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02/06/2006 - 09h58

PM mata e é acusado de forjar confronto no interior de SP

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da Folha de S.Paulo
da Folha Ribeirão

A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo investiga acusação de que policiais militares de Ribeirão Preto (a 314 km de SP) forjaram um confronto para justificar a morte do catador de papel Juliano Diogo, 26, durante ação na madrugada do dia 19 de maio.

Segundo um depoimento formal de um amigo do rapaz ao comando da PM de Ribeirão Preto, policiais teriam colocado duas armas nas mãos de Diogo, para simular resistência à abordagem policial. O rapaz morreu a um quarteirão da sua casa.

O depoimento dado ao comando da PM contraria versões oficiais de que Diogo teria ligações com o PCC e que sua morte ocorreu em confronto com a polícia. Familiares e vizinhos do rapaz também acusaram ontem os policiais. "Vi quando ele foi morto com um tiro na barriga", disse uma testemunha à Folha.

Lista encaminhada pela Secretaria da Segurança e divulgada pelo Ministério Público informa que entre os dias 12 e 19 de maio, além de Diogo, outros 90 suspeitos ligados ao PCC foram mortos pela polícia no Estado. Todos, afirma a secretaria, em confronto.

Ontem, a secretaria negou a ligação de Diogo com o PCC e disse que a divulgação da lista é responsabilidade da Promotoria. A reportagem não conseguiu ouvir o órgão.

O depoimento, segundo a Ouvidoria, é um dos mais fortes indícios colhidos até agora sobre supostos abusos em ações policiais durante a crise. "Existem indícios fortíssimos de homicídio pelo pessoal da PM", afirmou Julio Cesar Neves, ouvidor substituto, que recebeu o depoimento da PM. A Ouvidoria investiga outros 40 casos de confronto.

Pela versão da polícia, Diogo e mais duas pessoas correram ao avistar a Blazer prefixo 3195 da PM, na rua Campinas, na Vila Elisa, periferia de Ribeirão. O catador de papel, com uma arma em cada mão, começou a atirar contra os policiais. No tiroteio, foi baleado, socorrido e morreu no hospital.

Segundo o testemunho recebido pela Ouvidoria, os PMs, usando luvas brancas, teriam colocado as duas armas na mão do rapaz e feito Diogo, já baleado, apertar o gatilho aproximadamente 11 vezes em direção a Blazer.

A testemunha, cuja identidade a Ouvidoria preserva, estava em um carrinho de lanches no cruzamento da rua Santos com a rua Japão por volta da 1h do dia 19, com um amigo, quando ouviu um barulho que parecia tiro, correu e viu, a uma distância de cerca de um quarteirão, uma Blazer com quatro PMs.

O depoente --que quando jovem cumpriu pena socioeducativa por homicídio-- disse que o rapaz foi arrastado e teria levado mais cinco tiros.

A testemunha diz ainda que o corpo de Diogo foi colocado em um outro carro, uma "viatura tipo Ipanema", e levado ao hospital. A PM nega ter esse tipo de veículo. E informou que logo após a morte uma ambulância socorreu o rapaz.

A mulher de Diogo nega. "Foi um carro da polícia que levou."

Segundo a Santa Casa de Ribeirão Preto, policiais civis levaram o rapaz ao hospital e sua morte foi constatada à 1h20.

Segunda testemunha

O depoimento de uma segunda pessoa, também colhido pela PM de Ribeirão e entregue à Ouvidoria, informou que os policiais se revezaram nos disparos em direção ao chão no local onde Diogo foi morto. Mas ela afirmou não ter visto os policiais forjando o confronto. A testemunha também conhecia o rapaz. Segundo essa pessoa, Diogo não andava armado e outros moradores da região viram a ação policial.

Um primo da vítima ouvido ontem pela reportagem disse que os policiais comemoraram após a morte de Diogo.

Outro lado

A Polícia Militar em Ribeirão Preto informou ontem não acreditar em má conduta dos policiais militares na ação que resultou na morte de Juliano Diogo. A corporação, no entanto, abriu um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar o caso.

"Temos que aguardar a confirmação técnica. Acreditamos e esperamos que eles tenham agido dentro da lei. As provas técnicas vão corroborar com essa esperança ou crença. Contra a prova não há argumentos", afirmou o tenente Marco Aurélio Gritti, porta-voz do CPI-3 (Comando de Policiamento do Interior). Segundo ele, não há relação entre Diogo e o PCC. Cerca de 20 testemunhas foram ouvidas no IPM. A conclusão deve ocorrer em 20 dias.

Para confrontar as versões, a PM pediu perícia no carro, no local da ocorrência e uma análise para detectar vestígios de pólvora nos policiais. A punição, caso seja constatado abuso, pode variar de advertência à expulsão. Eles foram afastados temporariamente das ruas.

Gritti disse que três PMs participaram da ocorrência, e não quatro, como diz a testemunha do caso.

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