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06/06/2006 - 09h18

Saulo quis acordo com PCC, diz Furukawa

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ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

Apesar da imagem de "durão", Saulo de Castro Abreu Filho, secretário da Segurança Pública de São Paulo, queria fazer um "acordo" com os líderes do PCC e defendia "concessões ilegítimas" à facção para controlar as rebeliões e os ataques que ocorreram no mês passado. A afirmação é do ex-secretário da Administração Penitenciária Nagashi Furukawa, 57, que pediu demissão no último dia 26 e que diz ter se negado a aceitar a proposta de Saulo.

Em entrevista concedida em sua casa, no interior paulista, Furukawa se defende das críticas de Saulo publicadas anteontem pela Folha e também faz ataques ao governador Cláudio Lembo (PFL), sob a alegação de que ele foi alertado da falta de investigação sobre o PCC e não tomou providências. "Quando há direção, quando há comando, não existe muito problema de divergência dos componentes da equipe." Lembo e Saulo não quiseram se manifestar.

FOLHA - Saulo disse que o sr. saiu do governo porque "despirocou"...
NAGASHI FURUKAWA - É uma avaliação tão simplória, tão superficial, além de deselegante, que confesso que fiquei estupefato. Não queria ser um elemento dificultador do entendimento entre as instituições. Como sentia que tudo aquilo que estava propondo à Secretaria da Segurança não vinha sendo cumprido, achei melhor para a população que não continuasse lá.

FOLHA - Que tipo de ação o sr. propôs e enfrentou resistência?
FURUKAWA - O motivo dessa crise toda que São Paulo viveu foi a transferência de cerca de 800 presos pertencentes à cúpula do PCC. Ela foi feita numa quinta, e as rebeliões começaram na sexta. Tinha sido apresentado um extenso programa de ação conjunta com a Secretaria da Segurança Pública. Todos os presos que foram transferidos seriam investigados e também todos os advogados. A transferência se deu no dia 12, e, até a minha saída, no dia 26, nenhuma investigação foi iniciada. Num assunto como esse não se pode perder tempo.

FOLHA - O Saulo diz que foi criado um "monstrengo" nos presídios.
FURUKAWA - Não é verdade. Ele, ao dizer isso, não está criticando o Nagashi, mas o governo de São Paulo. Nunca o secretário disse ao governador [Geraldo] Alckmin que o sistema prisional era um equívoco. Seria absurdo se ele achasse isso e tivesse se omitido por tanto tempo.

FOLHA - O que o sr. acha do novo secretário da Administração Penitenciária, Antônio Ferreira Pinto?
FURUKAWA - Ele tem toda a fama de um homem correto, honesto, duro nas suas ações, e espero que tenha êxito. Só que é preciso analisar historicamente. Ele foi secretário-adjunto de 1993 a meados de 1995, e foi nesse período que nasceu o PCC, foi nesse período que aconteceram rebeliões sangrentas em São Paulo.

FOLHA - O sr. conversou com Alckmin sobre a crise atual?
FURUKAWA - Conversei. Disse do meu desconforto, disse que, quando ele estava à frente do governo, jamais essas coisas teriam sido encaminhadas dessa maneira. Ele sabia governar, sabia ouvir o Saulo, sabia me ouvir e sabia conduzir as decisões de um jeito melhor. Agora nada disso aconteceu. Não houve, após essa crise toda, nenhuma reunião presidida pelo governador Lembo chamando o Saulo e me chamando.

FOLHA - O PCC não se articulou na gestão do Lembo.
FURUKAWA - Mas, quando havia uma postura divergente como essa, de precisar continuar as investigações e elas não serem feitas, com certeza Alckmin teria determinado que fizesse.

FOLHA - O sr. passou essa mensagem ao governador Lembo?
FURUKAWA - Falei pessoalmente com ele.

FOLHA - Antes da demissão?
FURUKAWA - Sim. Ele disse que iria verificar, mas ação concreta eu não assisti a nenhuma.

FOLHA - Que impacto na campanha do Alckmin o sr. acredita que essa crise da segurança vai ter?
FURUKAWA - Não sei fazer essa avaliação. Mas a grande verdade é que essa crise aconteceu porque o governo Alckmin, lá atrás, em 2001, não fez acordo com a organização criminosa. Se eu quisesse passar os sete últimos meses do governo sem que acontecesse nada, era só eu ter feito concessões ilegítimas.

FOLHA - Houve gente que já defendeu "concessões ilegítimas"?
FURUKAWA - Na reunião que foi realizada na sexta-feira à noite para sábado [quando começaram os ataques], toda a cúpula da Secretaria da Segurança queria que fizesse acordo com as pessoas [do PCC] que tinham sido transferidas. Queria que autorizasse a visita imediatamente, no dia seguinte, aos presos que estavam lá, quando, pelo regimento interno, o preso, quando transferido, fica dez dias em observação e outros 20 dias sem direito a visita.

FOLHA - Essa é uma das concessões ilegítimas que o sr. acha...
FURUKAWA - Que eu não aceitei e que acabou não acontecendo.

FOLHA - Quem representava a Secretaria da Segurança na reunião?
FURUKAWA - Estavam o Saulo, o secretário-adjunto, Marcelo [Martins de Oliveira], e a cúpula das polícias. O argumento é que era preferível recuar um passo naquele instante para avançar cinco depois. Pediam também que os advogados tivessem imediato acesso às prisões. É ilegítimo porque a gente sabe que nenhum preso que estava lá tinha qualquer ato processual a acontecer naqueles dias que exigisse a presença imediata dos advogados.

FOLHA - O sr. se imagina, num eventual futuro governo do Alckmin, trabalhando ao lado do Saulo?
FURUKAWA - Quando há direção, quando há comando, não existe muito problema de divergência dos componentes da equipe. O comandante sabe aparar as arestas e sabe conduzir. Quando falta esse comando é que surgem os problemas.

FOLHA - É isso que ocorre hoje?
FURUKAWA - Exatamente.

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