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19/03/2006 - 09h14

Investigação mostra envolvimento de militares com traficantes

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MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Nos últimos cinco anos, ao menos 45 militares e ex-militares de baixa patente foram condenados, denunciados ou citados em processos da Justiça Militar por envolvimento em roubos ou extravios de armas e munições em quartéis no Rio de Janeiro.

A maioria do armamento foi parar com traficantes, segundo os autos. Desde 2000, 211 armas foram roubadas de quartéis no Rio.

O envolvimento entre militares e ex-militares com o tráfico não se resume apenas a desvio de armas ou auxílio à invasão a unidades.

Integrantes ou ex-integrantes das Forças Armadas pertencem à quadrilhas de criminosos. Um ex-pára-quedista e um ex-fuzileiro naval são chefes de dois morros. Outros trabalham como armeiros ou ensinam técnicas de guerrilha aos traficantes.

Antes da prisão de dois ex-militares acusados do roubo de dez fuzis e uma pistola do Estabelecimento Central de Transportes do Exército, no último dia 3, a investigação mais recente aponta o envolvimento de quatro soldados do Exército com o roubo de um fuzil do Depósito de Suprimentos no Rocha (zona norte), em dezembro do ano passado. A arma foi entregue a traficantes da Vila dos Pinheiros, no complexo da Maré (na mesma zona norte).

O fuzil só foi recuperado depois que o Exército ocupou a comunidade. Segundo os autos, os suspeitos facilitaram a entrada dos criminosos no quartel para roubar a arma. Todos estão presos.

Outro caso que ainda não está concluído é o roubo de 22 fuzis do Depósito de Aeronáutica, em maio de 2004. O Inquérito Policial Militar (IPM) revela que um soldado e dois ex-soldados, que serviam ou serviram na unidade, são os principais suspeitos da ação. Eles não estão presos.

A investigação indica que eles teriam vendido as armas para traficantes do morro do Dendê, na Ilha do Governador (zona norte), e para grupos de assaltantes cariocas que roubaram bancos e carros-fortes no Nordeste. Um dos fuzis foi apreendido em Recife.

Um marinheiro foi condenado no ano passado a três anos e sete meses de prisão por ter roubado um fuzil da Policlínica Naval da Nossa Senhora da Glória para vendê-lo a traficantes. A negociação aconteceria para pagar dívidas contraídas pelo irmão dele com os criminosos.

Em julho de 2004, um soldado do Exército furtou um fuzil do Batalhão de Escola de Engenharia da corporação. A arma, segundo investigações, foi entregue ao traficante Patrick Henrique Chimenes, da favela de Antares, em Santa Cruz (zona oeste).

Nesse mesmo ano, um sargento e um cabo foram detidos sob acusação de roubar armamentos do acervo do Espaço Histórico do Batalhão de Infantaria Motorizado. Ainda em 2004, dois outros soldados do Exército roubaram três fuzis do Museu Histórico da corporação, no forte de Copacabana (zona sul). As armas foram levadas para o morro do Vidigal (zona sul) e, após operações do Exército na favela, os traficantes decidiram entregá-las.

Quatro militares respondem pelo sumiço de cinco pistolas, cinco fuzis e cinco granadas em 2001 do Parque Material Bélico da Aeronáutica, na Ilha do Governador (zona norte).

Chefões

Muitos militares que são dispensados das Forças Armadas após cumprirem de sete a nove anos de serviço são cooptados pelo tráfico, já que não conseguem encontrar emprego.

Alguns viram chefes, como é o caso de Evanílson Marques da Silva, o Dão, um ex-fuzileiro naval que atualmente controla a venda de drogas no morro da Providência (zona central carioca) e que é um dos principais líderes da facção criminosa CV (Comando Vermelho). Ele abandonou a Marinha no ano de 2002.

Outro chefe do tráfico no Rio de Janeiro oriundo das Forças Armadas é Cláudio da Conceição, o Claudinho, que controla o morro da Casa Branca, na Tijuca, na zona norte carioca, há vários anos. Conceição integrava a brigada pára-quedista do Exército.

Devido aos seus conhecimentos com técnicas de guerrilha, ex-militares acabam sendo úteis para traficantes, que usam seus ensinamentos para invadir áreas inimigas e atacar a polícia.

Em novembro, a polícia apreendeu no complexo de favelas da Maré (zona norte) um manual de guerrilha com dicas para invasão a favelas e ataques na cidade. Ele foi elaborado por um ex-soldado que serviu no Batalhão de Guardas do Exército e foi morto em tiroteio com a polícia.

Seis meses antes, foi encontrado no morro da Fazendinha, no complexo de favelas do Alemão (zona norte), um croqui que traçava planos para explodir o Caveirão, veículo blindado usado pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar. O manual também foi elaborado por um ex-soldado pára-quedista, que já morreu.

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