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02/07/2006 - 09h47

PCC conquista favela com leite e comida

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KLEBER TOMAZ
da Folha de S.Paulo

Em um cenário desenhado por morros tomados por barracos, lixo, esgoto a céu aberto e onde carteiros, lixeiros e serviços sociais não chegam, a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) montou, com o apoio dos moradores, uma de suas bases de venda de droga em São Paulo.

Em troca, criou uma espécie de programa assistencial, batizado de Ajuda da Correria para o Social, que distribui leite, gás e cestas básicas a 200 famílias cadastradas. "Correria" significa crime na linguagem das ruas.

Com o conhecimento de parte das cerca de 36 mil pessoas que moram na favela Pedra sobre Pedra, em Cidade Júlia, zona sul paulistana, a venda e o preparo da droga --maconha e cocaína-- são feitos à luz do dia. Mas os traficantes são apenas alguns dos soldados da facção. Recebem ordens de dois presos, que comandam até a distribuição dos alimentos na favela.
"Para vocês da cidade o PCC traz medo, para nós da favela traz leite", afirma a empregada doméstica Lúcia, 19, uma das cadastradas no "programa". Por segurança, a Folha usa nomes fictícios para preservar a identidade dos moradores.

"O partido [PCC] ajuda mais a gente do que o governo. Minha mulher está desempregada. Tem de ir à cidade, pegar ônibus e passar por um bando de burocracia para ser cadastrada em um programa social. Aqui é tudo rápido", afirma o marceneiro João, 27.

O PCC distribui, por semana, 150 sacos de dois quilos de leite em pó, cem litros de sopa e até 60 botijões de gás de cozinha. O "programa" também inclui remédios e enxoval de bebê, que são distribuídos até mesmo a quem não é cadastrado. Favorece principalmente 97 famílias de uma área de risco, na parte baixa da favela.

Os alimentos são comprados com o dinheiro da venda das drogas ou cedidos por comerciantes por ordem da facção.

"Eu jamais vou falar mal deles [dos membros do PCC] ou dedurá-los à polícia. Não me fazem mal. Um dia meu menino teve febre alta e eu estava sem dinheiro para comprar remédio. Expliquei o que houve a um funcionário do partido, que depois voltou com o dinheiro na mão e fui à farmácia", diz Bruna, 30, mãe de duas crianças e já grávida de outra.

Outras favelas também estariam sendo favorecidas pelos criminosos da facção, responsável pela pior onda de violência no Estado, em maio deste ano, quando mais de 40 agentes de segurança foram assassinados. A polícia de São Paulo diz que investigará a ocorrência do assistencialismo.

De acordo com uma liderança comunitária, o único programa social do Estado que chega à favela é o Viva Leite, para 200 famílias. O local tem só uma escola e um posto de saúde.

"Se você está com a panela vazia, ele [o PCC] dá comida. O PCC vê nosso lado da favela", fala o traficante Cláudio, 32, que recebe ordens de membros da facção de dentro das cadeias para distribuir os alimentos.

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