Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
03/05/2006 - 10h34

BB cancela a exposição "Erotica" em Brasília

Publicidade

MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

Depois de três reuniões tensas, realizadas entre a semana passada e ontem, a direção do Banco do Brasil decidiu cancelar a exposição "Erotica - Os Sentidos na Arte" em Brasília. O motivo do cancelamento é o impasse causado pela censura a uma obra da artista plástica Márcia X que mostra dois pênis cruzados feitos com rosários religiosos. A mostra, que passou por São Paulo e pelo Rio, seria inaugurada no próximo dia 15.

Os diretores do Banco do Brasil não aceitaram a reintegração do trabalho de Márcia X na exposição. Com isso, colecionadores e artistas como Rosângela Rennó e Franklin Cassaro ameaçavam retirar suas obras da exposição. Não houve acordo.

"O Banco do Brasil lamenta esse desfecho, mas o considera um fato isolado, ao tempo em que ratifica sólido apoio à difusão da arte e da cultura, sempre com respeito à pluralidade e à diversidade", diz uma nota emitida pelo banco.

"Desenhando em Terços", o trabalho de Márcia X (1959-2005), foi retirado da mostra no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) do Rio no dia 19 de abril por causa das pressões de um grupo católico chamado Opus Christi. O Banco do Brasil diz ter recebido cerca de 800 e-mails com críticas à exposição, numa corrente coordenada pela Opus Christi.

A Folha apurou que religiosos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) ligaram para diretores do banco e ameaçaram incluir a questão da obra de Márcia X em seus sermões. Grupos religiosos fizeram ameaças de encerrar contas e promover um boicote ao BB.

O conselho diretor do banco, formado pelo presidente e por sete vice-presidentes, julgou que havia uma ameaça à marca e aos negócios e optou pela censura. O temor principal era que o boicote adquirisse as proporções de uma bola de neve.

Ação judicial

O artista plástico Ricardo Ventura, viúvo de Márcia X, acha que a decisão do BB dará uma projeção que a obra talvez não tivesse se a exposição em Brasília fosse mantida: "Se o Banco do Brasil queria evitar que a obra fosse divulgada, o tiro saiu pela culatra. Já tem site na China comentando a censura ao trabalho".

O grupo de artistas ligado à galeria A Gentil Carioca, que coordenou o protesto contra o CCBB do Rio no último sábado, continuará a exigir que o banco faça uma retratação pública e assuma publicamente que praticou censura, segundo Márcio Botner.

"Se não houver a retratação, vamos processar o banco", anuncia Botner. "É chocante que o BB se dobre à pressão de um grupo obscurantista de católicos."

Um abaixo-assinado contra a censura à obra de Márcia X tem 800 assinaturas e o cancelamento da mostra em Brasília tende a aumentar o número de adesões, de acordo com ele.

Os artistas querem que o CCBB tenha autonomia para decidir as suas exposições.

A advogada da causa já foi escolhida. Trata-se de Deborah Sztajnberg, professora da Fundação Getúlio Vargas e do Ibmec, ambos no Rio. Será uma ação indenizatória, segundo ela, com o objetivo de "reparar os danos causados à imagem de Márcia X por essa decisão autoritária".

A ação será impetrada em nome de Ricardo Ventura, herdeiro da artista. "É um pesadelo, é um horror ter de recorrer à Justiça por causa disso, mas não podemos ficar quietos", diz ele.

Leia mais
  • Após quase seis anos, começa julgamento de Pimenta Neves
  • Mega Sena deve pagar R$ 25 milhões nesta quarta-feira
  • Temperatura cai, e São Paulo tem a madrugada mais fria do ano
  • Quadrilha invade mais um prédio de luxo em São Paulo

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre censura

  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página