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24/05/2006
-
09h32
GILMAR PENTEADO
da Folha de S.Paulo
Levantamento feito pela Folha mostra que, diferentemente dos dados oficiais apresentados, 26% dos civis mortos pela polícia de São Paulo em confrontos registrados entre os dias 12 e 19 deste mês --período em que ocorreram os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital)-- não tinham antecedentes criminais.
Pressionado para divulgar a lista de mortos em ações policiais, o governo paulista recuou e ontem reduziu o número de mortes de suspeitos. Até anteontem, a gestão Cláudio Lembo (PFL) dizia ter matado 109 "criminosos" da facção. Ontem, o balanço era de 110 mortos, sendo 79 envolvidos com o grupo criminoso --49 teriam ficha criminal..
O levantamento feito pela reportagem inclui 54 BOs (boletins de ocorrência) de supostos confrontos ocorridos na capital paulista, na região metropolitana e nas principais cidades do interior paulista.
Foram 89 mortos, 41 deles identificados pela polícia nos BOs. Os outros são descritos nos registros da polícia como desconhecidos.
A grande maioria dos suspeitos foi socorrida pela própria polícia depois da suposta resistência. Mas morreram no caminho ou logo após entrar no hospital, segundo os BOs.
A pesquisa parcial se contrapõe aos dados divulgados ontem pelo secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
Sem apresentar os boletins de ocorrência e sem citar os nomes dos mortos, o secretário afirmou que apenas 10% dos suspeitos identificados, mortos em confronto com a polícia paulista, não tinham antecedentes criminais. Ele também disse que não houve abuso nas ações policiais.
O levantamento feito pela Folha apontou que, dos 41 suspeitos mortos identificados nos BOs, dez tinham ficha limpa e 28 apresentavam antecedentes criminais. Em três casos não foi possível fazer essa pesquisa porque não havia dados pessoais suficientes dos suspeitos nos registros da polícia. Desde o último dia 14, a reportagem solicita ao secretário a lista dos mortos.
Dos 54 boletins de ocorrência, 30 continham relatos que relacionavam as mortes a atentados promovidos pelo PCC, no total de 53 óbitos. A não citação no BO --documento cujo relato é feito pelo próprio policial-- não garante que o confronto não tenha relação com os atentados. A soma de todos os casos de suposta resistência também revela como a polícia passou a agir após os ataques.
Entre os antecedentes dos 28 suspeitos mortos, o principal crime descrito é o tráfico. Também há registros de passagem por roubo. Pelos dados dos boletins de ocorrência, outros três suspeitos estavam em saída provisória do Dia das Mães.
"O antecedente criminal é apenas um indicativo, uma hipótese. Agora, ninguém pode ser morto só porque tem antecedente criminal", afirmou o delegado aposentado Roberto Maurício Genofre, ex-corregedor da Polícia Civil de São Paulo e ex-professor da Academia de Polícia.
De acordo com ele, os dados sobre antecedentes dos mortos têm de ser relativizados e não podem ser usados para legitimar a ação da polícia. "Uma pessoa que tenha passagem [pela polícia] pode não ter envolvimento com o crime. E uma pessoa sem ficha criminal talvez não seja inocente."
A maioria dos suspeitos mortos nos supostos confrontos é de pardos ou negros, segundo os boletins de ocorrência.
No total de 71 suspeitos em que os registros trazem a informação sobre a cor, 45 (63%) dos mortos são descritos dessa forma pelos policiais. Dos suspeitos mortos, 26 são descritos como brancos.
Na semana passada, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), culpou uma "minoria branca" pela onda de atentados no Estado. Segundo ele, essa "elite perversa" teria de "abrir a bolsa".
O levantamento dos BOs também revela mortos de uma faixa etária elástica. O mais novo tinha 16 anos e o mais velho, 49. A média de idade dos mortos pela polícia ficou em 26 anos --mesma faixa das vítimas de homicídios dolosos (com intenção) no Estado.
Sem dados
Feitos por policiais, os boletins de ocorrência não ajudam a esclarecer, no entanto, se houve excesso nas ações. Os relatos descritos nos BOs são quase sempre os mesmos: os suspeitos reagiram, sacaram as armas, atiraram e, só depois, foram atingidos pelos policiais.
Em 65% dos casos, os boletins afirmam que os suspeitos foram atingidos por armas de fogo, mas não citam o total de tiros nem as partes do corpo atingidas pelos projéteis.
Nos boletins de ocorrência em que há a definição dos tiros, um dos suspeitos chega a ser atingido por cinco disparos. Na maioria dos casos, pelo menos na descrição feita pelos policiais, os tiros atingiram principalmente o tórax, pescoço e braços dos suspeitos.
O Ministério Público de São Paulo deu um prazo de 72 horas, a partir de ontem, para que o governo paulista divulgue a lista com a relação de suspeitos mortos pela polícia em razão dos atentados promovidos pelo PCC.
O procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, também exigiu, sob pena de crime de desobediência, os laudos necroscópicos das vítimas feitos pelo Instituto Médico Legal.
Na edição do último sábado, a Folha informou que o secretário Saulo de Castro Abreu Filho recolheu todos os laudos e concentrou as informações sobre os exames.
