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23/03/2006 - 09h25

Exército apoiou acordo com tráfico em 2004

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da Folha de S.Paulo, no Rio

Em 2004, para reaver um fuzil furtado por um soldado do Batalhão Escola de Engenharia, um oficial do Exército concordou em retirar sua equipe da favela de Antares em troca da devolução da arma. A operação foi negociada por um PM com o conhecimento desse oficial do Exército, revelam documentos da Justiça Militar.

A Folha noticiou no dia 14 passado a negociação do Exército com o Comando Vermelho para recuperar 11 armas roubadas de um quartel em São Cristóvão.

O acordo de 2004 aparece no processo 21/04-9, ao qual a Folha teve acesso na tarde de ontem, na 2ª Auditoria da Justiça Militar.

Ao menos dois oficiais e equipes da Polícia do Exército e da Companhia de Inteligência participaram da ação. Eles negociaram com o criminoso Patrick Chimenes, "gerente" do tráfico local. Ele havia encomendado a arma e negociou por telefone a entrega, avisando onde ela estava.

O autor do furto, em 10 de julho de 2004, foi o soldado Ivison Bastos dos Santos. Ele foi preso, delatou dois receptadores civis, e a arma foi recuperada numa operação no dia seguinte.

Em depoimento à Justiça Militar em 14 de agosto de 2004, o 2º tenente da Polícia do Exército Carlos Meireles Martins Júnior admitiu que a entrega da arma havia sido feita porque o tráfico não queria que a favela continuasse tomada por policiais civis, militares e do Exército. O jornal "Extra" publicou ontem o acordo.

"Após contatos do presidente [da associação de moradores] com o pessoal [tráfico], foi acertado que os militares deveriam se afastar daquele local, pois o fuzil estava próximo, o que foi feito, indo todos para o DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo); e enquanto aguardavam, alguém disse: "O fuzil apareceu, tá lá o fuzil'; e aí todos foram para a rua e, de um determinado ponto, o viram numa ponte."

Conversa por telefone

Quem fez o contato direto foi o sargento da PM Paulo dos Santos Almeida, que foi à casa de Patrick, falou com a mulher dele e conversou por telefone com o traficante, que prometeu entregar a arma. Santos disse em depoimento que a negociação foi autorizada pelo comandante do 27º BPM.
"A única forma de reaver o fuzil era ir até a casa de Patrick e falar com ele."

O policial disse que a ocupação só acabaria com a entrega da arma. "Eu vou entregar", concordou o criminoso. Em seguida, Patrick ligou novamente e disse que um comparsa estava com medo de "desentocar" a arma por causa da presença dos militares e "que era para o pessoal se afastar". "A testemunha [PM] falou, então, com os demais participantes da operação [inclusive o Exército], e foram todos ao DPO."

O PM chegou a levar o celular da mulher de Patrick emprestado. O traficante, então, ligou e informou onde estava o fuzil.

Patrick --que não estava na favela naquele dia e que foi preso em agosto do ano passado pela Polícia Civil-- disse a Santos que "havia comprado o fuzil enganado". O PM contou que já conhecia o traficante, porque o prendera em 1999. O traficante falou ainda com um cabo da PM: "Vou mandar matar esse moleque", referindo-se ao soldado Ivison.

O capitão Emanuel Sales Santos, comandante da 1ª Cia da Polícia do Exército, acionado para cumprir os mandados de prisão e de busca e apreensão da arma --todos cumpridos--, também relatou que a PM, por meio da associação de moradores, "conseguiu avisar que as Forças estariam no local até que o fuzil aparecesse". Ele disse não ter ido à casa de Patrick, "o que foi feito pela PM".

O capitão disse que "não houve negociação por parte do Exército para localizar o fuzil".

Após a recuperação da arma, ninguém foi atrás de Patrick, mais tarde denunciado pelo Ministério Público Militar como o receptador do fuzil. Segundo o tenente Carlos Meireles Martins Júnior, "a PM não foi atrás dele, pois o objetivo era só resgatar o fuzil".

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