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19/07/2006 - 09h22

Julgamento do caso Richthofen chega ao terceiro dia em São Paulo

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da Folha Online

O julgamento do caso Richthofen entra no terceiro dia, nesta quarta-feira, em São Paulo. A expectativa é pela realização de uma acareação entre os réus --os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos e Suzane von Richthofen, filha das vítimas.

Na terça-feira (18), a defesa dos irmãos e o Ministério Público manifestaram interesse em colocar Daniel e Suzane frente a frente, para esclarecer pontos conflitantes apresentados durante os interrogatórios ocorridos no primeiro dia do júri --e que contrariaram depoimentos prestados na fase policial e judicial.

O juiz Alberto Anderson Filho, do 1º Tribunal do Júri, decidiu fazer a acareação após os depoimentos das testemunhas do processo. Sete delas foram ouvidas ontem. Outras oito devem depor hoje --uma outra teria sido dispensada.

O promotor Nadir de Campos Júnior disse que o Ministério Público irá avaliar, após os depoimentos, se há necessidade de fazer a acareação.
André Porto/Folha Imagem
Suzane deixa carceragem do 89 DP, onde passou a noite, e segue para julgamento
Suzane deixa carceragem do 89 DP, onde passou a noite, e segue para julgamento


Como os réus, ao contrário das testemunhas, não têm o compromisso de dizer a verdade em seus depoimentos, Nadir disse que Cristian poderá repensar a versão de que apenas seu irmão, Daniel, golpeou Manfred e Marísia. Pela manhã, Nadir havia julgado que Cristian poderia receber uma pena mais severa que Daniel e Suzane porque havia abdicado dos benefícios trazidos pela confissão.

Depoimentos

Para o promotor, a situação dos três réus "se complicou" com os depoimentos desta terça. Ele disse que, agora, os três deverão brigar para determinar quem teve a idéia de matar o casal.

O universitário Andreas von Richthofen, 19, irmão de Suzane, foi o primeiro a ser ouvido. Ele deu declarações fortes contra o caráter da irmã, apontou os irmãos Cravinhos como responsáveis por introduzir a jovem e ele no consumo de maconha e discutiu com um dos advogados da jovem.

Durante seu relato, Andreas deu informações incompatíveis com as versões apresentadas tanto pela irmã quanto pelos Cravinhos no primeiro dia do júri.

Ele disse acreditar que a irmã nunca esteve realmente disposta a abrir mão dos bens da família --avaliados em R$ 2 milhões-- em favor dele, ao contrário do que ela havia afirmado; disse não acreditar que Suzane tenha se arrependido de ter participado da morte dos pais; e afirmou ainda que sentiu-se inclinado a registrar um boletim de ocorrência contra ela, para evitar sua presença.

"Dizem por aí que ela é psicopata. Eu não sei, mas de uma pessoa assim a gente pode esperar qualquer coisa."

Em abril último, Suzane --que estava em liberdade provisória-- voltou a ser presa sob o argumento de que ameaçava a vida do irmão, devido à briga pela herança.

O depoimento de Andreas concordou com o de Suzane, porém, na descrição do ambiente familiar. Ele negou que qualquer um dos dois tenha sofrido agressões ou abusos sexuais e disse que se lembrava de apenas uma ocasião na qual o pai havia batido na irmã. Em seu interrogatório, Daniel Cravinhos tentou desmoralizar a família Richthofen dizendo que ouvira de Suzane relatos dos abusos.

O irmão caçula de Suzane aproveitou o depoimento para declarar que, ao contrário do que havia sido veiculado após o crime, ele não perdoou a irmã. Disse ainda que foi coagido por ela a escrever, à mão, um bilhete no qual dizia tê-la perdoado e acusava um tio de proibir visitas.

Andreas, que esteve tranqüilo durante os interrogatórios feitos pelo juiz e pelo Ministério Público, tratou um dos advogados de sua irmã, Mauro Octávio Nacif, de forma até agressiva. "Meu pai era um homem muito mais digno do que muita gente aqui", disse.

Testemunhas

Quanto às declarações de Daniel e Cristian, a maior inconsistência foi apontada durante os depoimentos da delegada da Polícia Civil Cíntia Tucunduva Gomes e da perita criminal Jane Belucci.

Quando foram interrogados, os dois disseram que, ao contrário do que haviam declarado durante o inquérito policial, apenas Daniel havia golpeado o casal. Inicialmente, os dois afirmavam que cada um havia agredido uma vítima.

Entretanto, segundo as duas testemunhas --convocadas pelo Ministério Público--, seria impossível que Manfred fosse golpeado sem que Marísia tivesse esboçado uma reação. As duas também concordaram em dizer que as vítimas haviam sido golpeadas mais de uma vez.

Foram ouvidas ainda o policial militar Alexandre Boto, que disse ter "estranhado" a atitude de Suzane no momento em que chegou à casa dos Richthofen para ver o que havia ocorrido.

Pela defesa de Cristian Cravinhos, foram ouvidos Fábio de Oliveira, que atestou o bom comportamento dos irmãos enquanto estiveram sob os cuidados dele em uma penitenciária; Hélio Artesi, pai de uma ex-namorada, que o classificou como "prestativo"; e Ivone Wagner, que criticou as atitudes de Suzane quanto à mãe, dizendo que ela a tratava mal.

Júri

O júri do caso Richthofen é considerado o mais esperado do ano em São Paulo. Manfred e Marísia foram assassinados com golpes de barra de ferro em 30 de outubro de 2002, enquanto dormiam.

Suzane e os irmãos Cravinhos foram denunciados (acusados formalmente) por duplo homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima; e fraude processual, por terem alterado a cena do crime.

Em junho, a sessão foi adiada depois que os advogados de Suzane abandonaram o plenário, antes da instauração do júri, em protesto contra a decisão do juiz que presidia a sessão, Alberto Anderson Filho, de ignorar a ausência de uma testemunha da defesa e prosseguir com os trabalhos.

Já os advogados dos irmãos Cravinhos sequer compareceram ao tribunal. Eles alegaram cerceamento da defesa, pois não haviam conseguido encontrar-se com os clientes na semana anterior à data.

Para a Promotoria, os três cometeram o crime para ficar com o patrimônio da família Richthofen. A acusação deve pedir penas idênticas para os réus, que podem chegar a 50 anos. No Brasil, o condenado fica preso por, no máximo, 30 anos.

Colabororaram GABRIELA MANZINI e TATHIANA BARBAR, da Folha Online e LÍVIA MARRA, editora de Cotidiano da Folha Online

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