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05/10/2006 - 21h39

Investigação sobre acidente aéreo inclui suspeita de falha humana

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LÍVIA MARRA
Editora de Cotidiano da Folha Online

As investigações sobre o maior acidente aéreo do país incluem a suspeita de falha humana e de pane em equipamento do jato Legacy que colidiu com o Boeing da Gol durante o vôo. Sete dias após a queda do avião comercial em Mato Grosso, muitas perguntas permanecem sem respostas. Os 154 ocupantes do vôo 1907 da Gol morreram.

As suspeitas apontam cada vez mais para falha humana --supostamente por erro na operação da aeronave, pelo fato de os pilotos não seguirem corretamente o plano de vôo ou problemas com controladores de tráfego aéreo. O Legacy viajava a 37 mil pés (cerca de 11,2 km), na contramão da rota do Boeing. O plano de vôo indicaria que o jato deveria mudar de altitude após passar por Brasília, o que não ocorreu.

Uma das hipóteses que ganha força é a de que o Legacy estivesse com o transponder desligado. O equipamento transmite dados do avião para outras aeronaves e para o centro de controle.

Por essa faixa são enviados os dados do sistema anticolisão do avião, o chamado TCAS. Sem o transponder, o controlador de tráfego aéreo não consegue identificar a aeronave com exatidão. O Legacy tem dois sistema de transponders, o que enfraquece a possibilidade de pane, segundo apurou a reportagem.

Após o acidente, os pilotos do jato --Joseph Lepore e Jan Paladino-- disseram que todos os equipamentos funcionavam perfeitamente durante o vôo e também após o pouso. Eles negaram que tenham desligado o equipamento. Com isso, a possibilidade de falha nos equipamentos também deverá ser apurada.
Eraldo Peres/AP
Militares resgatam corpos em área onde caiu o Boeing da Gol, em MT, e preparam traslado
Militares resgatam corpos em área onde caiu o Boeing da Gol, em MT, e preparam traslado


Uma especulação é que o piloto poderia ter desligado o transponder para fazer manobras com o avião sem alertar o controle aéreo, com o objetivo de apresentar a aeronave aos novos donos. Os pilotos negam.

O "quebra cabeça" só deverá ser solucionado com a análise das caixas-pretas dos dois aviões e o cruzamento dos dados. Militares ainda procuram parte de uma das caixas pretas do Boeing. Na última segunda-feira, a caixa-preta que guarda os dados sonoros do vôo foi localizada em bom estado. Já a outra, que mantém dados específicos do vôo --como altitude e velocidade--, foi encontrada amassada e sem um pedaço --uma espécie de cilindro central também responsável pelo armazenamento de informações do vôo 1907.

Em meio às investigações, dúvidas ainda não foram respondidas, como por exemplo, por que o Boeing não foi alertado pelo controle aéreo para evitar a colisão e o que aconteceu com as freqüências de rádio.

Em nota divulgada nesta quinta-feira, a americana ExcelAire, proprietária do Legacy, disse acreditar que a conclusão das investigações sobre a colisão "demonstrará a falsidade dos rumores e especulações contra seus pilotos".

Após colidir com o Boeing, o jato Legacy conseguiu pousar na base aérea do Cachimbo, apesar de sofrer danos na asa. O avião da Gol caiu em uma área de mata fechada em Mato Grosso, causando a morte dos 154 ocupantes.

Acidente

Reportagem publicada na última terça mostra que o plano de vôo do Legacy deveria ter baixado para 36 mil pés e seguir para Manaus. Não foi o que ocorreu.

O Legacy desapareceu do radar cerca de dez minutos depois de passar por Brasília. Ao perceber que o radar não indicava com exatidão a localização do jato, controladores tentaram entrar em contato com a aeronave por cinco vezes, mas não tiveram resposta. As suspeitas são de falha na freqüência de comunicação ou que o Legacy tenha abaixado o volume do rádio.

Passaportes

Por serem testemunhas-chave do caso, os dois pilotos do Legacy tiveram seus passaportes apreendidos pela PF (Polícia Federal) e estão impedidos de deixar o Brasil. A medida repercutiu negativamente entre os americanos e, na quarta-feira (4), o repórter do "New York Times" Joe Sharkey, que estava a bordo do Legacy no momento da colisão, chegou a afirmar em entrevista à rede CNN que considera o controle de tráfego aéreo brasileiro "péssimo".

A Polícia Federal de Cuiabá (MT), que assim como a Polícia Civil abriu inquérito para investigar o acidente, vai pedir novamente a retenção dos passaportes, desta vez à Justiça Federal.

Segundo a PF, a retenção dos passaportes foi autorizada com base em um inquérito da Polícia Civil, e autorizada pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Para continuar tendo validade, a retenção teria que ser validada também pela Justiça Federal, a nova jurisdição do caso.

ExcelAire

Por meio de sua mensagem à imprensa, a ExcelAire, proprietária do Legacy, afirmou confiar "na competência de todas as autoridades envolvidas na apuração da causa do acidente". Conforme as leis aeronáuticas internacionais, uma comissão de representantes de órgãos americanos do setor acompanha a apuração feita pelas autoridades brasileiras.

Em seu primeiro posicionamento público, a empresa, além de isentar seus funcionários, ressalta que estão sendo avaliados o "monitoramento do tráfego aéreo, sistemas de comunicação e funcionamento dos equipamentos das duas aeronaves e responsabilidade das torres de controle envolvidas". "Nesse momento qualquer especulação sobre causas e responsabilidades é prematura", afirma a nota.

Mortos

Um erro na formulação da lista de passageiros que estavam a bordo do vôo 1907 da Gol incluiu um nome não-existente, informou a empresa aérea. Com isso, caiu de 155 para 154 o número de ocupantes da aeronave mortos no acidente.

Os corpos resgatados são levados para o IML (Instituto Médico Legal) de Brasília. Nesta quinta, foram identificados 9 dos 18 corpos que chegaram ao instituto entre a última terça e quarta-feira.

Foram identificados os corpos de Atila Rezende, Antonio Gregório da Costa Pessoa, Elcio Anchieta, Francisco Chagas Loiola, José Trindade, Lavousier de Souza Maia, Luiz Albano Custódio, Mário André Leite Lleras e Plínio Luiz de Siqueira Jr. Impressões digitais e informações fornecidas pelos parentes auxiliam os trabalhos.

Colaboraram GABRIELA MANZINI e RENATO SANTIAGO, da Folha Online

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