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25/06/2006 - 10h48

São Paulo paga o 2º pior salário para delegado

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LUÍSA BRITO
da Folha de S.Paulo

O Estado de São Paulo paga o segundo menor salário do país para um delegado em início de carreira. Apesar de ser a maior economia do Brasil, o Estado fica à frente apenas da Paraíba no valor da remuneração.

Para se ter uma idéia, o Orçamento paulista para este ano é de R$ 81,292 bilhões. Já o da Paraíba é de R$ 3,987 bilhões.

Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado, o salário inicial bruto paulista é de R$ 3.000 para um delegado que trabalha em um município com menos de 50 mil habitantes. A Paraíba paga R$ 2.865,80 em todas as cidades.

Em cidades com mais de 500 mil moradores, o salário é de R$ 3.483,35. O valor é inferior ao que ganha um agente de terceira classe (a mais baixa) do Distrito Federal, R$ 5.062,17.

A Folha fez um levantamento do salário inicial dos delegados em todos os Estados. O maior é o de Mato Grosso, R$ 8.552,32. Segundo a associação de delegados de polícia do Estado, o salário é melhor porque eles conseguiram equiparação com os procuradores estaduais.

A função atrai pessoas de todo o país. "No último concurso para delegado, mais da metade dos inscritos era de outros Estados", disse o presidente da associação, Nilton Teixeira, ex-investigador em São Paulo.

Progressão salarial

De acordo com o governo paulista, o delegado fica três anos ganhando o salário inicial e depois passa para outra faixa.

Atualmente, há 3.239 delegados no Estado --153 recebem o vencimento inicial. De acordo com a secretaria, a progressão é feita somente quando há vagas. Metade das vagas é preenchida por merecimento, e a outra parte, por antigüidade.

Segundo a Adpesp (associação dos delegados do Estado de São Paulo), não há um plano de carreira estabelecido e um delegado pode ficar até 16 anos na quarta classe (uma após a inicial, a segunda mais baixa).

Uma tabela feita pela Adpesp mostra que um delegado de classe especial, a mais alta, com 40 anos de carreira, ganha cerca de R$ 7.600 brutos, menos do que o salário inicial em Mato Grosso e o pago pelo Distrito Federal, que é de R$ 8.355,42.

Em São Paulo, o piso da classe especial é de R$ 5.885,81. A esse valor, diz o governo, não está somada a gratificação do qüinqüênio, que eles recebem a cada cinco anos de serviço.

Segundo o presidente da Adpesp, André Di Rissio, um baixo salário dá margem à corrupção e provoca evasão de pessoal. "É incompatível com a atividade de um delegado. Faz mal para a auto-estima e prejudica a população. Se continuar assim, os novos delegados que procurarem a carreira ou entrarão mal-intencionados ou terão que se manterem por si só."

De acordo com Di Rissio, muitos largam a profissão, fazem outros concursos ou vão ser policiais fora do Estado.

Foi o caso do delegado Mário Henrique Jorge, 34. Paulista de Presidente Prudente, ele passou menos de um ano como delegado em São Paulo e resolveu fazer concurso no Distrito Federal. Há sete anos, trabalha lá e ganha quase o triplo do que receberia no Estado. "Saí de São Paulo por questão salarial e de condições de trabalho", diz.

Um delegado da capital --ele não quer se identificar--, há dez anos na polícia, ainda está na chamada quarta classe e ganha cerca de R$ 500 acima do salário inicial. Há oito anos, ele dá aulas para aumentar a renda. "Ganho mais na faculdade, mas não deixo a polícia porque amo o que faço", diz.

Estímulo à corrupção

Baixo salário pode gerar corrupção e provocar evasão, dizem especialistas em segurança pública. "Há o perigo de as pessoas deixarem de fazer seu serviço em troca de dinheiro ou favor", afirma o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública.

Segundo o professor Claudio Beato, coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais, delegados acabam procurando uma segunda atividade para complementar a renda. "Dão consultoria em segurança privada, se tornam comerciantes. Isso desprofissionaliza."

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