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08/03/2006 - 09h48

Exército usa tropa do Haiti na Mangueira

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SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Além de um tanque de guerra e de carros de combate, o Exército enviou ao morro da Mangueira (zona norte) 150 militares que até dezembro integravam a tropa brasileira em missão no Haiti, país caribenho em guerra civil. É um grupo de elite, treinado para situações de conflito em áreas semelhantes às favelas cariocas.

Na madrugada, ouviram-se tiros na favela por pelo menos duas vezes. Sobre o viaduto em frente à Mangueira, o tanque ficou o dia todo com a mira do canhão dirigida à vertente do morro voltada para o estádio do Maracanã.

Os carros de combate Urutus (veículo blindado de cerca de 15 toneladas, armado com metralhadora) --com cerca de dez homens com fuzis, pistolas e facas-- tinham objetivo intimidatório. Eles circularam pela favela de manhã e à tarde. A Mangueira é um morro urbanizado, com ruas asfaltadas até o topo. Temerosos, os moradores evitavam sair de suas casas.

Em busca de dez fuzis e de uma pistola roubados na sexta-feira do quartel do Estabelecimento Central de Transporte (São Cristóvão), o Exército montou uma operação de grande porte para ocupar a Mangueira.

Anteontem, foram deslocados para a favela 500 militares, 250 deles do 57º Batalhão Escola de Infantaria Motorizada, tropa empregada no terceiro contingente de militares brasileiros no Haiti, de junho a dezembro de 2005.

A Mangueira é considerada uma das mais perigosas favelas cariocas. Nela, o tráfico de drogas é controlado pela facção criminosa CV (Comando Vermelho). É também uma das favelas mais conhecidas do país, por causa de sua tradicional escola de samba.

A fim de evitar problemas em um morro simultaneamente violento e glamouroso, o Exército enviou à Mangueira uma equipe experiente, o que não ocorreu em outras das oito favelas ocupadas.

Do pessoal do 57º Batalhão que esteve no Haiti, 150 foram selecionados para a tarefa. O comando é do tenente-coronel André Novaes, que também chefiou tropas no Haiti. No Telégrafo (parte alta da Mangueira), ontem de manhã, Novaes disse que não poderia dar entrevistas. Afirmou que a situação estava sob controle e nada disse sobre os tiros. Já o porta-voz do CML (Comando Militar do Leste), coronel Fernando Lemos, disse que os disparos foram feitos a esmo por traficantes. "Foram tiros de inquietação. Eles não atiraram nos militares."

A Folha apurou que o foco da ação militar é pressionar os traficantes pelo prejuízo. Sufocados em seus negócios, eles poderiam fazer chegar às autoridades informações que levem às armas roubadas do quartel militar.

Trabalham em conjunto os serviços de inteligência do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e das Polícias Federal e Civil do Rio de Janeiro. No entanto, a estratégia ainda não surtiu efeito.

Além da Mangueira, estão ocupadas as favelas do Jacarezinho, Manguinhos, Dendê, Nova Brasília, Vila dos Pinheiros, Jardim América e Parque Alegria, todas na zona norte, e o morro da Providência (centro), onde, anteontem, foi morto a tiros o estudante Eduardo dos Santos, 16.

A ação iniciada na noite de sexta tem como único objetivo recuperar as armas roubadas, informa o CML. Não visa combater o tráfico ou combater a criminalidade.

Achadas as armas, os 1.200 militares, além dos 300 incumbidos do planejamento e da parte administrativa da operação, voltarão aos quartéis, diz o porta-voz do CML. Lemos afirma que, se as armas não aparecerem, a ocupação continuará. "O Exército só deixará as comunidades quando as armas forem achadas." E outras favelas poderão ser invadidas.

Base legal

O roubo do armamento aconteceu na madrugada de sexta-feira. Horas depois, o CML abriu um IPM (Inquérito Policial Militar) para tentar identificar os criminosos e recuperar os fuzis e a pistola.

O IPM é previsto pelo Código de Processo Penal Militar no caso de crime cometido por militar. O IPM também é aberto se um civil pratica um crime em área militar ou com um militar. Nos dois casos, os envolvidos são julgados pela Justiça Militar Federal.

A ação nas favelas faz parte do IPM, cujo regulamentação prevê a busca externa de objetos roubados ou furtados de unidades militares. Para entrar nas casas, os militares devem ter mandados judiciais de busca e apreensão. Apenas as casas suspeitas estariam sendo vasculhadas --com ordem judicial--, segundo o Exército.

Além de patrulhar os acessos à favela, os militares vistoriam carros, revistam pessoas e, eventualmente, detêm suspeitos.

Foi o que aconteceu ontem no Jacarezinho. Um rapaz foi detido com crack, segundo os militares.

Em nota, o CML declarou que a ocupação "está sendo cumprida com absoluta observação dos direitos humanos". Segundo a nota, não há, até o momento, "nenhum registro de incidente com a população civil das áreas envolvidas na operação, sendo este um dos objetivos primordiais da força-tarefa", constituída pelo Exército e pela Secretaria da Segurança do Estado do Rio.

Sobre a morte do estudante Eduardo dos Santos, 16, baleado anteontem, a nota limita-se a informar que o caso é investigado pela Polícia Civil.

Colaborou a Folha de S.Paulo, em Brasília

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