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26% dos suspeitos mortos em ações do PCC tinham a ficha limpa
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da Folha de S.Paulo
Levantamento feito pela Folha mostra que, diferentemente dos dados oficiais apresentados, 26% dos civis mortos pela polícia de São Paulo em confrontos registrados entre os dias 12 e 19 deste mês --período em que ocorreram os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital)-- não tinham antecedentes criminais.
Pressionado para divulgar a lista de mortos em ações policiais, o governo paulista recuou e ontem reduziu o número de mortes de suspeitos. Até anteontem, a gestão Cláudio Lembo (PFL) dizia ter matado 109 "criminosos" da facção. Ontem, o balanço era de 110 mortos, sendo 79 envolvidos com o grupo criminoso --49 teriam ficha criminal..
O levantamento feito pela reportagem inclui 54 BOs (boletins de ocorrência) de supostos confrontos ocorridos na capital paulista, na região metropolitana e nas principais cidades do interior paulista.
Foram 89 mortos, 41 deles identificados pela polícia nos BOs. Os outros são descritos nos registros da polícia como desconhecidos.
A grande maioria dos suspeitos foi socorrida pela própria polícia depois da suposta resistência. Mas morreram no caminho ou logo após entrar no hospital, segundo os BOs.
A pesquisa parcial se contrapõe aos dados divulgados ontem pelo secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
Sem apresentar os boletins de ocorrência e sem citar os nomes dos mortos, o secretário afirmou que apenas 10% dos suspeitos identificados, mortos em confronto com a polícia paulista, não tinham antecedentes criminais. Ele também disse que não houve abuso nas ações policiais.
O levantamento feito pela Folha apontou que, dos 41 suspeitos mortos identificados nos BOs, dez tinham ficha limpa e 28 apresentavam antecedentes criminais. Em três casos não foi possível fazer essa pesquisa porque não havia dados pessoais suficientes dos suspeitos nos registros da polícia. Desde o último dia 14, a reportagem solicita ao secretário a lista dos mortos.
Dos 54 boletins de ocorrência, 30 continham relatos que relacionavam as mortes a atentados promovidos pelo PCC, no total de 53 óbitos. A não citação no BO --documento cujo relato é feito pelo próprio policial-- não garante que o confronto não tenha relação com os atentados. A soma de todos os casos de suposta resistência também revela como a polícia passou a agir após os ataques.
Entre os antecedentes dos 28 suspeitos mortos, o principal crime descrito é o tráfico. Também há registros de passagem por roubo. Pelos dados dos boletins de ocorrência, outros três suspeitos estavam em saída provisória do Dia das Mães.
"O antecedente criminal é apenas um indicativo, uma hipótese. Agora, ninguém pode ser morto só porque tem antecedente criminal", afirmou o delegado aposentado Roberto Maurício Genofre, ex-corregedor da Polícia Civil de São Paulo e ex-professor da Academia de Polícia.
De acordo com ele, os dados sobre antecedentes dos mortos têm de ser relativizados e não podem ser usados para legitimar a ação da polícia. "Uma pessoa que tenha passagem [pela polícia] pode não ter envolvimento com o crime. E uma pessoa sem ficha criminal talvez não seja inocente."
A maioria dos suspeitos mortos nos supostos confrontos é de pardos ou negros, segundo os boletins de ocorrência.
No total de 71 suspeitos em que os registros trazem a informação sobre a cor, 45 (63%) dos mortos são descritos dessa forma pelos policiais. Dos suspeitos mortos, 26 são descritos como brancos.
Na semana passada, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), culpou uma "minoria branca" pela onda de atentados no Estado. Segundo ele, essa "elite perversa" teria de "abrir a bolsa".
O levantamento dos BOs também revela mortos de uma faixa etária elástica. O mais novo tinha 16 anos e o mais velho, 49. A média de idade dos mortos pela polícia ficou em 26 anos --mesma faixa das vítimas de homicídios dolosos (com intenção) no Estado.
Sem dados
Feitos por policiais, os boletins de ocorrência não ajudam a esclarecer, no entanto, se houve excesso nas ações. Os relatos descritos nos BOs são quase sempre os mesmos: os suspeitos reagiram, sacaram as armas, atiraram e, só depois, foram atingidos pelos policiais.
Em 65% dos casos, os boletins afirmam que os suspeitos foram atingidos por armas de fogo, mas não citam o total de tiros nem as partes do corpo atingidas pelos projéteis.
Nos boletins de ocorrência em que há a definição dos tiros, um dos suspeitos chega a ser atingido por cinco disparos. Na maioria dos casos, pelo menos na descrição feita pelos policiais, os tiros atingiram principalmente o tórax, pescoço e braços dos suspeitos.
O Ministério Público de São Paulo deu um prazo de 72 horas, a partir de ontem, para que o governo paulista divulgue a lista com a relação de suspeitos mortos pela polícia em razão dos atentados promovidos pelo PCC.
O procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, também exigiu, sob pena de crime de desobediência, os laudos necroscópicos das vítimas feitos pelo Instituto Médico Legal.
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