha a acontecer com outras crianças. Não consigo aceitar o fato de os médicos não terem suspeitado de diabetes, mesmo com sinais tão claros", diz a mãe.

A família denunciou o caso ao Cremesp na última segunda-feira e ainda estuda se prestará queixa contra os médicos à polícia.

Outro lado

Por meio de uma nota, a Amico Saúde afirmou que tomou conhecimento da "reclamação" de Iracy Santos Oliveira, mãe de Victor, e que está apurando os fatos.

"A direção da Amico Saúde, tendo tomado conhecimento da reclamação formulada pela senhora Iracy Santos Oliveira, relativamente aos atendimentos prestados ao menor Victor, vem participar que está procedendo à devida apuração dos fatos, cujos resultados serão informados à mãe da criança, respeitados todos os princípios legais e éticos necessários neste momento", afirma a íntegra da nota.

A Folha tentou entrevistar os pediatras que atenderam Victor nos centros médicos da Amico em Osasco e em Cotia, nos dias 12, 19 e 21 de dezembro.

Foram deixados recados nos ambulatórios onde eles trabalham, mas não houve resposta.

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