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05/10/2006 - 09h40

Pilotos negam ter desligado equipamento do Legacy

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ELIANE CANTANHÊDE
Colunista da Folha de S.Paulo

Os pilotos do Legacy que derrubou o Boeing da Gol em colisão, Joseph Lepore e Jan Paladino, estão irritados com o noticiário brasileiro e têm dito a interlocutores brasileiros, aos berros, que em nenhum momento apertaram qualquer botão ou tomaram qualquer iniciativa que pudesse desligar o transponder do avião.

O transponder é um equipamento que transmite dados do avião para o controle de vôo, inclusive para o sistema anticolisão, e estava inoperante --desligado ou com falha-- no percurso entre Brasília e o local do acidente, na serra do Cachimbo (MT).

Caso contrário, teria alertado os pilotos e, mesmo que eles não agissem, os sistemas de segurança dos dois aviões seriam acionados automaticamente para evitar o choque --que matou 154 pessoas, entre tripulantes e passageiros do Boeing.

Há duas possibilidades para o transponder estar desligado: ou foi desligado propositalmente ou teve problemas --um mau contato, por exemplo, como especulam autoridades aeronáuticas. Nenhuma dessas hipóteses está confirmada.

Os dois pilotos também fazem pesadas reclamações sobre as condições de vôo, especialmente de comunicação, na região da serra do Cachimbo. Dizem que houve sucessivas tentativas de contato com os radares de controle aéreo, sem sucesso. Não especificaram se foram antes ou após o acidente.

Efetivamente, a comunicação na região é muito fraca. As duas freqüências em operação pelo controle em Brasília não funcionaram --os operadores, após não notificar o Legacy sobre seu nível de vôo, que deveria ter sido reduzido de 37 mil pés para 36 mil pés após passar pela capital, tentaram sem sucesso falar com o jato.

Lepore e Paladino já deram três depoimentos, um à Polícia Civil de Mato Grosso, outro a oficiais da Base Aérea da serra do Cachimbo e o terceiro a especialistas em acidentes aeronáuticos da Base Aérea do Galeão, no Rio. Não podem deixar o país e estão sendo ameaçados, inclusive, de prisão caso se configure culpa pelo desastre.

A empresa norte-americana ExcelAire, que comprou o Legacy, teme virar "bode expiatório" e decidiu sair da defensiva e partir para a ofensiva, contratando o escritório do advogado José Carlos Dias e a agência de comunicação Burson-Marsteller, representada no Brasil por Francisco de Carvalho.

Dias foi ministro da Justiça (7/1999 a 4/2000) na gestão FHC e ontem falou ao telefone com o atual ministro, Márcio Thomaz Bastos, e com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para tentar amenizar o clima contra os clientes e colocá-los à disposição "para qualquer esclarecimento". Velho amigo de Thomaz Bastos, o ex-ministro disse que os pilotos estão no Rio e se prontificaram a responder quantas forem as dúvidas.

O temor dos dirigentes da empresa americana é que se feche uma espécie de cerco contra os pilotos, sem que tenham canais para se defender, tanto na Justiça quanto na polícia e na própria imprensa --que tem afunilado as suspeitas de culpa do acidente para o Legacy.

As grandes dúvidas que se cristalizaram desde o acidente são: 1) por que o transponder do Legacy estava desligado; 2) por que foi religado na hora do choque com o outro avião; 3) por que os pilotos não seguiram o plano de vôo, que previa uma mudança de altitude de 37 mil pés para 36 mil pés a partir de Brasília; 4) por que falhou a comunicação entre o Legacy e o Cindacta-1 (o centro de controle de Brasília).

Os dois pilotos sobreviventes são peças-chave para responder a essas dúvidas, que deverão ser esclarecidas com maior precisão com a abertura das caixas-pretas dos dois aviões.

Especial
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