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07/02/2006 - 09h07

Serra dá até R$ 5 mil para sem-teto deixar SP

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AFRA BALAZINA
ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

A administração José Serra (PSDB) paga até R$ 5.000 para famílias de sem-teto deixarem a cidade de São Paulo. Além do dinheiro, a prefeitura cede as passagens de ônibus para os municípios de origem dos desabrigados.

Segundo o próprio secretário da Habitação, Orlando Almeida, sem-teto de duas invasões receberam a verba neste ano --as das ruas Plínio Ramos e Paula Souza, ambas no centro.

Daniel Kfouri/Folha Imagem
Saria Oliveira Amaral no ônibus com destino a Salvador
Saria Oliveira Amaral no ônibus com destino a Salvador
"[O valor] depende de cada caso. Tem gente que tem família grande, vários filhos, então a gente dá R$ 5.000. Se é sozinho, não precisa de R$ 5.000, pode ser R$ 1.000, R$ 1.500", disse o secretário à Folha, em entrevista gravada.

Assistentes sociais ouvidos reservadamente pela reportagem confirmam a informação. Admitem, no entanto, que muitos dos sem-teto beneficiados pela verba acabam usando o dinheiro para pagar dívidas ou comprar objetos pessoais. E continuam na cidade.

No último sábado, ao menos três grupos de sem-teto saíram da cidade, após retirar a verba e a passagem. Despejados de invasões, estavam em alojamento municipal no centro.

"Não vou ficar lá. Peguei o dinheiro e vou visitar minha família, que não vejo há sete anos", disse Vanessa Ajala, 22, que é de Birigüi, no interior de São Paulo.

Já Anderson de Lima, 45, que viajou com a mulher e três filhos, diz que fará um "teste" de dois ou três meses em Recife. Dependendo do resultado, pode retornar. "A vida lá é "embaçada". Aqui dá para ganhar até R$ 35 por dia como carroceiro. Lá, consegue R$ 40 para trabalhar a semana toda."

Às 12h de sábado, uma perua e uma van "a serviço da prefeitura" buscaram um dos grupos e o levaram para a rodoviária.

Saria Amaral, 32, voltou à noite com o marido e os dois filhos para Salvador e quer continuar por lá. "Acho que vai ser melhor para eles [filhos]. Meu sonho é conseguir uma casa", diz ela, que viveu 16 anos em São Paulo.

Segundo Roselene Cerqueira, uma das líderes dos sem-teto da invasão da rua Paula Souza, houve 51 "atendimentos" em fevereiro. Ela diz que os sem-teto retiram a verba na secretaria e deixam um recibo assinado. Já a passagem é distribuída no alojamento.

A Folha teve acesso a seis passagens que não foram usadas no último sábado, apesar de as pessoas terem retirado a verba. Os destinos eram Rio, Recife e Salvador.

Todos que recebem o recurso, segundo a assessoria da imprensa da Secretaria da Habitação e os líderes de sem-teto, são considerados atendidos pela administração e retirados dos cadastros de programas de moradia da cidade.

O sem-teto que não quer deixar São Paulo tem a opção de ir para um albergue, entrar na fila de um programa habitacional ou receber uma bolsa emergencial (de R$ 250) para alugar um imóvel.

O desempregado João Batista dos Santos, 54, no entanto, diz que ficou a "ver navios". "Eu queria continuar aqui, mas não recebi a bolsa-aluguel. Quando vi que os colegas conseguiram o dinheiro, fiz um pedido para a prefeitura e, se aceitarem, vou embora."

Já a catadora de papel Hilda Ramos da Silva quer a verba, mas diz que compraria com ela um barraco na zona leste. "Sou sincera, não quero mentir para a prefeitura."

"Kit despejo"

Alguns líderes de movimentos de moradia dizem que a ação semelhante também ocorria em gestões anteriores --como de Marta Suplicy e Celso Pitta.

Para um dos coordenadores da União Nacional por Moradia Popular, Benedito Barbosa, o que a prefeitura fez foi criar um "kit despejo" ou "kit volta para casa".

Nelson da Cruz Souza, coordenador-geral do Movimento de Moradia da Região Centro, critica também as famílias que aceitam a oferta. "O movimento repudia essas pessoas. Não lutamos por dinheiro, mas por moradia." Segundo ele, muitos compraram "celular, bota nova, sapato novo".

Para o promotor da Habitação e Urbanismo José Carlos de Freitas, "isso jamais vai ser instrumento para resolver o problema da moradia". "É uma simples maquiagem do problema, dinheiro jogado no ralo que poderia ser usado para eliminar áreas de risco e regularizar ocupações em áreas públicas", diz. Freitas ressalta que a prefeitura não teria como impedir a volta dos sem-teto para a capital. "É o direito de ir e vir", afirma.

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